Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Cosme Rímoli - Blogs
Publicidade

'Quem me aposenta sou eu.' Aos 73 anos, Felipão cala a imprensa. Athletico pressionará Conmebol para ter o técnico no Allianz

A cúpula do Athletico sabe: Felipão é a alma do time. Ele é o responsável pela vantagem de poder empatar com o Palmeiras, para o clube chegar à final da Libertadores. Tentará reverter sua punição de expulsão 

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli


São Paulo, Brasil

"Vá se fo... Vá se fo..."

"Safado..."

"Filho da p..."

Publicidade

"Filho da p..."

Rosto vermelho de ódio, veias saltadas na testa, indignado, ele caminha em direção ao árbitro Roberto Tobar, que o havia expulsado.

Publicidade

Está para entrar em campo quando Wesley, jogador do Palmeiras, entra na frente dele e tenta acalmá-lo. O que dá tempo para que reservas do Athletico Paranaense o contenham e o puxem para o banco de reservas. 

Mas os palavrões continuam.

Publicidade

Três minutos depois, mais calmo, ele tenta um truque. O de apontar auxiliares como se eles tivessem sido expulsos, e não ele. O juiz chileno Roberto Tobar confirma, lógico, que o expulso foi ele.

Leia também

Aí, voltam os palavrões.

Luiz Felipe Scolari mostrou ontem na Arena da Baixada que os 73 anos não o impedem de continuar a ser Felipão. Em todos os sentidos, principalmente na personalidade e na maneira como monta seus times. 

O Athletico Paranaense perderá sua alma sem o técnico mais velho da Libertadores no Allianz Parque. Por mais que ele esteja tentando, há anos, fazer do auxiliar Paulo Turra, um ex-zagueiro bruto como ele foi, sua reencarnação, não será a mesma coisa.

A dependência emocional dos jogadores athleticanos de Felipão é a marca registrada do técnico, que utiliza métodos ultrapassados, mas que se mostram mais do que eficientes.

Por trás de toda a infraestrutura, digna dos maiores clubes europeus, que o também gaúcho Mario Celso Petraglia montou no Centro de Treinamento do Caju, há os princípios básicos de formação de um grupo esportivo que lembra uma família. Com conversas, jantares, brincadeiras, filmes de parentes, bilhetes, Felipão assume a postura paterna em um mundo profissional.

Ele soube usar o fracasso do trabalho de Fábio Carille, campeão brasileiro, para instigar o time. Da maneira que mais gosta. Repetindo que a imprensa questionava a capacidade de cada um dos seus jogadores. E estava acabando com a reputação, com suas carreiras. Fazendo a família de cada um passar vergonha.

E que eles tinham de se unir para ensinar os jornalistas a respeitá-los. E a resposta tinha de ser no campo. Jogando pela honra contra seus adversários.

Os times de Felipão jogam com raiva, com ódio.

Ele mesmo já contou que, nos anos 70, quando era zagueiro tosco, rebatedor, usava uma velha técnica. Passava a centenária pomada Vick Vaporub nas partes baixas do corpo. Para, com o suor da partida, arder. Era o segredo para estar constantemente alerta. E, lógico, irritado.

Ver uma partida como uma guerra deu certo no Criciúma, no Grêmio, no próprio Palmeiras, na seleção brasileira, em Portugal.

Quando o grupo de jogadores compra seu discurso bélico, dá a resposta. O doping emocional é capaz de transformar um time mediano em altamente competitivo. 

É o que está fazendo com o Athletico Paranaense.

A filosofia foi aceita pela torcida, sedenta pela aceitação que ainda não aconteceu, de forma injusta, a da grandeza do clube de forma nacional. E não apenas regional.

As duas Copas Sul-Americanas e a Copa do Brasil não bastaram. 

Felipão e Petraglia sabem que a Libertadores seria a chave para a entrada de vez na elite do futebol brasileiro, para os torcedores de todo o Brasil, para a reacionária imprensa nacional.

Com seu elenco inferior ao do bilionário Palmeiras, Felipão conseguiu travar o atual bicampeão da Libertadores. No espírito e na estratégia, também convencional. Mas eficiente. 4-5-1. A Holanda, na Copa de 1974, de Rinus Michels, já usava essa estratégia. Dominava as intermediárias. E chegava com mais jogadores na bola do que os adversários, que atuavam estáticos, como pebolim.

