"Pensam que todos os técnicos portugueses são iguais a Jesus"
Técnico campeão da Libertadores e do Brasileiro, ironiza, em Portugal, a nova moda no futebol deste país. Investir em treinadores portugueses como ele...
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O desempenho marcante de Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, em 2018, com o título brasileiro teve consequências em 2019.
O sucesso aos 70 anos fez com que os clubes decidissem apostar em treinadores velhos, centralizadores e com carreiras longas.
Técnicos com idade para serem avôs.
Foi assim que o Flamengo se abriu para Abel Braga, que tinha 66 anos.
O Vasco para Vanderlei Luxemburgo, também 66 anos.
Avaí, e depois Vitória, optaram por Geninho, já com 70 anos.
O trabalho dos quatro veteranos não foi primoroso na temporada passada.
Felipão, Abel e Geninho foram sumariamente demitidos.
Geninho se recolocou no Vitória, equipe que não subiu, seguiu na Série B.
Abel assumiu no final do ano passado, o Vasco.
Luxemburgo teve como único mérito salvar do rebaixamento a equipe vascaína. O que valeu o convite para o Palmeiras.
Neste início de 2020, a tendência é buscar treinadores estrangeiros. Mais precisamente portugueses.
O Santos aposta em Josualdo Ferreira, 73 anos.
O Avaí anuncia Augusto Inácio.
O motivo da fixação lusitana primeiro se encheu de orgulho.
"Em pouco tempo entraram mais dois portugueses no Brasil e agora há que tentar demonstrar aquilo que somos, os melhores treinadores do Mundo", disse, Jorge Jesus, campeão brasileiro e da Libertadores, ao chegar para as férias, em Portugal, no dia 23 de dezembro.
Mas na entrevista divulgada hoje pelo portal português, Record, ele adverte aos clubes brasileiros, que apostaram em Josualdo e Inácio.
"Agora pensam que todos os portugueses são iguais a Jesus. Acham que todos têm a mesma metodologia de treino. Não é verdade", avisou, se valorizando e ironizando o caminho que abriu no Brasil.
No seu país, mais à vontade, Jorge Jesus fez questão de avisar.
É o responsável pela recuperar a carreira de Gabigol.
Assim que o Flamengo o contratou em junho do ano passado, o atacante o procurou para uma conversa particular.
"Ele me disse: "Míster, sei que todos os avançados que tu trabalhas (Cardozo, Jonas ou Dost) são os melhores marcadores batem recordes. Eu também quero bater".
"Eles é que sabem quem são os bons treinadores, são os fiéis depositários de quem são os grandes treinadores do mundo", disse, sem modéstia, alguma.
"Todos os grandes treinadores e jogadores podem ser qualificados de um pouco arrogantes.
"Se acreditas naquilo que fazes, às vezes é um pouco arrogante. Não quer dizer que não respeite os outros, é porque tua confiança te faz ter atitudes menos simpáticas", ensina.
Quanto ao futuro, Jorge Jesus, que fez questão de só aceitar vir trabalhar no Brasil se não tivesse multa contratual, deixa claro.
Não se mostra disposto a trocar de ares, pelo menos, até o fim de maio, quando acaba seu contrato e os grandes clubes europeus começam a trabalhar na temporada 2020/2021.
Sair antes, é quase impossível.
"Se aparecer aquilo que é meu sonho, como eu tinha o sonho de ganhar pelo Flamengo, que me dê a oportunidade de disputar o título do país e chegar a uma final da Champions...."
Há pouquíssimos clubes nestas condições.
Além do fato de a conquista do Brasileiro e da Libertadores atualmente não ter a representatividade para balançar Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Manchester City, Bayern, Liverpool.
Uma mágoa de Jorge Jesus vem forte.
A de que não disputou a final do Mundial de Clubes nas mesmas condições que o Liverpool. Por conta do insano calendário brasileiro.
"Se nós tivéssemos 27 jogos e eles (Liverpool) 80, seríamos nós campeões", garante.
Mas Jorge Jesus aprendeu.
No Brasil é assim.
O calendário segue diferente do resto do mundo civilizado.
Amarrado ao ano comercial da TV Globo.
Vai de janeiro a dezembro.
Enquanto o europeu, que interessa, vai de agosto a junho.
É o preço de fazer sucesso na ex-colônia...
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