Ronaldinho Gaúcho. O último jogador que fez o Palmeiras passar vergonha. O ‘vilão’ foi Assis, que preferiu o dinheiro garantido do México
Não é só a direção do Grêmio que passou vexame, depois de anunciar a volta, que nunca aconteceu, de Ronaldinho Gaúcho. Há dez anos, a frustrante história de como o Palmeiras acreditou que teria o excepcional jogador voltou à tona. E Assis é o ‘vilão’. De novo
Cosme Rímoli|Do R7
Assis e Ronaldinho Gaúcho não sabem.
Mas eles provocaram, em 2014, um trauma que dura até hoje, dez anos depois.
A história voltou à tona no aniversário de 110 anos no Palmeiras.
Enquanto a presidente Leila Pereira discursava no banquete de aniversário, elencando os feitos que conseguiu e que garantirão sua reeleição, antigos conselheiros riam, relembrando a enorme vergonha que os ex-presidentes Paulo Nobre e Mauricio Galiotte passaram no centenário do clube.
Por conta de Ronaldinho Gaúcho, o jogador que nunca veio.
“Quem assistiu à peça Esperando Godot, pode sentir o que aconteceu naquele banquete.
“Foi constrangedor. A cada pessoa que chegava, ficávamos com o coração na mão.
“Esperando o jogador que nunca veio.
“Pegou mal demais para o Nobre e o Galiotte.
“Pagaram por acreditar no Assis, irmão e empresário do Ronaldinho.”
O resumo da situação foi feito ao blog por um antigo e influente conselheiro, que estava no banquete. E jamais se esqueceu da cena.
Para quem não sabe, a peça Esperando Godot, do irlandês Samuel Beckett, mostra dois personagens, Vladimir e Estragon, esperando outro, Godot, que jamais aparece. Enquanto isso, filosofam sobre a vida.
É muito importante a visão de quem estava naquela confusa noite de 26 de agosto de 2014.
A WTorre estava fazendo os últimos ajustes no Allianz Parque.
A moderna arena iria ser inaugurada oficialmente em novembro daquele ano.
Para marcar a revolução palmeirense, o então presidente Paulo Nobre teve a ideia.
E incumbiu o seu primeiro vice-presidente, que o sucederia, Mauricio Galiotte de contratar um jogador símbolo da ‘modernidade’.
Ronaldinho Gaúcho.
Nobre sabia que o atleta já havia decidido deixar o Atlético Mineiro.
Galiotte foi pelo caminho ‘mais fácil’.
Sem saber que era o mais instável.
Fechar negócio com Assis, o irmão e empresário do jogador.
“Assis sempre foi muito complicado. Ele foi atleta e nunca teve a valorização que merecia. Por isso, ele sempre fez questão de organizar um leilão com interessados em Ronaldinho Gaúcho. Não dava sua palavra, mas indicava a dirigentes que a negociação estava fechada. Só que quando surgia uma outra equipe, oferecendo mais dinheiro, não tinha o menor constrangimento. E levava seu irmão para quem pagasse mais. Simples e dolorido assim.”
A explicação é de um importante repórter gaúcho, que acompanha Assis desde os tempos de jogador. E esteve de perto em todas as transações envolvendo Ronaldinho Gaúcho.
Inclusive a famosa retirada das caixas de som, que foram espalhadas no estádio Olímpico, que comemorariam a volta de Ronaldinho ao clube onde nasceu para o futebol. Só que, no mesmo dia 7 de janeiro de 2011, ele e Assis chegavam ao Rio de Janeiro, fechados com o Flamengo. Mesmo tendo deixado tudo certo com o Grêmio.
A lição não bastou ao Palmeiras.
Galiotte estava muito animado.
Assis teria garantido que chegara, finalmente, a hora de o irmão atuar com a camisa verde.
Afinal, o Palmeiras já havia tentado a contratação de Ronaldinho Gaúcho, no mesmo 2011, quando era presidido por Luiz Gonzaga Belluzzo.
O então treinador do Milan, Massimiliano Allegri, se cansou das noitadas e falta de empenho do brasileiro.
E a rescisão foi feita.
O Palmeiras chegou antes em Assis.
Depois, o Grêmio.
Mas o jogador foi para o Flamengo.
A mando de Nobre, Galiotte havia combinado com Assis, três anos depois.
O contrato seria de um ano e meio.
Com direito a salário, luvas e até participação na arrecadação dos jogos do Palmeiras.
Para os dirigentes palmeirenses estava tudo certo.
Tanto que pagaram R$ 600,00 para a Federação Mineira, de maneira antecipada.
Pela transferência do Atlético ao Palmeiras.
Ronaldinho Gaúcho seria o grande presente no banquete.
A consagração da chegada de uma ‘nova era’, com o Allianz Parque.
Só que eles não sabiam que o irmão do jogador repensava o que fazer.
Na época, o clube fazia péssima campanha no Brasileiro.
Vinha de dois rebaixamentos.
Pessoas ligadas a Assis garantem que a incerteza do futuro do irmão no Palestra Itália pesou.
E, depois de deixar a negociação acertada, voltou atrás.
Até porque recebeu uma oferta do Querétaro, do México.
Para ter a estrela, a proposta foi de um milhão de dólares por temporada.
Na época, eram R$ 3,1 milhão.
O clube propôs dois anos ao ex-melhor do mundo.
Dinheiro pago adiantado.
Assis não pensou duas vezes.
Entre a incerteza do Palmeiras e o dinheiro ‘na mão’, lá foram ele e o irmão ao México.
Paulo Nobre e Mauricio Galiotte perceberam: não haveria volta.
E tentaram avisar aos conselheiros durante o dia que não haveria Ronaldinho Gaúcho, na festa do centenário.
As pessoas, e muitos jornalistas, acreditaram que os dirigentes estavam blefando.
Que queriam mais festa quando Ronaldinho chegasse.
E a expectativa durou todo o banquete.
Com todos, menos Nobre e Galiotte, olhando para a porta de entrada.
‘Esperando Godot’, ironiza o antigo conselheiro.
Veículos de comunicação haviam mandado fotógrafos e câmeras para registrar a chegada marcante do jogador.
Foi uma imensa frustração.
Esse vexame deixou marcas profundas na direção palmeirense.
Nobre passou para Galiotte, que passou para Leila Pereira.
Jamais deixar vazar a contratação de uma estrela sem ela estar efetivada.
E essa tradição vem sendo seguida há dez anos.
Mesmo com conversas adiantadas com Gabigol, por exemplo, Leila jamais confirmou a conselheiro alguma a negociação.
O trauma de Ronaldinho Gaúcho ficou.
Assim como a péssima impressão de Assis como empresário.
Desde 2014, os banquetes jamais foram os mesmos no Palmeiras.
Ninguém olha para a porta de entrada ‘esperando Godot’...
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