R$ 2,3 milhões por cada menino morto? Fla discute indenização
Clube já se reúne com familiares antecipar indenização pelos dez garotos mortos no incêndio em pleno CT Ninho do Urubu. Acordos extra-judiciais
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Quanto vale uma vida?
Essa é a questão que a diretoria do Flamengo está tentando decidir.
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O clube está negociando com as famílias dos dez garotos que morreram no terrível incêndio no Ninho do Urubu.
Pais haviam deixado seus filhos, com toda confiança, em um Centro de Treinamento que deveria estar interditado pelo Prefeitura do Rio de Janeiro. A interdição datava de 2017.
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Os meninos morreram em contêineres improvisados como dormitório, onde na planta oficial da área, apresentada pelo clube, deveria estar um estacionamento.
Foram carbonizados ou sufocados pela fumaça tóxica.
Houve enorme dificuldade no reconhecimento de quatro corpos.
Meninos entre 14 e 17 anos.
A maioria de famílias humildes.
O incêndio começou em aparelhos de ar-condicionado. Improvisados em buracos muito maiores.
Dirigentes do Flamengo disseram que a responsabilidade do fogo foi uma queda de energia.
"A Light não registrou qualquer oscilação de energia no trecho que supre o Centro de Treinamento", respondeu oficialmente a empresa responsável pela energia elétrica no Rio.
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A direção do clube não explicou porque não havia sequer um simples sistema de disjuntores, que poderia desligar a luz em caso de picos de energia.
Nem também porque o dormitório improvisado tinha apenas uma porta de saída.
Auditores do Ministério Público do Trabalho sabem da força política do clube mais popular do Brasil. E também como a legislação neste país é lenta, moldável.
Dener, jogador do Vasco, morreu em um acidente de carro em abril de 2004. Seus familiares só foram receber o que o clube deveria pagar, o seguro de vida do atleta, em 2015.
Vinte e um ano depois.
Nenhuma família recebeu um real da apólice da seguradora empresa aérea Lamia, da qual fazia parte o avião que transportava a delegação da Chapecoense. E caiu na Colômbia, em novembro de 2016.
Os auditores do MPT estavam prontos para criar uma força-tarefa para acelerar o pagamento das indenizações das mortes dos dez garotos. Nas primeiras entrevistas já adiantavam que poderiam bloquear bens do Flamengo para as famílias das vítimas.
Mas a cúpula do clube carioca agiu rápido.
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Desde a confirmação das mortes, procurou se aproximar dos responsáveis dos meninos.
E já estão tentando antecipar acordos extra-judiciais para acabar com a situação.
Pagar agora e evitar julgamentos públicos que, com certeza, desgastariam ainda mais a imagem do clube. E que poderiam sair muito mais caros do que resolver a situação sem a participação da Justiça.
Já estão vazando alguns números.
Os primeiros são em relação aos anos previstos de carreira dos meninos, a partir de quando assinassem contratos profissionais, com 16 anos.
18 estaria sendo a proposta do Flamengo.
Como não há a certeza de que haveria grandes talentos, e que fariam grande sucesso, entre os mortos, a solução apresentada é simples. Multiplicar o salário dos meninos por 18 anos. E ponto final.
A grande maioria dos meninos ganhava até R$ 10 mil.
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Ou seja, a conta básica seria 18 anos vezes 13 meses, contabilizado o 13º.
R$ 2.340.000,00.
Dois milhões, trezentos e quarenta mil reais.
O Flamengo gastaria, no máximo, R$ 23,4 milhões com as indenizações.
Esta é uma conta preliminar.
Muito otimista.
Contando que todas as famílias aceitem a proposta do clube carioca.
Se comprometendo a não procurar a Justiça, depois do acordo feito.
O acordo financeiro caminha.
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Mas, por enquanto, não há indícios se alguém será responsabilizado pelas mortes.
Por enquanto, as conversas sobre indenizações dominam a Gávea.
Os dez meninos já foram enterrados.
E o CT Ninho do Urubu segue aberto...
(Sim, aberto para adultos. Não para crianças e adolescentes. O juiz da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, Pedro Henrique Alves, agiu. E, por meio de uma liminar, proibiu a presença de crianças e adolescentes até que o Flamengo consiga a liberação total do Centro de Treinamento por parte do Corpo de Bombeiros.
Em caso de desobediência, multa de R$ 10 milhões para o clube e R$ 1 milhão ao presidente do clube, Rodolfo Landim.
(Finalmente alguém descobriu que o Ninho do Urubu não é seguro para adolescentes e crianças...)
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