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Proibir cerveja nos estádios não preocupa a população do Catar. O desespero é da Fifa, com medo de processo da Budweiser

A Fifa deveria saber que estava levando a Copa para um dos países mais rígidos do mundo.Nem se espantar em relação à proibição da venda de cervejas no Mundial.  A sociedade catariana vive outras questões mais profundas

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Messi, Neymar e Sterling na propaganda da Budweiser da Copa no Catar. Mundo todo viu
Messi, Neymar e Sterling na propaganda da Budweiser da Copa no Catar. Mundo todo viu Messi, Neymar e Sterling na propaganda da Budweiser da Copa no Catar. Mundo todo viu

Doha, Catar

A proibição da venda de cervejas nos estádios da Copa chocou o mundo.

E, principalmente, a gananciosa Fifa.

A entidade havia concordado com o governo catariano que o produto seria vendido até três horas antes dos jogos e uma hora após as partida.

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Era necessário por conta do acordo milionário com a Budweiser, que já dura 36 anos entre a Fifa. A marca norte-americana paga 75 milhões de dólares por ano, cerca de R$ 406 milhões. 

O acordo termina exatamente este ano.

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E por conta da repentiva reviravolta do governo catariano, a marca, que tem contrato assinado com a Fifa, pode cobrar uma multa bilionária, garantem jornalistas norte-americanos.

A entidade que controla o futebol terá um grave prejuízo financeiro por conta da postura radical do Catar.

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O país é predominantemente mulçumano.

E a religião é rígida em relação ao álcool. 

A cúpula da Fifa deveria conhecer as tradições do país.

Foram anos até que o governo do Catar aceitasse o acordo em relação à cerveja nos estádios.

Mas hoje, a dois dias do início do Mundial, houve um retrocesso inédito nas histórias da Copa do Mundo. Não foi autorizada a venda de cerveja ao lado do estádio, de jeito nenhum, para ninguém.

O motivo está nas ruas. 

Principalmente de Doha, infestadas de turistas e jornalistas. Homens e mulheres em clima de descontração. Com o calor seco, os trajes usados são leves, principalmente das mulheres. Camisetas apertadas, saias nos joelhos e até shorts. Situação inusitada para a rígida cultura do Catar.

Homens abraçados, cantando, gritando. Torcedores defendendo seus países.

Tudo observado de perto por policiais.

Diante da incrível previsão de um milhão de turistas nesta Copa do Mundo, número enorme para o país, com população de pouco mais de três milhões, a decisão foi evitar a cerveja por conta dos possíveis problemas que a polícia do Catar poderia ter com torcedores bêbados.

Foi um tiro no pé.

A resposta do mundo à 'Lei Seca' foi de revolta.

Mas o governo absolutista e herediário da família Thani não quis voltar atrás.

Está decidido.

Só que a situação é bizarra.

Budweiser é parceira da Fifa desde 1986. Há anos havia a negociação de vendas no Catar
Budweiser é parceira da Fifa desde 1986. Há anos havia a negociação de vendas no Catar Budweiser é parceira da Fifa desde 1986. Há anos havia a negociação de vendas no Catar

A cerveja, com álcool, é vendida nas Fan Fests, espaços específicos onde se reúnem torcedores estrangeiros.

Lá, a lata de cerveja custa R$ 75,00. É a mais cara do mundo porque o Catar impõe uma sobretaxa sobre a bebida. É o próprio governo que controla a venda e distribuição no país. Exatamente para não permitir o exagero.

Uma tímida tentativa de controle é permitir a venda máxima de quatro latinhas por vez.

O cidadão do Catar pode beber. Desde que se responsabilize pelo consumo, que não fique bêbado, o que, sim, é crime por aqui. A pessoa pode ser presa.

O blog circulou pelas ruas movimentadíssimas de Souk Waqif, que reúne bares e restaurantes para turistas, e conversou com funcionários e proprietários.

De maneira geral, não se importam com a proibição nos estádios da Copa e mesmo nos espaços. Porque primeiro não há como lucrar. Cobrando os preços caríssimos impostos pelo governo, a venda seria escassa, só 'turistas desesperados'' para pagar R$ 75,00 por uma lata de cerveja.

O controle do álcool é algo enraizado na sociedade do Catar.

Mas confirmam que, de vez em quando, bebem. E consomem bebidas em casa, com amigos, com familiares.

E mostram onde a bebida pode ser encontrada.

Sem segredo.

Falam em bares perto do aeroporto internacional, onde várias equipes de televisão já foram fazer matéria. Lá são encontrados bares com chopeiras, como há milhares no Brasil.

E a frequência é de estrangeiros.

Só há o pensamento no lucro e as canecas de chope são vendidas a cerca de R$ 80,00.

Os protestos e as denúncias de países do mundo todo sobre a morte de trabalhadores, principalmente indianos, para a construção dos estádios da Copa não repercutem pela imprensa catariana.

Infantino teve de levar adiante acordo fechado por Blatter. Para a Copa no Catar
Infantino teve de levar adiante acordo fechado por Blatter. Para a Copa no Catar Infantino teve de levar adiante acordo fechado por Blatter. Para a Copa no Catar

Assim como também a falta de liberdade individual, nenhuma palavra publicada sobre o tema.

O Observatório de Direitos Humanos revelou no ano passado que o sistema de tutela masculina segue firme. Ou seja. As mulheres precisam pedir permissão aos maridos para trabalhar, estudar, viajar para o Exterior. E também, mesmo separadas, os homens têm a preferência em relação à guarda dos filhos. 

Ou seja, a cerveja é apenas um símbolo de como o Catar, primeiro país mulçumano a sediar uma Copa de 2022, vive.

A esperança do governo catariano, quando conquistou o direito de ter o Mundial, era difundir a imagem de um país moderno. Afinal, é o mais rico do planeta, por conta do petróleo.

Mas está acontecendo exatamente o contrário.

Mostra o choque cultura com a maioria dos povos.

Trouxe luz aos costumes do país.

O ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que 'foi um erro' levar a Copa do Mundo de 2022 para o Catar.

Mas talvez tenha sido enorme acerto.

A população terá a chance de analisar, comparar, a maneira que vive.

E o que deseja para o futuro.

Proibir a venda de cerveja nos estádios é o de menos...

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