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‘Telê só pensou em atacar. E o Paolo Rossi se aproveitou. Tivemos o empate, que nos classificava, três vezes. O Brasil de 1982 só tinha uma maneira de jogar. Atacando.’ Exclusiva com Oscar

A Seleção que encantou o mundo, em 1982, tinha problemas. A eliminação para a Itália não foi por acaso. Explica quem viveu toda a euforia e a frustração. O zagueiro Oscar

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'O Paolo Rossi marcou três gols fáceis. Nosso time foi preparado para atacar. Perdemos.' Oscar Divulgação/CBF

Ele é um dos melhores zagueiros da história do futebol brasileiro.

Se tivesse conseguido os dois títulos que esteve tão perto, teria virado lenda.

A começar pela Copa do Mundo de 1982. Ele era um dos capitães do time. Telê Santana o nomeou ao lado de Sócrates. E Oscar sentia que o time estava ganhando jogos, seduzindo a torcida brasileira. A imprensa nacional foi a primeira a ceder. Depois, a Mundial.

Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico eram as estrelas. Reuniam talento que tornavam encantadora a maneira da Seleção jogar.


Mas havia um detalhe que passava despercebido. Contra a Rússia, Escócia e Argentina, o Brasil sofreu gols. O time atacava, mas dava espaço aos adversários.

“Não era esse time que o Telê preparou. O Paulo Isidoro, que marcava muito, ficou de fora. Entrou o Cerezo. O Telê se empolgou com os elogios do mundo todo. E manteve o Brasil muito ofensivo. Além do meio-campo, nossos laterais atuavam no ataque, Leandro e Júnior. Era assim que ele queria ganhar a Copa do Mundo”, resume Oscar.


Mas chegou o dia 5 de julho de 1982. E a Itália, de Enzo Bearzot, ótimo time, mas que vinha massacrado e rompido com os jornalistas, entrou em campo com a obrigação de vencer. O empate era brasileiro.

“Nós começamos classificados, com o 0 a 0. Eles marcaram 1 a 0. Nós empatamos em 1 a 1. Eles fizeram 2 a 1. Empatamos de novo. 2 a 2. E o Telê pedindo para jogarmos da mesma maneira. Aberto, buscando vencer. Tomamos o 3 a 2. E fomos eliminados. Tivemos três vezes a classificação nas mãos e desperdiçamos.


“Pensando agora, com calma, o Brasil deveria ter um outro plano. Colocar o Dirceu, que marcava muito, corria e era habilidoso, para marcar. O Batista, nosso melhor marcador, estava bem fisicamente. Mas nem no banco ficou. Talvez poupado para uma semifinal que não veio”, resume Oscar.

O zagueiro e capitão desabafa. “Os gols do Paulo Rossi foram muito fáceis. Ele teve todo espaço para correr por onde desejasse. A nossa defesa estava muito aberta. Ele era artilheiro, se aproveitou. Foi um trauma. Que até hoje ninguém esquece essa eliminação. A princípio não tem resposta. A princípio.”

Ele é muito elegante. Sabe mas não fala nem sob tortura. O primeiro gol de Rossi, Luizinho foi encoberto pela bola, mal posicionado. No segundo, Toninho Cerezo errou o passe e serviu o atacante italiano. No terceiro, Junior ficou dentro do gol, sem marcar ninguém, tirando o impedimento de Rossi.

Três falhas infantis brasileiras.

Oscar passou também por outra derrota inesquecível. A final do Paulista de 1977, que o Corinthians ganhou da Ponte Preta, acabando com 23 anos de jejum.

“Nosso time era muito talentoso. E forte. Mas começamos a perder quando as três partidas finais foram para o Morumbi. O que facilitou para o Corinthians. Perdemos o primeiro jogo. Ganhamos o segundo. No terceiro, a expulsão do Rui Rey no começo da partida, por uma discussão com o juiz Dulcídio Vanderlei Boschilia, acabou com a gente.

“Não acho que tenha acontecido nada de errado com o Rui Rey. Ele era muito estourado e gesticulava muito. O Dulcídio estava longe. E pensou que ele o tivesse xingado. E expulsou. Mesmo assim, a Ponte Preta lutou, teve chance. Mas o Corinthians se aproveitou de ter um jogador a mais”, lamenta.

'Ele era meia, muito técnico. Eu e o Dario nos completávamos', admite Oscar Divulgação/Instagram São Paulo

Oscar fez história no São Paulo. Tendo o uruguaio Dario Pereyra ao seu lado.

“Fizemos uma dupla perfeita na zaga. Ele tinha técnica e eu o vigor, a velocidade. Não é por acaso que as pessoas se lembram até hoje. Ficamos para sempre na memória do torcedor.” Dario, que já deu exclusiva ao canal, relembra. “Nosso entrosamento era no olhar. Dois jogadores talentosos, de muita harmonia, amizade e vontade de ganhar. ” Um Brasileiro e quatro Paulistas foram conquistados.

O irônico é que Oscar deveria ter saído da Ponte para o Palmeiras. O clube da capital negociou por dois anos com a equipe campineira. “Vim algumas vezes para São Paulo para fechar contrato. Mas enrolaram e eu fui para o Cosmos.”

Nos Estados Unidos, Oscar se machucou e não pôde mostrar seu talento. E o São Paulo foi resgatá-lo.

Telê Santana via enorme potencial em Oscar como treinador. Líder, sério, com excelente visão de jogo. “Ele me chamou. Virei auxiliar dele, em 1981. Queria que eu o substituísse no São Paulo, quando parasse. Só que ele não parava de ganhar. Eu não esperei. O Muricy foi no meu lugar. E deu no que deu.”

Oscar treinou no Exterior. Nissan, que se tornou o Yokohama Marinos, Al-Hilal e Al-Shabab. ‘Mas no Brasil me desiludi. A cobrança é pesada, desrespeitosa. Não quis seguir com isso." Treinou Inter de Limeira, Guarani.

Mas foi no Cruzeiro, sua maior tristeza. Ficou apenas cinco partidas. “Fui embora porque quis. Assumi correndo e o time tinha de vencer o Grêmio na Libertadores. Não conseguiu. E a cobrança caiu toda em cima de mim. Não poderia sair na rua que era ofensa. Para mim e para a minha família. Por tudo que havia feito no futebol, não quis seguir.”

Oscar foi capitão onde passou. E relembra que o Palmeiras negociou dois anos sua contratação. Até que a direção da Ponte se cansou. E o vendeu para o Cosmos, dos Estados Unidos Divulgação/Instagram São Paulo

Oscar foi visionário e fundou o Brasilis Futebol Clube, equipe formadora de jogadores, em Águas de Lindóia.

Não aparenta, de jeito algum, 71 anos.

É convidado para inúmeros eventos pelo mundo.

O futebol o reverencia, o homenageia.

Sabe que José Oscar Bernardi foi um dos melhores zagueiros da história do futebol brasileiro.

E que mereceria ter vencido a Copa de 1982.

“Aquela derrota não vou esquecer jamais.”

A preciosa entrevista de Oscar está, na íntegra, no Canal do Cosme Rímoli. Em parceria com o R7.

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