Santos sabota planejamento de volta da Segunda Divisão. Despreza contrato de Carille com clube japonês. Será processado na Fifa
Devendo R$ 600 milhões, com troca profunda de elenco, montando uma equipe de Segunda Divisão, tudo o que o Santos precisa é de tranquilidade. Mas escolhe tirar Carille de clube japonês sem pagar multa. Será processado
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O Santos deve mais de R$ 600 milhões.
Rebaixado para a Série B, em vez dos R$ 75 milhões, que receberia como clube de Série A, ganhará R$ 11,5 milhões.
Já antecipou, em 2023, na administração Andres Rueda, R$ 30 milhões, da cota do Campeonato Paulista.
Sem saída, teve de vender e emprestar jogadores.
Lucrou R$ 139 milhões.
Mas ficou sem Marcos Leonardo, Soteldo, Dodi, Jean Lucas, Gabriel Pirani, John, Lucas Braga e Lucas Barbosa.
Contratou jogadores 'baratos'. Sem vínculo, veteranos ou promissores.
Montou elenco de Segunda Divisão.
Gil, Giuliano, Aderlan, Hayner, Jorge, Pituca, Casares, Otero, Willian Bigode, Guilherme Augusto, Marcelinho.
Investiu perto de R$ 20 milhões.
E utilizará atletas da base. Que não é tão mais forte como tradicionalmente se mostrava.
A política violenta de contratação de garotos, de clubes economicamente mais fortes, como Palmeiras e Flamengo, tornou mais difícil a peneira santista.
A queda do clube para a Série B inviabilizou a chegada de investimentos 'pesados' de patrocinadores, que preferem equipes da Série A.
O Santos não conseguiu sequer a classificação para a Copa do Brasil. Lógico, está fora da Libertadores, da Copa Sul-Americana. Terá,no máximo, 54 partidas nesta temporada, se chegar à final do Paulista. O número pode ser abaixo de 50, caso não consiga se classificar na fase de grupos do Estadual.
A média de partidas do clube nos dois últimos anos era de 63 jogos.
Além disso, há a previsão que, finalmente comecem as obras para a reforma da Vila Belmiro. De 16.800 lugares, o estádio passaria a 30 mil. Houve uma reunião ontem do presidente Marcelo Teixeira com representantes da WTorre e o pedido é que as obras comecem no dia 14 de abril, aniversário do clube.
O plano é o Santos passar a usar o Pacaembu para mandar suas partidas, até que a reforma termine entre dois anos e dois anos e meio.
Politicamente, Marcelo Teixeira se mostra muito mais forte do que Rueda, para impor suas convicções diante do Conselho Gestor, que dá o último veredicto sobre as decisões mais importantes do clube.
En plena reconstrução, o Santos encontra sérios problemas em relação ao seu comandante em campo.
Fabio Carille.
Ele nunca foi prioridade para Teixeira.
Primeiro, o dirigente tentou o argentino Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza. Ouviu 'não'. Depois, tentou Thiago Carpini. A negociação não deu certo. O treinador queria um elenco mais forte e ganhar mais. Desistiu de sair do Juventude. Acabou indo para o São Paulo.
Mas Carille tinha contrato com V-Varen Nagasaki, clube da Segunda Divisão Japonesa.
Em entrevista, o treinador falou abertamente que seu compromisso era até dezembro de 2024.
Sua multa rescisória era de R$ 7 milhões.
Pedido do próprio treinador, em caso de rescisão antes do prazo.
Teixeira o consultou e pergunto se queria trabalhar nesta temporada no Brasil, no Santos.
Carille aceitou.
Disse que seu trabalho no Santos, em 2021, foi travado por uma briga com o coordenador de futebol, o ex-jogador, Edu Dracena. E tinha o sonho de voltar.
Teixeira ficou de se acertar com a direção do clube japonês.
Mas nada foi feito.
Carille foi anunciado como técnico santista.
A direção do V-Varen Nagasaki ficou revoltada e avisou que recorreria à Fifa.
O departamento jurídico tranquilizou Teixeira. Descobriu que os contratos no Japão são registrados de 11 em 11 meses. Por questões contábeis. O compromisso de Carille seria registrado no dia primeiro de janeiro.
Não foi. E o Santos publicou ontem o contrato do treinador no Boletim Informativo Diário, da CBF.
E ele já trabalha normalmente.
Teixeira disse não teria de pagar nada para os japoneses.
Só que o V-Varen Nagasaki vai denunciar o clube à Fifa.
Uma declaração dada, em entrevista, de Carille é uma prova muito favorável aos nipônicos.
"Vocês não acreditam. A fase ali de maus resultados, o meu contrato era até o final de 2023. Me deram já até o final de 2024", disse ao site Futebol no Japão.
O Santos já ficou entre março e outubro de 2020 sem poder fazer contratações, proibido pela Fifa.
Por dívidas com o Hamburgo, referentes ao zagueiro Cléber.
Em um momento tão delicado, a direção está comprando uma briga pública, tola, desmoralizante, e que pode atrapalhar o desempenho do clube na óbvia prioridade em retornar à Série A, superar o rebaixamento.
Tenso, Carille não quer falar sobre o assunto.
Athletico Paranaense e Corinthians tentaram desprezar contratos de jogadores com clubes japoneses.
Processados, via Fifa, tiveram de pagar por Rony e Jô.
O Santos enfrentará uma batalha desnecessária.
E que afeta diretamente a concentração do seu treinador.
Essa economia pode custar caro demais...
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