São Paulo, Brasil
Assim que Wilmar Roldán apitou o final do jogo, e o Palmeiras conseguiu a classificação para a final da Libertadores, a segunda nas mãos de Abel Ferreira, em dez meses, chegou a hora de o português expor todo o seu rancor a quem considerou o Atlético Mineiro favorito absoluto.
Principalmente a imprensa paulista.
Ainda no gramado, ele caminhou em direção a uma das câmeras que transmitiam o jogo e começou a gesticular.
Quando foi agarrado por um de seus auxiliares, que sabia da raiva que dominava Abel e achava que ele iria dizer coisas e tomar atitudes que poderiam custar caro.
O treinador estava muito irritado.
Considerava que seu trabalho e time foram desrespeitados.
"Eu tenho dez anos de estudo no futebol. Chamar de arrogante? Eu chamo de trabalho, competência, curiosidade. Sair do CT e ir estudar em casa. Sou muito bom treinador, mas pior pai e pior filho."
Abel Ferreira estava tão revoltado que fez até questão de destacar ser português, europeu.
"Sou português e europeu com orgulho. Temos um dos melhores treinadores do mundo, Mourinho, e um dos melhores do mundo, Ronaldo. O que veem quando olham para o Cristiano? Força mental, disciplina, insaciável em querer ganhar. Mentalidade portuguesa, europeia!"
Desnecessário, mas sua vingança não tinha limite.
Ele aproveitava até as perguntas elogiosas para ironizar. Quando teve de explicar o gesto que fez a seus jogadores, pedindo consciência, concentração, após tomar o gol do Atlético, Abel não perdeu a oportunidade.
"É isso que faz a diferença entre um rato e um homem. É acreditar no trabalho."
Sobre a classificação do Palmeiras, e não a do Atlético Mineiro, para a final, não mediu palavras.
"Passou a equipe mais inteligente, mais organizada — e, na minha opinião, o time está mais uma vez na final com toda a justiça."
Abel Ferreira tem uma verdadeira birra com as críticas que chegam das torcidas organizadas do Palmeiras. Como a da Mancha Verde, logo após o 0 a 0 da semana passada. Quando deixou o gramado, foi direto na maneira como resumiu o jogo.
"[O Palmeiras] É muito grande para jogar como time pequeno."
A resposta do treinador.
"Já convenci os torcedores do Palmeiras de coração. Os por interesse, nunca vou convencer. Nem eu nem treinador nenhum. Dedico a classificação ao verdadeiro palmeirense. Para os que torcem e amam o clube em todos os momentos!"
Indagado sobre o "cale a boca" no final do jogo, o treinador preferiu a ironia.
"Não foi para nenhum jogador do Atlético Mineiro ou seu treinador. Tenho um vizinho que mora no meu prédio que é um chato."
"Foi diretamente para meu vizinho, porque quem manda na minha casa sou eu. Está calado! Quem trabalha dentro do CT sou eu e meus jogadores. Defendo meus jogadores porque são meus nas vitórias e derrotas."
"Ao meu vizinho, 'chiu!'"
"Chiu" é uma onomatopeia, palavra formada pelo som.
"Chiu" é o som de alguém quer que o outro cale a boca.
E o desejo de Abel Ferreira, com o Palmeiras na final da Libertadores, pela segunda vez em dez meses, é um só.
Que "calem a boca"...