Tite já está pronto para mimar e seguir 'estragando' a carreira de Neymar. Seleção virou refúgio para os fracassos no PSG
O treinador faz de conta que não enxerga a decadência de Neymar. Não age profissionalmente. Não o cobra, não o motiva. Apenas acolhe como se fosse um menino e não um homem de 30 anos. Só sabotam a seleção
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Por que tirá-los?"
"Com seu talento, eles podem ser decisivos a qualquer momento."
As frases de Mauricio Pochettino foram relembradas pelo jornal L' Equipe, após a humilhante derrota do PSG para o Monaco, por 3 a 0, no Campeonato Francês, no sábado.
O questionamento se referia à substituição de Neymar. O brasileiro deixou o campo aos 31 do segundo tempo.
Ele já havia tomado cartão amarelo, estava mal, apático e irritadiço. Deu uma entrada dura no meio-campista Youssouf Fofana. E estava distribuindo pontapés. Saiu para não ser expulso.
Ao ver que seria substituído, Neymar começou a andar lentamente, tenso, irritado.
As vaias da torcida rival não eram mais de respeito ao craque do oponente.
Mas pela assustadora decadência do jogador de 30 anos.
Ele encarna o fracasso na bilionária aposta da família real catariana na formação de um time capaz de entrar na história e vencer a Champions League. O clube gastou, em valores atuais, R$ 1,2 bilhão, 222 milhões de euros, para ter o brasileiro, em 2017.
Cinco fracassos seguidos na Champions, expulsões, suspensões, farras e festas, desprezo da própria torcida e da imprensa de Paris, e Neymar é avaliado no Transfermakt, um dos sites mais respeitados em relação ao mercado de atletas, em 90 milhões de euros. Ou seja, no mínimo, seu valor caiu mais do que a metade.
Em sete jogos disputados neste ano, ele marcou apenas dois gols.
É o pior início de ano desde que Neymar começou a jogar profissionalmente, em 2009.
O colega Rodolfo Rodrigues fez questão de fazer o levantamento. E o brasileiro também tem sua pior temporada desde que chegou, em 2013, à Europa.
Neymar foi escolhido como o terceiro melhor do mundo em 2015 e 2017. A expectativa era que logo assumiria o posto. Só que, em vez de se motivar, ele se acomodou. E passou a usufruir como nunca o status de jogador midiático. E acumulou farras e festas. Mesmo em período de recuperação de fraturas. Além de escândalos sexuais como com a modelo Najila Trindade e a sua saída da Nike, com denúncia de assédio a uma funcionária.
De candidato natural a melhor do mundo, já que era o protagonista do caríssimo time do PSG, montado ao seu feitio para que brilhasse, Neymar segue em derrocada.
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Teve de se submeter, aplaudir Messi e Cristiano Ronaldo, jogadores fenomenais que conseguiram ter carreira no auge mais do que quaisquer outros. Por isso o português tem cinco Bolas de Ouro. E o argentino, sete.
Em vez de focar a carreira, Neymar seguiu sua receita, com a benevolência do pai/empresário. Na hora de treinar, treinar. Na hora de jogar, jogar. Mas na hora de farrear, ir além do que qualquer atleta. Explorando as possibilidades de sua fortuna quase bilionária.
Mas o desgaste veio. O técnico alemão Thomas Tuchel foi o primeiro a perceber. Tite imitou o ex-treinador do PSG. E, agora, Mauricio Pochettino segue o mesmo caminho.
Todos perceberam que Neymar não tem mais a mesma explosão muscular para arrancadas, dribles maravilhosos em direção ao gol, muito menos a velocidade extraordinária.
As farras e festas cobram do jogador de 30 anos.
E trataram de fazer com que ele atuasse como um meia armador, sem nenhuma responsabilidade de marcação, apenas de articulação. Com a liberdade de, quando quisesse, tentar driblar, arrancar, que ficasse à vontade.
Neymar deixou de ser o terceiro do mundo de forma efetiva.
Vale a pena destacar sua decadência na votação da Fifa.
Lembrando que quem tem direito a votar são os capitães e técnicos das seleções. E um jornalista de cada país.
Esses foram os votos de Neymar para melhor do mundo.
A maneira com que foi perdendo a preferência é assustadora.
