'Prisão pérpetua' pelo assassinato de Eliza Samudio continua. Por pressão popular, Bruno é dispensado de clube da 4ª Divisão do Rio
O goleiro de 38 anos havia acertado, há dois dias, contrato com o Búzios, time da Quarta Divisão do Rio. Mas a pressão foi enorme para que o clube o dispensasse. Foi o que aconteceu hoje
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A Justiça brasileira pode permitir que Bruno circule livre pelo país.
Mas o futebol não o aceita de volta.
Ou melhor, a pressão dos patrocinadores e da opinião pública não o querem de volta, depois do assassinato de Eliza Samudio, em 2010.
Ele foi condenado a 22 anos de prisão. Depois, foi reduzida a pena para 20 anos e nove meses. Em 2019, a sentença passou para o regime semiaberto. Os advogados de Bruno conseguiram que a pena fosse cumprida em liberdade.
Aos 37 anos, ele acaba de passar por outro vexame. Depois de 48 horas que o Búzios, clube da Quarta Divisão do Rio de Janeiro, anunciou que ele seria o goleiro da equipe, Bruno foi dispensado hoje.
A pressão da opinião pública e a ameaça de boicote econômico ao clube fez com que os dirigentes, que se mostravam animados na quarta-feira, o dispensassem.
Aos 37 anos, Bruno segue sendo rejeitado clube após clube. Desde 2017, quando a Justiça permitiu que voltasse a jogar, ele atuou em 13 partidas. Cinco no Boa Esporte, uma no Poços de Caldas e sete pelo Rio Branco, do Acre.
Em março de 2021, ele havia acertado sua ida para o Araçaguema, do Tocantins. Mas o clube logo desistiu da contratação. Assim como o Atlético Carioca, da Quinta Divisão do Rio de Janeiro.
Todas as direções desses clubes se arrependeram amargamente por terem contratado o goleiro condenado pelo assassinato e pela ocultação do corpo de Eliza Samudio. Além de os dirigentes terem sido massacrados nas redes sociais, os patrocinadores, ameaçados de boicotes, pressionaram essas equipes para dispensar Bruno.
Bruno jamais pagou pensão do filho que teve com Eliza. A família da mulher assassinada entrou na Justiça. E foi determinada a quantia de R$ 90 mil reais para que o golerio pagasse. Bruno alegou "não ter condições financeiras". Pediu que a quantia passasse para R$ 30 mil.
O goleiro chegou a fazer uma "vaquinha" online, pedindo dinheiro para que pagasse a pensão. De acordo com parentes de Eliza, ele teria arrecadado R$ 20 mil. Só que a quantia não chegou à mãe de Eliza, que cria Bruninho.
"Na verdade, eu tenho lenha para queimar ainda, teria condições para continuar jogando, meu preparo físico é bom. Eu tinha a intenção, depois de ter enfrentado a situação que todo mundo já conhece, de dar a volta por cima, de mostrar que todo ser humano é capaz de recomeçar, o ser humano é maior que seu próprio erro.
"Eu tinha, sim, a vontade de continuar no futebol, até porque é um sonho de criança, que foi realizado. E infelizmente não consegui. Deixei isso em terceiro ou quarto plano por causa da pressão midiática. Onde eu saio, aonde eu vou, eu arrasto multidões. Sou abraçado, acolhido, principalmente no Rio de Janeiro. Então, o que mais pegam no meu pé é a questão midiática", disse Bruno ao canal Nação Urubu Geração 81, em 2021, quando anunciou que trabalharia no mercado financeiro.
Não durou dois meses.
Bruno repete em entrevistas que cumpre "prisao perpétua" por causa dos jornalistas.
Ele ficou preso por seis anos e sete meses pela morte de Eliza Samudio.
Em 2010, quando, de acordo com a Justiça, ele articulou a morte da modelo, Bruno era titular do Flamengo. Estava negociando com o Milan, da Itália.
Era um dos melhores goleiros do país.
Foi tricampeão carioca e campeão brasileiro pelo Flamengo.
Jogou 234 vezes com a camisa rubro-negra.
E tudo indicava que teria chance na seleção brasileira.
Ele recebia R$ 160 mil no clube carioca.
Passaria a ganhar R$ 300 mil na Itália.
Eliza Samudio queria, pelos relatos de jornais do Rio de Janeiro, em 2010, muito menos, por conta do filho que teve com o goleiro.
R$ 30 mil mais um apartamento.
Foi essa a proposta que Bruno recusou.
E, segundo a Justiça, decidiu planejar a morte de Eliza...
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