O Palmeiras de Abel Ferreira tem duas enormes falhas na montagem do seu elenco. A ausência de meias criativos reservas. E um artilheiro de verdade, com talento, vivência e poder de definição. Leila Pereira segue a visão mercantilista deixada por Mauricio Galiotte de comprar jovens atacantes para valorizá-los e vendê-los ao exterior. O Palmeiras precisa ter um goleador para chamar de seu. Como o Flamengo faz com Gabigol e com Pedro.

As expulsões infantis de Danilo e Gustavo Scarpa foram presentes para Felipão, que encurralou o time de Abel Ferreira. Travando, com facilidade, Raphael Veiga. E explorou as deficiências defensivas de Gabriel Menino. 

O veterano Thiago Heleno confidenciou que Felipão destrincou o Palmeiras. Antecipou a movimentação do time de Abel Ferreira. E o travou na marcação treinada à exaustão no Centro de Treinamento do Caju.

A expulsão de Felipão ao reclamar, aos berros e com gestos histéricos, da expulsão de Hugo Moura tem um peso enorme no Athletico.

De acordo com jornalistas paranaenses, o clube até estuda uma maneira de entrar com efeito suspensivo na Conmebol, tentar que a suspensão não seja automática, para poder ter o septuagenário no banco de reservas na partida decisiva de terça-feira.

Situação dificílima e improvável.

Antes da partida, inúmeros veículos de comunicação lembraram que Felipão bateu o recorde de treinadores a chegar à semifinal da Libertadores. Chegou por seis vezes.

O treinador pentacampeão mundial, vice europeu com Portugal, e também dos 7 a 1 para a Alemanha, está feliz.

Ele conseguiu resgatar o seu legado com essa campanha memorável do Athletico Paranaense, que estava à beira da eliminação na primeira fase da Libertadores, perdendo por 5 a 0 para o boliviano The Strongest.

O combinado com Petraglia era que comandaria o time até o fim de 2022.

E em 2023 seria "apenas" o diretor de futebol. Homem que escolheria o treinador. Decidiria as contratações e dispensas. Se pouparia do desgaste do dia a dia de um técnico. Das viagens, dos jogos.

Felipão e Petraglia têm excelente relação. O técnico continuará comandando o Athletico em 2023. Se quiser
Felipão e Petraglia têm excelente relação. O técnico continuará comandando o Athletico em 2023. Se quiser

Paulo Turra assumiria como treinador.

Mas essa campanha histórica do Athletico na Libertadores, o bom trabalho no Brasileiro, com a sexta colocação, e também na Copa do Brasil, eliminação nas quartas, pelo Flamengo, mexeu com a cabeça de Felipão.

Ele odeia a rotina em casa, longe do futebol.

E tem enorme apego ao comando de um time.

Segue vencendo a limitação do tempo. Toma conhecimento das modernidades táticas com Paulo Turra, mas segue fiel às suas fórmulas ortodoxas, tradicionais, que estão dando resultado em um clube dominado por uma pessoa, Petraglia.

Felipão conseguiu.

Deu a volta por cima, mais uma vez.

As direções de Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio o homenagearam, o abraçaram. Mas não tiveram o menor constrangimento em dispensá-lo, considerando que estivesse ultrapassado, acabado para o futebol moderno.

O treinador se calou.

E agora consegue dar um tapa na cara desses dirigentes.

Além de muitos jornalistas, como o dono do blog, que consideravam que o seu melhor era a digna aposentadoria.

Mas Felipão se negou a parar.

Mostrou que estava certo.

E por que é um dos treinadores mais míticos da história deste país.

O Athletico estará sem alma na terça-feira sem Felipão.

Petraglia tem mesmo de enfrentar a Conmebol.

E fazer de tudo para tentar ter o técnico de 73 anos comandando seu time.

Contra o Palmeiras, que foi seu por sete anos.

A amigos, em Curitiba, ele deixou escapar a significativa frase sobre o seu futuro.

"Quem me aposenta sou eu."

"Ninguém mais..."

São Paulo tem 14% de chance de ser rebaixado; Botafogo, 24%

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.