2011
10º lugar (com Bola de Ouro) - 2 votos
Capitães: Nahayo (Burundi)
Jornalistas: Ung Chamroeun (Camboja)
2012
13º ( Bola de Ouro)
Nenhum voto em primeiro
2013
5º lugar ( Bola de Ouro) - 12 votos
Capitães: Adi Said (Brunei), Jang Song Hyok (Coreia do Norte), Emelio Caligdong (Filipinas), Henry Farodo Junior (Ilhas Salomão) e Robert Yelou (Vanuatu)
Técnicos: Kwon Oh Son (Brunei), Marcos Tinoco (Ilhas Cayman), Ronnie Gustarve (Dominica), Jacob Moli (Ilhas Salomão) e Percy Avock (Vanuatu)
Jornalistas: Michael Seium (Eritreia) e Kenneth Dlamini (Suazilândia)
2014
7º lugar (Bola de Ouro) - 6 votos
Capitães: Luvu Rafe Talalelei (Samoa Americana)
Técnicos: Aliva Uinifareti (Samoa Americana), Jean Nesley (Bahamas), Dunga (Brasil) e Bin Haji Ali Dayem (Brunei)
Jornalistas: Rabary Clément (Madagascar)
2015
3º lugar (Bola de Ouro) - 15 votos
Capitães: Ramin Ott (Samoa Americana), Bryan Ruiz (Costa Rica), Walter Ayoví (Equador), Phil Younghusband (Filipinas), Henry Faarodo (Ilhas Salomão) e Rainford Kalaba (Zâmbia)
Técnicos: Dunga (Brasil), Patrick Kluivert (Curaçao), Abraham Grant (Gana), Jorge Luis Pinto (Honduras), Thierry Sardo (Nova Caledônia) e George Lwandamina (Zâmbia)
Jornalistas: Rasim Movsumov (Azerbaijão), Faizoo Deo (Ilhas Turcas e Caicos) e Igor Linnyk (Ucrânia)
2016
4º lugar (The Best) - 9 votos
Capitães: Pierre-Emerick Aubameyang (Gabão), Ramin Ott (Samoa Americana) e Paulo Cheang Cheng Ieong (Macau)
Técnicos: Artur Petrosyan (Armênia), Andrew Bascome (Bermuda), Abraham Grant (Gana), Hervé Renard (Marrocos)
Jornalistas: Randy Smith (Bahamas) e Faizool Deo (Ilhas Turcas e Caicos)
2017
3º lugar (The Best) - 15 votos
Capitães: Ildefons Lima Sola (Andorra), Daniel Alves (Brasil), Walter Ayoví (Equador), Balazs Dzsudzsak (Hungria) Randy Poleon (Santa Lúcia) Mbwana Samatta (Tanzânia)
Treinadores: Lucas Alcaraz Gonzales (Argélia), Marcos Falopa (Ilhas Virgens), Leonardo Vitorino (Camboja), Theodore Whitmore (Jamaica), Nicolas Dupuis (Madagascar) e Joaquim Francisco Filho (Ilhas Mauricio)
Jornalistas: Mohammed Kenadid (Djibouti), Michael Seium (Eritreia) e Crofton Utukana (Ilha Salomão)
2018
Fora do Top 10 (The Best)
2019
Fora do Top 10 (The Best)
2020
9º lugar (The Best) - 7 votos
Capitães: Thiago Silva (Brasil), Jong Ilgwan (Coreia do Norte), Lionel Messi (Argentina) e Gustavo Gómez (Paraguai)
Técnicos: Tite (Brasil), Charles Akunnor (Gana) e Márcio Maximo Barcellos (Guiana)
2021
10º lugar (The Best) - 3 votos
Capitães: Thiago Silva (Brasil) e Lionel Messi (Argentina)
Técnicos: Selvaraj Vengadasalam (Laos)
Sim, votos de dois amigos, Thiago Silva e Messi. E do treinador do Laos.
Nem Tite teve a coragem de votar nele.
Na classificação geral do ano passado, a diferença fica ainda mais gritante.
1º – Robert Lewandowski (Bayern Munique), 48 pontos, 2º – Lionel Messi (Barcelona e PSG), 44 pontos, 3º – Mohamed Salah (Liverpool), 39 pontos, 4º – Karim Benzema (Real Madrid), 30 pontos, 5º – N’Golo Kanté (Chelsea), 24 pontos, 6º – Jorginho (Chelsea), 24 pontos, 7º – Cristiano Ronaldo (Juventus e Man. United), 23 pontos, 8º – Kylian Mbappé (PSG), 16 pontos, 9º – Kevin De Bruyne (Man. City), 11 pontos,10º – Neymar (PSG), 10 pontos.
