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‘Sócrates decidiu morrer bebendo. Pelé estava vetado para a Copa de 1958.’ Entrevista com o biógrafo Tom Cardoso

Sócrates, Chico Buarque, Paulo Machado de Carvalho, Nara Leão, Caetano Veloso, Tarso de Castro, Sérgio Cabral. O escritor Tom Cardoso revela segredos de personalidades do futebol e da vida brasileira

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'A democracia de Chico Buarque acaba no futebol.' Tom Cardoso Reprodução/Instagram

Tom Cardoso, jornalista, escritor, crítico musical.

Ganhador do prêmio Jabuti, categoria reportagem, com o livro O Cofre do Doutor Rui, que mostra, com riqueza de detalhes o assalto ao ex-governador Ademar de Barros, em 1969. Tom é um dos grandes biógrafos deste país. ‘Trocando em Miúdos’ é seu livro mais recente, e expõe o homem Chico Buarque.

“Gosto de ir além do mito, mostrar o ser humano com seus defeitos, virtudes, dúvidas, incoerências. Isso me atrai. Não me deixo levar e nem me trair pela simples idolatria. Levo essa minha inquietude para os livros que escrevo.”

O exemplo que ninguém é perfeito.


‘O Chico Buarque não joga bem e se acha um craque. Quem for fazer um amistoso com o time dele, o Polytheama, no Rio, já sabe. A partida não termina com ele perdendo. O jogo dura o tempo que for, para pelo menos o Polytheama (nome de seu time, que em grego significa ‘grande espetáculo’ empatar. Um dia, quando fez um amistoso no Pacaembu, contra o time de Toquinho, e perdeu, não queria cantar em um show. Para se vingar do Toquinho. A democracia do Chico Buarque termina no futebol.’

“Ninguém Pode com Nara Leão”, conseguiu a redescoberta de um grande ícone da MPB, responsável por fortalecer movimentos fundamentais da música neste país. E que estava relegada a um papel menor.


A esfinge Caetano Veloso teve sua cinematográfica vida exposta. ‘Outras Palavras. Seis Vezes Caetano’, também não se dobra diante da nobreza do personagem. Livro mais que revelador. Notívago, Tom trouxe, com prazer, à vida o genial jornalista que estremeceu as noites no Rio de Janeiro. E abalou a ditadura, criando o Pasquim. Além de provocar inveja com o namoro com Candice Bergen. ‘75 quilos de Músculo e Fúria’ é o livro obrigatório sobre Tarso de Castro. Com coragem, escancarou tudo o que foi capaz de fazer o ex-governador do Rio de Janeiro. E como os bilhões de reais desse país acabam expostos a sagazes aproveitadores. ‘Se Não Fosse o Cabral’, é um livro para se revoltar.

Mas é no futebol, que o escritor mostra personagens imprescindíveis e capazes de mudar o rumo do esporte mais importante do mundo. ‘O Marechal da Vitória’ destrincha como o empresário Paulo Machado de Carvalho assumiu a chefia da delegação que acabou com o complexo de Vira-Lata do futebol brasileiro. Conduzindo a Seleção Brasileira a vencer as Copas de 1958 e 1962. ‘O doutor Paulo enfrentou a todos que não consideravam Pelé pronto para o Mundial da Suécia. E nem acreditavam na inteligência de Garrincha. Fora fazer a Seleção se preparar como deveria. Sua personalidade e carisma fizeram o Brasil parar de acumular fracassos nas Copas. Descobrir o amor próprio.”


Em ‘Sócrates’, Tom traz o retrato mais cru e difícil de aceitar, do jogador que revolucionou o Corinthians, foi um dos pilares da redemocratização do país, lutou pelas eleições diretas, em plena ditadura. Foi a principal peça da Seleção mais injustiçada de todos os tempos, a que perdeu a Copa do Mundo de 1982. “Ele se dedicou como nunca. Não bebeu, se alimentou direito, treinou como jamais fez. Colocou toda a sua esperança e corpo para o Brasil vencer na Espanha. A derrota foi um baque gigantesco. Sócrates nunca mais foi o mesmo.”

Médico, com uma visão humanista da política, da sociedade, capaz de enfrentar o sistema no futebol, que guarda até hoje traços do coronelismo, com a criação da Democracia Corinthiana, teve o seu ponto fraco na bebida. “As histórias são tristes, duras. Sócrates sabia muito bem o quanto o álcool fragilizava seu corpo. Mas foi opção dele beber até morrer. Tinha plena consciência que era alcóolatra. Escolheu morrer bebendo.” Tom revela que a biografia causou rompimento com o jornalista Juca Kfouri.

“Ele ficou muito chateado porque eu escrevi o livro sobre o Sócrates. Ele queria ter escrito e não escreveu. Lamento porque sempre fui amigo do Juca. O Sócrates merece inúmeras biografias. O Juca que faça a dele, quando quiser. A minha eu quis fazer e fiz.” A inquietude da carreira deste jornalista e escritor foi exposta em uma entrevista fundamental para entender períodos importantes do futebol, da música, da vida das sete últimas décadas deste país. Novos livros virão...

A conversa completa com Tom Cardoso está no Canal Cosme Rímoli, em parceria com o R7, no youtube.

Lá há entrevistas exclusivas todas as semanas...


Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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