Ronaldo. Xingado na Espanha. Pressionado em Minas. Torcidas não entendem. Ele é apenas um investidor
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
As torcidas do Cruzeiro e do Valladolid precisam se conscientizar.
E parar com romantismo.
Ronaldo Nazário não é um mecenas, disposto a pôr todo o seu patrimônio, de cerca de R$ 1 bilhão, de acordo com revistas especializadas, nos dois clubes.
Muito pelo contrário.
Ele é um empresário, que visa ao lucro, como todo empresário comum.
Não é mais um torcedor ensandecido, que oferecerá seu patrimônio para que o pequeno clube espanhol e o gigante brasileiro formem esquadrões, seleções com potencial para brigar por títulos.
Sua intenção é reequilibrar as finanças das duas equipes, que estavam em estado pré-falimentar. Torná-las viáveis. Com potencial para formar e vender jogadores. Buscar na base e em jogadores e técnicos baratos a chance de ter times competitivos.
Fazer do Valladolid e Cruzeiro lucrativos.
Com a enorme possibilidade de vendê-los, no futuro, com lucros.
O grande problema é que apenas os torcedores espanhóis perceberam que tudo não passa de um negócio. Que, sim, principalmente no Brasil, há o envolvimento do coração, por ter iniciado a carreira no Cruzeiro. Mas a cabeça de Ronaldo é de empresário.
E ele não pretende passar a vida inteira como dono desses clubes.
Basta ver o que acontece com o Valladolid.
Ele comprou, por 30 milhões de euros, atuais R$ 159 milhões, o controle do clube. Com 51% das ações, ele ficou responsável pela montagem dos times e pela contratação dos treinadores.
Houve um frenesi, na chegada do brasileiro, em 2018.
O sonho era que ele, como ex-jogador fabuloso do Real Madrid e do Barcelona, montaria uma equipe para brigar com os gigantes espanhóis.
Zé Ricardo. Terceiro treinador do Cruzeiro em 2023. Acumula demissões e campanhas fracas
Divulgação/CruzeiroO clube espanhol devia 25 milhões de euros, cerca de R$ 133 milhões.
Ronaldo logo investiu 2,5 milhões de euros, R$ 13 milhões, na reforma do estádio José Zorrilla.
E a perspectiva aumentou.
Assim como a decepção. Os jogadores talentosos e os treinadores de respeito internacional não chegaram.
Como presidente/dono, o Valladolid ficou em 16º no seu primeiro mandato. Chegou a 13º no segundo. E, na terceira temporada, o rebaixamento, com a equipe em 19º lugar.
A revolta já foi enorme contra o brasileiro. As acusações de que ficava em Ibiza aproveitando farras e praia, em vez de acompanhar o dia a dia do Valladolid.
Na temporada de 2021/2022, o clube conseguiu voltar para a Primeira Divisão Espanhola. Mais festa, e Ronaldo endeusado.
Só que, em 2022/2023, outra desilusão.
A síndrome do ioiô voltou a atacar.
Novo rebaixamento.
Mais ataques a Ronaldo.
E que ficaram ainda mais intensos neste início de segunda divisão, com o clube vencendo apenas uma das cinco partidas que disputou.
Os protestos da torcida para sua saída foram fortes, e com o treinador Paulo Pezzollano, que Ronaldo tirou do Cruzeiro, depois de um trabalho frustrante, tendo de dar explicações ontem a torcedores.
Torcida do Valladolid alega que foram 'cinco anos de mentiras' com Ronaldo como dono
Reprodução/TwitterAlém do medo de que o clube não conseguirá subir neste ano, a grande reclamação está na balança das negociações.
O Valladolid conseguiu levantar 38 milhões de euros, cerca de R$ 202 milhões, na última janela de transferências. E gastou apenas 4,5 milhões de euros, R$ 24 milhões, em contratações. Ou seja, R$ 78 milhões de lucro.
A raiva da torcida é Ronaldo mostrar o que é, empresário atrás de lucro.
Desde a sua fundação, o Valladolid passou 46 temporadas na primeira divisão, 36 anos na segunda e 10 na terceira divisão.
Ou seja, o efeito ioiô é antes de Ronaldo.
Mas a frustração com sua chegada é imensa.
No Cruzeiro, do qual Ronaldo comprou 90% das ações, em dezembro de 2021, a sensação já começa a ser parecida.
O time que subiu em 2022 continua sem força, fraquejando, em 2023.
Zé Ricardo é o terceiro treinador neste ano.
Ronaldo já tirou Pezzollano e o levou para o Valladolid.
Demitiu o treinador português Pepa.
E agora investe em Zé Ricardo, que estava desempregado.
Ele fez péssimo trabalho no Shimizu-S-Pulse, rebaixando a equipe para a segunda divisão. No início desta temporada, foram sete jogos, cinco empates e duas derrotas. E a demissão sumária.
Mesmo assim, Ronaldo decidiu deixar o Cruzeiro nas mãos de um treinador que acumula demissões. Pelo Flamengo, Vasco, Botafogo, Fortaleza, Internacional, Catar SC, Vasco, Shimizu.
Um item fundamental para sua contratação é o seu salário.
"Apenas" R$ 180 mil mensais.
Só Wesley Carvalho, do Athletico, e Thiago Kosloski, do Coritiba, recebem menos do que ele.
Há a promessa de que, se o Cruzeiro não cair, Zé Ricardo terá um aumento na próxima temporada. Em compensação, se o time for rebaixado, não ganhará a multa de três salários, como revela o colega de R7 Jorge Nicola.
No balanço de 2022, o clube mineiro deixou pública a sua dívida: R$ 1,05 bilhão.
Ou seja, as torcidas de Cruzeiro e Valladolid estão unidas na ilusão.
Ronaldo era um fenômeno dentro dos gramados.
Como dono dos clubes, ele age como empresário comum.
Quer lucros.
Ronaldo foi aconselhado a comprar o Cruzeiro. E fechou a transação na sede de uma grande investidora
Reprodução/TwitterNão vai expor seu patrimônio para salvar os clubes do rebaixamento.
Ele age com a frieza dos grandes investidores.
Atitude que não combina com as expectativas.
Mas o Ronaldo vibrante, que garantia alegrias, ficou no passado.
De chuteiras.
Agora, a realidade é a da calculadora.
Simples assim...
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