O PSG vai passar por uma remodelação. Mbappé tem contrato até junho e tem acertada sua ida para o Real Madrid. Di María também já procura outra equipe. Há muita incerteza em relação a Messi.
A direção estuda a sério trocar o comando.
Tirar o treinador Pochettino. E oferecer o cargo a outro argentino, Diego Simeone, para que ele imponha sua maneira muito mais rígida de trabalho. Apesar de ele ter contrato até 2024 com o Atlético de Madrid, se o clube espanhol não for campeão da Champions, a cúpula do PSG está disposta a pagar sua multa rescisória.
O problema em relação a Neymar é a falta de ofertas e o contrato, que foi renovado até 2025. E tem multa altíssima.
A Collectif Ultras Paris, torcida organizada do PSG, faz campanha para a saída do brasileiro, depois da eliminação da Champions League, no dia 9.
Além da Champions, o time perdeu a Supercopa da França, e a Copa da França, em 2021.
E Neymar simboliza essa decadência.
Mesmo com o PSG com 15 pontos de vantagem na liderança do Francês, faltando nove rodadas, contra o Bordeaux e, ontem diante do Monaco, ele foi xingado de 'filho da p...' pelos ultras do PSG. O palavrão é absurdo, mas, de acordo com jornalistas franceses, foi escolhido para atacar, ferir o brasileiro, mas não dá margem para racismo ou xenofobia.
Enquanto Mbappé pede mais profissionalismo aos companheiros e o capitão Marquinhos avisa publicamente que o PSG pode perder o título, Neymar se cala.
Ou melhor, põe mensagens religiosas no Instagram. E aparece jogando basquete com o filho, depois da humilhante derrota contra o Monaco.
Jornalistas franceses, principalmente os de Paris, seguem inconformados com a falta de atitude do brasileiro, que chegou ao PSG para ser o melhor do mundo.
Hoje depende de votos dos amigos Thiago Silva, de Messi e do técnico do Laos para figurar entre os top 10 da Fifa.
Se a eleição fosse hoje, nem mesmo esse trio teria coragem de votar no brasileiro.
Caso o PSG ganhe o Francês, não terá representatividade para resgatar Neymar.
Só uma eventual, e cada vez mais improvável, conquista da Copa do Mundo no Catar, com a seleção brasileira.
E ele seguirá o roteiro desgastado, cada vez mais sem credibilidade.
Quinta-feira, ele estará com a camisa 10 do Brasil, no Maracanã, contra a fraca seleção do Chile. Chance para se esbaldar.
Antes, Tite e os jogadores convocados farão discursos de apoio a Neymar. Vão defendê-lo da terrível e injusta cobrança ao jogador mais caro de todos os tempos. O treinador fará de conta que não percebe quanto ele está decadente.
E não o cobrará. Não percebe quanto faz mal à carreira do seu camisa 10. O tratamento diferenciado prejudica ainda mais o jogador e sabota o clima na seleção. Os demais atletas enxergam o privilégio. Só não reclamam, e nunca reclamarão, publicamente. Porque ninguém ousa questionar Neymar e correr o risco de não ser mais convocado.
Tite acredita que a única chance de ganhar a Copa é com 'Ney', como chama carinhosamente o jogador do PSG.
Se cumprir sua obrigação, e for o melhor em campo contra o Chile, em uma partida com o nível bem abaixo dos eliminatórios da Champions ou da Eurocopa, Neymar deve desabafar, chorar, repetir que se sente perseguido. Jogar contra a imprensa seus seguidores, parças e artistas que querem participar de suas festas intermináveis.
Receberá abraços de Tite e apoio dos dezenas de milhões de adolescentes nas redes sociais.
Ainda terá o lastimável time da Bolívia, se tiver disposição de jogar em La Paz, para repetir a cantilena.
Enquanto a mídia brasileira se ilude, Neymar voltará às cobranças de Paris.
Podendo trocar de time, se surgir um clube que ainda pague 90 milhões de euros por ele.
E, se não acontecer a milagrosa conquista da Copa pelo Brasil, o camisa 10 da seleção, outra vez, aplaudirá outro jogador escolhido como melhor do mundo.
Essa tem sido a triste rotina de Neymar da Silva Santos Júnior.
O pobre bilionário "Menino Ney", de 30 anos...
Jogadores da Premier League são os primeiros a se apresentar à seleção
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