Desempregado, Rogério Ceni cai de patamar como técnico. Em vez de brigar pela Libertadores, sondagens para evitar rebaixamento
Nada de equipes de ponta do Brasil. Santos, Vasco, Bahia e Coritiba o levaram em consideração. Botafogo, Athletico Paranaense e Atlético o descartaram. Ceni paga pelo péssimo relacionamento com jogadores e dirigentes
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Atlético Mineiro, Athletico Paranaense e Botafogo o descartaram.
Ele não quis o Santos, o Vasco.
A direção do Bahia o levou em consideração, mas acabou optando pelo português Renato Paiva.
O Coritiba, que mantém o interino Thiago Kosloski, segue analisando seu nome.
Mano Menezes se recuperou quando os dirigentes pensaram nele.
Desde o dia 19 de abril, Rogério Ceni está desempregado.
São quase três meses.
Desde então, silêncio absoluto do técnico.
O maior ídolo da história do São Paulo sabe quanto errou ao voltar para o Morumbi.
Ao acreditar que ficaria, pelo menos, nos três primeiros anos de Julio Casares como presidente, com a possibilidade de mais três, com a reeleição. O dirigente já pensava em mudar os estatutos antes mesmo de ser eleito. Ceni se equivocou.
Sabe que apenas seu carisma não seria suficiente para superar a pressão interna de mais de R$ 750 milhões em dívidas, a possibilidade de formar um elenco barato. Mais os atrasos de salário e, principalmente, do direito de imagem, dos atletas.
Casares e seus assessores mais próximos diziam a Ceni que o desejo era transformá-lo em um "Telê Santana" dos anos 2000. Dando total autonomia ao técnico no futebol.
E justo a melhor campanha de Ceni o sabotou. Quando o São Paulo, contra todas as previsões, chegou à final da Sul-Americana, o treinador até foi apontado como um realizador de milagres.
Mas a derrota para o Independiente del Valle, por 2 a 0, com direito a olé, com o time travado taticamente pelos equatorianos, abalou a confiança dos jogadores e dos dirigentes.
A final foi em Córdoba, na Argentina, com mais de 80% de frustrados torcedores do São Paulo.
A ponto de o São Paulo não conseguir sequer se classificar para a Libertadores de 2023, com o clube ficando apenas na oitava colocação.
Briga pública com Patrick, no Maracanã, com direito a ouvir palavrões do jogador.
Reclamação da ação dos dirigentes.
Dos médicos e dos departamentos de recuperação de atletas.
Evidente desgaste com os jogadores.
A ponto de eles se unirem para reclamar de Ceni por ter gritado com Marcos Paulo, com direito a segurar o jogador pela camisa, diante de todo o elenco.
Futebol fraco, cada vez menos eficiente.
Tudo isso se juntou para o fim do sonho de transformar Rogério Ceni em Telê Santana.
De nada adiantou ter Muricy Ramalho como coordenador e Milton Cruz como auxiliar.
A "Comissão Técnica dos Sonhos" de Casares implodiu com a sumária demissão de Ceni.
Ele montou o elenco com que Dorival conseguiu levar o São Paulo à semifinal da Copa do Brasil, eliminando o favorito Palmeiras, no Allianz Parque.
Assim como foi com Leco, Ceni recebeu R$ 2,1 milhões em multa.
Foram três salários de R$ 700 mil líquidos, livres de impostos.
Ceni está há três meses desempregado.
Como sempre acontece nessa situação, o treinador de 50 anos se cala.
Empresários ligados aos grandes clubes brasileiros vão pelo mesmo caminho.
Consideram Rogério Ceni "muito sério, trabalhador".
Reconhecem o espetacular trabalho que fez no Fortaleza.
Mas mostram que no São Paulo, no Cruzeiro e no Flamengo, quando não teve todo o poder para definir não só situações costumeiras a um treinador e tentou atuar com a força de um dirigente, acabou demitido.
Principalmente pelo péssimo relacionamento com os jogadores.
Rogério Ceni segue sendo o maior ídolo da história do São Paulo.
Mas, como treinador, caiu de patamar.
Desde 2020, quando deixou o Fortaleza.
Foram três anos de profundo desgaste na sua imagem como técnico.
No Flamengo e no São Paulo.
Dos gigantes brasileiros que competem por títulos, só dirigentes do Internacional insistem em comentar seu nome.
Até por uma questão provinciana.
Por Rogério Ceni ter sido torcedor colorado na infância, no Paraná.
Ele precisa se reciclar.
Precisa se lembrar dos cursos que fez na Federação Inglesa de Futebol (FA), em parceria com a empresa 1st4sport.
E em que obteve certificados para os níveis 1 e 2 de técnico de futebol, em 2016. E o Módulo A da CBF.
Neles teria que ter aprendido que o relacionamento com os jogadores e dirigentes é tão importante quanto tática, estratégias.
Foram 25 anos de Rogério Ceni no São Paulo como jogador.
Pelo menos cerca de 20 carregando o apelido que adorava: presidente.
E ele agia mesmo como dirigente, questionando os mandatários, dando opinião sobre tudo e todos.
Mas Rogério Ceni não entendeu que a situação mudou.
Mesmo no São Paulo.
O maior ídolo da história, no auge da carreira, podendo mudar o destino do clube no gramado, tem uma importância muito maior do que o treinador profissional, que acumula demissões-relâmpago do Cruzeiro, do próprio São Paulo e do Flamengo.
E que, em sete anos de carreira, diminuiu em relevância, ao contrário do que muitos supunham, que teria potencial para assumir a seleção brasileira.
Aos 50 anos, Rogério Ceni precisa entender o momento que vive.
E tudo o que já desperdiçou por agir como um ídolo incontestável.
Não como comandante de um grande clube de futebol.
Precisa se aprimorar não só taticamente.
Mas no trato com as pessoas.
Usar a hierarquia como um escudo, como se estivesse em um quartel, custou caro.
A perda da admiração dos times que comandou.
E o rancor dos dirigentes.
O resultado é essa carreira instável.
Acumulando demissões.
Que o desemprego temporário ensine.
O relacionamento humano é fundamental para um treinador de futebol.
Os tempos de treinadores ditatoriais acabaram.
Assim como seus dias como ídolo debaixo das traves do São Paulo.
A tarja de capitão no braço esquerdo não faz mais parte de seu uniforme.
Seu patamar como técnico é muito diferente daquele do goleiro excepcional que foi...
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.