São Paulo, Brasil
"Acho que narrar a de 22 não vai dar, não.
"O projeto é estar lá.
"São 12 Copas.
"Está bom ter narrado 12 Copas.
"Mas eu vou estar lá (no Qatar)."
Na gravação de ontem à noite, do programa Altas Horas, que vai ao ar no sábado, na TV Globo, Galvão deixou escapar o que a cúpula da Globo já havia avaliado.
A principal voz esportiva da emissora carioca fará 70 anos em julho. E não consegue mais manter o mesmo nível de suas narrações.
Ele já vinha disfarçando há alguns anos.
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Comentando, conversando, entrevistando comentaristas durante o jogo. Tudo para não seguir acompanhando de perto cada lance.
Mas é no grito de gol que tudo fica transparente.
Galvão não consegue manter sua voz ecoando por mais do que alguns segundos. O infarto que sofreu no Peru, para onde viajou, sonhando transmitir a final da Libertadores, entre Flamengo e River Plate, acelerou o processo.
"Comecei a sentir uma pressão no peito, uma dor no peito, e eu dizia 'não, gente, isso é o esforço que eu estou fazendo. Já já eu deito, durmo. Amanhã eu descanso, vou trabalhar sexta e fazer o jogo sábado.
"Imediatamente fizeram um eletrocardiograma, a Desiree fotografou o eletrocardiograma e mandou para ele. E segundos depois ele ligou e disse: tem que fazer um cateterismo já.
"Eu disse: será que chegou a hora?", disse, em entrevista à Globo.
Galvão sentiu medo de morrer.
E jurou que iria ficar mais perto da família.
Ao mesmo tempo, suas cordas vocais não se recuperaram.
São 46 anos de narração, muitos deles longe de fonoaudiólogos, tão fundamentais.
Tal qual o falecido cantor Silvio Caldas, Galvão virou um reconhecido personagem que ameaçava se despedir, para depois voltar atrás.
Parecia alguém carente, querendo reconhecimento.
Foi assim em 2010, dizendo que a Copa de 2014 seria a última.
Depois resolveu esticar até 2018.
O adeus seria no Qatar.
Mas o desgaste natural e o infarto se juntaram.
Galvão Bueno é um homem muito vaidoso.
Ele sabe que está longe do nível normal de suas narrações.
Não quer ser lembrado como alguém que não consegue segurar a transmissão de um jogo.
Além de vaidoso, Galvão Bueno é muito esperto.
E palpiteiro.
Ele fez teste, e foi aprovado, pela Rádio Gazeta, no início da carreira, como comentarista.
Mas acabou narrando jogos.
Depois foi para a tevê.
E marcou seu estilo emocionante.
Altamente ufanista.
Só nos últimos anos passou a expor os muitos erros das Seleções montadas pela CBF.
Há, portanto, a chance real de ir para o Qatar como comentarista.
A cúpula da Globo aposta em Gustavo Villani como o substituto de Galvão.
E quer preservar sua imagem.
Tanto que o tirou do programa Segue o Jogo, após a rodada de quarta-feira de futebol,
Galvão Bueno se apaixonou pelo projeto de Jô Soares.
O humorista depois que perdeu seu programa na Globo, resolveu se despedir do público fazendo um stand up, onde contou relatos dos bastidores de sua carreira, no teatro.
Galvão também quer esse contato de perto do público.
Para preparar sua despedida.
"No Palco, com Galvão", é o nome do espetáculo, que está sendo finalizado.
O anúncio de que não narrará na Copa do Qatar era algo que os executivos globais ainda avaliavam. A sério.
Galvão se antecipou.
Se tirou da narração.
Se colocou como comentarista ou apresentador, se precisar.
Ele já comandou o Globo Esporte, em 1983.
E, principalmente, mostrou que deseja se preservar.
Respeitar a vitoriosa carreira.
A comoção passará rápido.
Basta lembrar que, em outubro do ano passado, ele pediu desculpas por não ter fôlego para narrar, como deveria, os gols do empate entre Grêmio e Flamengo.
Chegou a hora.
Desta vez não é uma imitação de Silvio Caldas.
Galvão sabe que o caminho da narração foi percorrido.
Resta a estrada de comentarista.
E sua família.
Para o vaidoso Galvão avisar que "não vai dar " para narrar em 2022 é porque chegou ao seu limite.
Questão de preservação.
E dignidade.
Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno tem de respeitar tudo o que conseguiu.
E passar o bastão para as novas gerações.
Sua missão foi muito bem cumprida.
Galvão é o melhor narrador da história da tevê brasileira.
Mas o tempo é inclemente.
Não poupa ninguém.
O "vendedor de emoções" vai parar...
Não há parâmetro para comparação...
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