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‘Roubaram o título de Massa. A Globo fez pressão injusta sobre Rubinho. Não existe sucessor de Senna.’ Claudio Carsughi, o mestre

Aos 91 anos, ele fez questão de fazer um balanço de sua carreira vitoriosa, das 19 Copas do Mundo que acompanhou. E, principalmente, por do seu esporte favorito: automobilismo. E colocou abaixo vários mitos

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Carsughi ficou quase 60 anos trabalhando na Jovem Pan

Foi a mais emocionante entrevista do canal.

Aos 91 anos, Claudio Carsughi atravessou os longos corredores da RECORD em cima de uma cadeira de rodas. Ao lado de sua filha Claudia, herdeira do talento para o jornalismo, mesmo podendo andar, com o auxílio de uma bengala, se poupava para a longa e sincera conversa.

Assim que os microfones foram colocados, ele colocou uma pastilha na boca, e deu preciosa lição sobre ética, jornalismo, futebol e automobilismo.

Mostrou porque é reverenciado como mestre.

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Muito culto, de personalidade fortíssima, adaptou a fria lógica de engenheiro formado para analisar esportes dominados pela paixão: a Fórmula 1 e o futebol.

A história de sua vida daria um filme digno de Federico Fellini.

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Nascido em Arezzo, na Itália, no dia 13 de outubro de 1932, o roteiro reservava surpresa atrás de surpresa. Primeiro, ao ir ainda menino assistir, junto com seus colegas de escola, a um desfile de carro aberto de Hitler, que se aproximava a Alemanha nazista da Itália, dominada pelo fascismo, de Mussolini.

Logo após o final da Segunda Guerra Mundial, sua avó decide que toda família deveria ir para o outro lado do planeta. Viver no Brasil, onde já existiam laços profissionais. “Ela dizia que já tínhamos sobrevivido a duas Guerras Mundiais na Itália. Melhor seria fugir da Terceira”, relembra Claudio.

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Já no Brasil, teve aulas de português com ninguém menos do que Jânio Quadros, que chegaria à presidência da República. “Foram aulas memoráveis. Aprendi a falar português com o melhor professor. É uma questão de respeito falar e escrever o idioma de maneira correta.’

Apaixonado desde sempre por automobilismo, foi estudar Engenharia na respeitadíssima Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a Poli.

Só que antes, aos 14 anos, seu pai queria que ele não perdesse o contato com o idioma italiano. E ofereceu seu serviço como ‘jornalista’ para o Corriere dello Sport. Foi assim que cobriu a Copa de 1950.

E, sempre muito direto, dá seu veredicto.

“Não gosto de falar com quem não pode se defender. Para mim, a culpa da derrota foi do treinador Flávio Costa, que infelizmente já morreu. Ele não conseguiu entender que o empate bastava contra o Uruguai. E quis atacar de qualquer maneira. E o Brasil perdeu o título em dois contragolpes.”

Sim, Carsughi acompanhou 19 Copas do Mundo.

Dá outra vez sua visão racional sobre as derrotas de 1982 e sobre o 7 a 1, em 2014.

‘Para mim, foram clamorosos erros de Telê Santana, que também poderia empatar o jogo e colocou o Brasil todo no ataque contra a forte seleção da Itália. E o Scolari desprezou a preparação e a força da Alemanha. Escalou o time sem poder de marcação no meio-campo. E foi o vexame que todos vimos. As decisões esportivas não podem depender da emoção. A razão tem ser a base de tudo”, ensina.

Carsughi só se deixa levar pela paixão em relação a um jogo que marcou sua vida. A final da Copa dos Campeões entre Fiorentina e Real Madrid, na temporada 1956/1957.

“Os espanhóis foram campeões graças ao árbitro holandês Leo Horn. Ele manipulou o resultado. O que ele fez foi imperdoável.”

Também não se furta a dizer abertamente. “O Palmeiras é campeão mundial. Acompanhei de perto a organização da Taça Rio e a proposta era fazer um Mundial de Clubes. Não tem porque negar, não entendo quando dizem que o Palmeiras não tem Mundial. Tem, ganhou o torneio de 1951.”

Mas a verdadeira paixão de Carsughi estava ganhando o mundo. A Fórmula 1.

“Acompanho corrida desde criança, quando meu pai me levava para assistir a corridas de rua, na Itália. Com três, quatro anos.”

Juntou sua paixão com o jornalismo e teve uma passagem histórica na Jovem Pan, de quase 60 anos.

Viu o nascimento dos grandes pilotos brasileiros. E acompanhou de perto suas carreiras. Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello, Felipe Massa. Assim como os melhores do mundo.

“O meu time perfeito seria Juan Manuel Fangio, o melhor piloto de todos. O único a vencer um Mundial sem estar com o melhor carro. E Ayrton Senna, inquestionável.”

Seu amor na Fórmula 1 é pela Ferrari, equipe de quem é mais crítico, talvez por esse amor intenso.

Carsughi foi o primeiro jornalista do Brasil a anunciar a morte de Senna. Em plena transmissão da Jovem Pan, de São Paulo ele entrou em contato com um jornalista na Itália, que entrevistava a médica que atendeu Senna.

“Eu entrei ainda durante a transmissão e falei que ele havia sofrido morte cerebral. Muitas pessoas não queriam acreditar. Esperavam um milagre dos Céus. Mas eu fui pela lógica. Se a médica que o atendeu disse que o seu cérebro morreu é porque, infelizmente, não havia mais vida.”

Ele não poupa a Globo pela pressão exagerada sobre Rubinho e Massa.

“A emissora pensou que seria natural. Surgiriam campeões atrás de campeões. Não há lógica alguma. A Inglaterra teve de esperar 50 anos por Lewis Hamilton. A Alemanha, uma eternidade por Schumacher. Nunca houve sucessor para o Senna. As coisas na Fórmula 1 não acontecem assim. A Globo jogou pressão de forma injusta em Rubinho e Massa, dois ótimos pilotos.”

Carsughi sempre foi movido pelo trabalho. Ao mesmo tempo que comentava futebol e automobilismo pela Jovem Pan e na rádio Bandeirantes, fazia questão de escrever. Foi editor da Quatro Rodas, trabalhou no Jornal da Tarde, na Gazeta Esportiva. Além de seguir correspondente do Brasil para jornais italianos.

Na tevê teve passagem marcante no SporTV.

Ficou quase 60 anos na Jovem Pan.

Até a demissão, em 2015, que o surpreendeu, porque trabalhava com a mesma energia que os companheiros de emissora.

Sua saída provocou uma onda de protestos contra a rádio.

Extremamente lúcido, inteligente e irônico, justificou plenamente nesta histórica entrevista o motivo por ser chamado pelos colegas de Mestre.

Seu livro, Meus 50 Anos de Brasil, escrito, a fórceps, pela filha Claudia, se tornou leitura obrigatória.

É motivo de orgulho ser colega de profissão de Claudio Carsughi.

E um privilégio entrevistá-lo.

A conversa, exclusiva, está no Canal do Cosme Rímoli no YouTube.

Cada semana há uma entrevista nova com personagem importante do esporte...


Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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