Péssimo para o Corinthians. Edenilson manterá a acusação de racismo contra Rafael Ramos. Não fará como Gerson, no Flamengo
O capitão do Internacional garantiu à diretoria e a companheiros de time que não recuará. O Corinthians tratou de levar o lateral, acusado de chamar o volante de 'macaco', para Buenos Aires. Mesmo sem poder jogar
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Vitor Pereira se apressou em confirmar. Rafael Ramos, mesmo sem estar inscrito na Libertadores, viajou ontem para Buenos Aires, onde o Corinthians enfrentará o Boca Juniors, amanhã.
A viagem do português já era prevista, sim, porque o treinador português aproveita o máximo de tempo possível com o elenco para organizar taticamente o elenco. Porque se, por exemplo, Rafael Ramos não foi inscrito na Libertadores, pode treinar para o Brasileiro e a Copa do Brasil.
Só que o lateral português está incomunicável em Buenos Aires.
Ele é o pivô de uma situação que jamais o Corinthians viveu. Ter um jogador preso por acusação de racismo. Na partida contra o Internacional, sábado em Porto Alegre, Edenilson garantiu ter sido chamado de 'macaco' por ele. Não só o árbitro Braulio da Silva Machado registrou a situação denunciada.
O lateral foi preso em flagrante, pela Polícia Civil, no estádio Beira-Rio. O Corinthians teve de pagar R$ 10 mil, em espécie, para liberá-lo. Mas as investigações continuarão.
"O atleta Rafael prestou todos os esclarecimentos à autoridade policial. Ele relatou que foi um mal entendido, que ele jamais proferiu palavras injuriosas e que o Edenilson deve ter mal interpretado aquilo que foi dito, até pelo sotaque do Rafael.
"Inclusive, o Rafael procurou o Edenilson após o término do jogo para entender o que estava acontecendo. Eles conversaram. O Rafael e o clube deixam muito claro que ele jamais proferiu palavras injuriosas e que repudiam qualquer conduta racista. Ele prestou relato ao delegado, falou com a imprensa. Ele está à disposição, prestou todos os esclarecimentos, o que de fato aconteceu", disse o advogado contratado pelo Corinthians, para defender o jogador, Fabiano Cerveira à rádio Gaúcha.
A tese defendida por Rafael e por Cerveira é a de que ele disse 'fo..-se cara...'. E nã não 'fo...-se, macaco', como jura Edenilson.
Acusações como esta, infelizmente, não são novidade.
A mais importante, envolvendo dois clubes grandes do país, aconteceu em dezembro de 2020.
Foi quando Gerson, que atuava no Flamengo, acusou o colombiano Ramirez, do Bahia.
'Cala a bola, negro', garantiu ter ouvido o jogador rubro-negro.
Foi um escândalo na época.
Com o jogador e o Flamengo garantindo ir às últimas consequências. O colombiano jurou que falou 'joga rápido, irmão'. E Gerson entendeu errado.
A conclusão foi constrangedora. Gerson e os jogadores do Flamengo, que garantiam que apoiariam o companheiro, não compareceram para prestar depoimento. Nem na Justiça Comum e muito menos na Justiça Desportiva.
O caso foi arquivado.
Desta vez, Edenilson e a direção do Internacional garantem que o destino não será o mesmo. O jogador, que já foi até campeão mundial pelo Corintians, garantiu que não retirará a acusação. E a repetirá diante de auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
E também na Polícia Civil.
A Polícia do Rio Grande do Sul garantiu que já está trabalhando no caso. Com técnicos trabalhando na leitura labial de Rafael Ramos. As imagens da partida, por todos os ângulos possíveis, já foram pedidas para o Premiere, canal pay-per-view, da TV Globo, que transmitiu o jogo. Atletas dos dois times também deverão ser chamados como testemunhas.
Edenilson é o capitão do Internacional.
E garante que manterá as acusações.
"Eu sei o que ouvi", diz, insistindo que foi 'macaco' o termo usado pelo português.
O lateral corintiano, se comprovada sua culpa, corre o risco de punições esportivas, com multa e suspensão de cinco a dez jogos. Mais multa.
E também na vida 'comum'. Correndo risco de prisão de um a seis meses, mais multa.
Por não ter antecedentes criminais, o lateral dificilmente será preso.
É a primeira vez que o Corinthians, clube marcado por ser contra o racismo, enfrenta uma situação dessas.
Há certeza na direção do Internacional.
A de que Edenilson não repetirá Gerson e manterá a acusação contra Rafael Ramos.
Vítor Pereira, que convivou pessoalmente o lateral português a atuar no Brasil, está muito preocupado com a situação.
A Polícia Civil de Porto Alegre garante que o caso será resolvido o mais rápido possível.
E a promotoria do STJD deverá denunciar o corintiano, de acordo com a súmula do árbitro Braulio da Silva Machado, que não poderia ser mais claro.
"Aos 31 minutos do 2º tempo, no momento em que a partida estava paralisada, fui informado pelo jogador nº 8, da equipe SC Internacional, sr. Edenilson Andrade dos Santos, que seu adversário nº 21, sr. Rafael Antônio Figueiredo Ramos, havia proferido as seguintes palavras para ele: "fo...-se macaco".
"Neste momento paraliso a partida e chamo os jogadores envolvidos para relatarem o que havia acontecido, sendo que o jogador Edenilson Andrade dos Santos, confirma as palavras anteriormente citadas e o jogador Rafael Antônio Figueiredo Ramos, afirma que houve um mal entendido devido ao seu sotaque (português) e diz ter proferido as seguintes palavras "foda-se cara...".
"Devido à distância dos atletas e barulho da torcida nem eu, nem outro integrante da equipe de arbitragem consegumos ouvir ou perceber qualquer das palavras acima citadas. Então dou continuidade a partida."
Ou seja, a acusação de Edenilson é firme.
Também a negativa de Rafael Ramos.
Caberá à justiça esportiva e civil deciderm o caso.
Se o jogador do Internacional mantiver sua palavra.
E insistir em formalizar a denúncia.
O que ele garante que irá fazer...
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