Por que, apesar de estar banida desde 1995, a Mancha Verde segue mais forte do que nunca? E agora, suspensa, seguirá nos estádios?
O segredo dessa contradição está na legislação brasileira. ‘Ela pune o CNPJ e não o CPF’, resume um jurista ouvido pelo blog. Isso vale para todas as organizadas. Autoridades anunciam punições. Mas seus membros continuam indo normalmente para os estádios
Cosme Rímoli|Do R7
No dia 20 de agosto de 1995, Palmeiras e São Paulo decidiam a Supercopa de Juniores.
O Pacaembu passava por reformas e havia inúmeras barras de ferro, blocos de cimento espalhados pelo estádio.
Houve uma briga generalizada, selvagem, entre a Mancha Verde e a Independente, as principais organizadas palmeirense e são paulina.
A batalha foi no gramado, transmitida ao vivo.
E acabou com o adolescente Marcio Gasparin de Souza, de apenas 16 anos, morto.
Por pancadas que recebeu na cabeça.
Com muito estardalhaço, as autoridades paulistas anunciaram que Mancha Verde e Independente estavam extintas.
O que aconteceu?
A Mancha Verde mudou seu nome, seu CNPJ, e passou a se chamar Mancha Alvi Verde.
A Independente passou a ser autodenominar Tricolor Independente.
Mas os membros das duas torcidas seguiram os mesmos.
Só foram proibidos de entrar no estádio com camisetas com os nomes barrados.
“O que, infelizmente, é uma hipocrisia, vale até hoje.
“A legislação brasileira pune o CNPJ e não o CPF.
“Ou seja, a ‘pessoa’ jurídica fica proibida de entrar nos estádios.
“Já as físicas, não.
“O que é um enorme erro.
“O que falta é falta de vontade política de investigar e coibir os vândalos infiltrados nas organizadas.
“Daí eles se sentirem livres para agredir quem quer que seja e seguirem indo para os estádios.
“Basta trocar uma camiseta verde por uma branca.
“Quanto aos que não fizeram nada, a Constituição permite que o brasileiro possa ir e vir para onde quiser.
“E os torcedores organizados vão, aos milhares, se encontram nos estádios como se nada tivesse acontecido.
“A mensagem que passa é de absoluta impunidade.
“É constrangedor, mas a legislação é assim.
“Não deveria ter lugares reservados para as organizadas nos estádios brasileiros.
“Mas quem vai mexer nesse vespeiro?
“Eu, não...”
A entrevista, em off, foi dada ao blog por um advogado ligado a um departamento jurídico de um clube brasileiro.
E que não quer se identificar, temendo represálias.
Vândalos da Mancha Verde organizaram uma tocaia em represália à torcida Máfia Azul do Cruzeiro.
José Victor Miranda, de 30 anos, morreu queimado.
O ônibus em que estava foi incendiado com coquetéis Molotov.
A Polícia de São Paulo identificou seis pessoas no ataque feito na rodovia Fernão Dias, no domingo.
Tenta prendê-las, mas elas estão foragidas.
Jorge Luiz Sampaio Santos, presidente da Mancha.
Felipe Mattos dos Santos, o “Fezinho”, vice-presidente da Mancha.
Leandro Gomes dos Santos, o “Leandrinho”, diretor da Mancha.
Henrique Moreira Lelis, membro da Mancha.
Aurélio Andrade de Lima, membro da Mancha.
Neilo Ferreira e Silva, o “Lagartixa”, professor de artes marciais e membro da Mancha.
Mas a Mancha Verde, como as grandes organizadas paulistas, não param de crescer.
“Já são mais de 45 mil membros”, afirmava o presidente Jorge Luiz Sampaio.
A Federação Paulista de Futebol resolveu proibir a torcida Mancha Alviverde de ir aos estádios do Estado.
Em represália ao ataque à organizada do Cruzeiro.
Mas ela seguirá indo aos jogos.
Membros já trocam mensagens combinando voltar no dia 11 de novembro, no Allianz Parque.
O Palmeiras enfrentará o Grêmio.
O aviso é para que não usem a camisa da organizada.
Porque os lugares de sempre estarão reservados.
Com direito a torcer e cantar as músicas da Mancha Verde, como sempre.
Essa é a legislação do CNPJ e não do CPF...
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