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‘Precisamos de justiça que proteja as vítimas e não os algozes.’ Protesto das famílias diante da inocência dos acusados do incêndio que matou dez meninos na concentração do Flamengo

O terrível incêndio que matou dez meninos, entre 14 e 16 anos, que jogavam na base do Flamengo, não tem culpados. Não importa que estavam dormindo em contêineres improvisados como alojamento. Justiça absolveu os últimos sete acusados

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Os dez meninos que tiveram suas vidas ceifadas na concentração do Flamengo. Nenhum culpado Divulgação/Flamengo

Não há culpado na maior tragédia na base do futebol deste país.

A decisão foi da 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.


Anunciada ontem.

A direção do Flamengo se cala.


Mandou avisar aos jornalistas.

Não comenta decisão da Justiça.


Não importa que dez meninos, jogadores que usavam o distintivo do clube de maior torcida do Brasil em cima dos seus corações.

Nem que estavam alojados em contêineres feitos de material inflamável, remendados, para imitar uma concentração.


Com fiação improvisada.

E uma única saída.

Era batizado, por ironia, de Ninho.

Ninho do Urubu.

Esses dez meninos dormiam quando esta precária instalação pegou fogo, provocado por um ar-condicionado em um dos quartos. Detalhe, o ar-condicionado ficava ligado 24 horas por dia.

Era madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019.

Athila de Souza Paixão (14 anos), Arthur Vinícius de Barros da Silva Freitas (14), Bernardo Pisetta (14), Christian Esmério Candido (15), Jorge Eduardo dos Santos Ferreira Sacramento (15), Pablo Henrique da Silva Matos (14), Vitor Isaías (15), Samuel Thomas de Souza Rosa (15), Gerdson Santos (14) e Rykelmo de Souza Viana (17) não conseguiram escapar.

O relato dos bombeiros é terrível.

Alguns morreram queimados e outros asfixiados, pela fumaça provocada pelos contêineres derretidos.

A princípio, o principal acusador era o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Melo. Ele comandou o clube entre 2013 e 2018.

Era acusado de incêndio culposo qualificado, homicídio culposo e lesão corporal culposa. Mas foi liberado.

Por quê?

Porque o Ministério Público do Rio de Janeiro pediu que o nome de Bandeira de Melo deixasse de constar entre os acusados. E porque o prazo, de quatro anos, para punição, expirou. Por ter mais de 70 anos, o dirigente tem este prazo reduzido pela metade.

Ou seja, não foi inocentado. Escapou por conta do prazo que proíbe qualquer condenação.

11 outras pessoas foram acusadas.

  • Márcio Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo;
  • Marcelo Maia de Sá, ex-diretor adjunto de patrimônio;
  • Danilo Duarte, Fabio Hilário da Silva e Weslley Gimenes, engenheiros responsáveis por aspectos técnicos;
  • Claudia Pereira Rodrigues, responsável por contratos da NHJ;
  • Edson Colman, sócio da empresa que cuidava da manutenção de aparelhos de ar‐condicionado.

Marcus Vinicius, monitor, o engenheiro Luiz Felipe, o ex-diretor da base Carlos Noval e, como já foi citado, o ex-presidente Bandeira de Mello foram inocentados em janeiro.

O juiz Tiago Fernandes de Barros inocentou os sete acusados restantes com a alegação que não foi provado, pelo Ministério Público, que a investigação da Polícia Civil tinha fundamento.

Ou seja, a investigação foi inconclusiva.

E que o Ministério Público acusou a todos de forma genérica, sem provar a clube específica de cada um.

Os familiares das dez vítimas protestaram hoje, diante da inocência generalizada.

Divulgaram uma nota por meio da Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu. Os pais dos meninos mortos criaram essa associação para lutarem ‘por justiça’ juntos.

“A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes.”

O julgamento foi em primeira instância.

Cabe recurso.

As direções do Flamengo seguem recusando um memorial para os meninos que morreram na sua concentração.

Os dirigentes querem que essa história terrível seja esquecida.

Pode não haver punição, como indica a Justiça brasileira.

Mas as mortes dos dez meninos não cairão no esquecimento...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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