Pelé sabe, mas finge não enxergar. Neymar sabota a própria carreira
Aos 78 anos, tem consciência de quanto o poderoso Neymar sabota a carreira, fracassa na Seleção. Mas prefere ser superficial. Como foi com o racismo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"O Santos está perdendo com Neymar em campo.
"É chato eu falar isso, mas cobrei o Muricy.
"É uma coisa boba, mas a gente que é do futebol percebe.
"Todas as faltas, escanteios, pênaltis é com o Neymar.
"Cada falta que ele bate, fica fora do jogo um minuto."
"(...) A responsabilidade do Muricy é grande.
É difícil bater de frente com o Neymar."
"(...)O Neymar tem de largar mais a bola, jogar para o time.
"A sua preocupação é mudar o estilo, mudar o corte de cabelo.
"O Edinho, meu filho, que está na comissão do Santos, faz os treinos do time.
"Ele não dá falta nos treinos e o Neymar fica bravo.
"Ele está viciado nas faltas."
"(...)Na Seleção Brasileira é um jogador comum."
Pelé, fevereiro de 2013
"É impossível Neymar ser o novo rei.
"Ser o novo Pelé."
Pelé, março de 2015
"O Neymar está pronto liderar o Brasil na Copa.
É o jogador-chave do Brasil.
E digo mais: para mim, tecnicamente já é o melhor jogador do mundo.
Não tenho dúvidas disso."
Pelé, fevereiro de 2018
"Ficou difícil defender o Neymar por todas essas coisas que ele faz além de jogar futebol.
"E eu conversei com ele, disse que futebol ele tem.
"Ele deu azar porque a seleção não ganhou a Copa e ele ficou marcado.
"Estive duas vezes com ele na Europa, a gente conversou e eu expliquei isso.
“Pô, futebol Deus te deu o dom.
O que você fez é que complicou."
Pelé, dezembro de 2018
O maior jogador de todos os tempos sempre foi muito crítico em relação a Neymar. Ele teve uma carreira maravilhosa. Foram cerca de 30 anos. 25 nos Santos e apenas cinco no Cosmos, time norte-americano, onde enriqueceu.
Graças à legislação dos anos 50, 60 e 70, não pôde jogar no Real Madrid, Barcelona, Inter de Milão, Milan, Juventus, Manchester United, Bayern e Benfica, que bateram na porta do Santos Futebol Clube. Eles tentaram Pelé, principalmente na década de 60. Dez anos de tentativas frustradas.
Os jogadores eram como escravos, presos aos clubes. Sem a liberação deles, nada feito.
Além disso, havia a rígida postura dos governos militares. Jogador que fosse atuar no Exterior era visto como desertor, não teria lugar na Seleção.
"Brasil, ame-o ou deixe-o", era o lema.
Pelé tem a certeza que seria ainda mais lendário se tivesse atuado em clube europeu.
Mas mesmo preso ao Santos, conquistou três Copas do Mundo.
Duas sendo personagem fundamental, 1958 e 1970.
E outra, como membro da delegação, por conta de uma contusão, em 1962.
Pelas regras atuais, teria sete Bolas de Ouro, como admitiu a France Football.
Uma pancada violenta que tomou por provocar o colombiano Zuñiga, alivou o fracasso de Neymar na Copa de 2014.
Em 2018 não houve nada que disfarçasse o desempenho pífio.
E principalmente ter virado piada mundial pelas simulações das faltas.
Postura que Pelé não suporta e sabe que a estratégia de fingir tomar pontapés é algo visto como um golpe baixo, enganar o árbitro, em todo o mundo. Sempre criticou Neymar por isso, principalmente quando atuava no Santos.
Só que aos 78 anos, o melhor jogador de todos os tempos tem a noção do que se tornou. É uma empresa. A venda de sua imagem em propagandas e eventos segue sendo muito bem paga.
Virou uma empresa.
Pelé tem um patrimônio de mais de R$ 100 milhões.
É frequentador assíduo da revista Forbes, como um dos atletas aposentados que mais faturam.
Aos 26 anos, Neymar acumulou um patrimônio de cerca de 92 milhões de euros, cerca de R$ 401 milhões. De acordo com a mesma revista Forbes, especializada em fortunas, o brasileiro do PSG é a única grande estrela do futebol que ganha mais fora de campo, com propagandas, do que dentro do gramado.
E como Pelé mesmo disse, ele vive se encontrando com o pai de Neymar nas gravações de comerciais.
Uma crítica ácida do melhor de todos os tempos poderia criar um clima com o capitão de Tite, dono de todas as faltas e pênaltis, intocável e que exigiu a camisa 10 da Seleção Brasileira.
Todos sabem o quanto Neymar é egocêntrico.
E o que representa hoje no mundo do futebol, na Internet, na publicidade.
Quem conhece Pelé há décadas, como seus ex-companheiros do Santos e de Seleção Brasileira sabem o quanto sua personalidade é forte. E entendem que, ele não pode e não quer comprar uma briga escancarada com Neymar.
Até por uma questão comercial.
O pouco que diz já repercute.
Ele faria um bem enorme em seguir cobrando o jogador do PSG, quando fazia no período que ele atuou no Santos, sob o comando de Muricy Ramalho, por exemplo.
Mas Neymar se tornou uma divindade.
Intocável.
Por isso, o melhor de todos os tempos enxerga.
Mas faz de conta que não vê.
Enquanto isso, o jogador mais caro do mundo, que virou as costas para o Barcelona, foi para Paris para ser o protagonista, o melhor do mundo, acompanha a revista France Football colocado na 12ª colocação na disputa da Bola de Ouro.
A publicação é francesa.
Seus jornalistas acompanham o dia-a-dia do brasileiro no PSG.
Neymar conta com uma rejeição enorme entre os europeus.
Destacam o talento, mas enxergam e falam abertamente sobre sua vaidade, seu egoísmo dentro de campo. E fora dele.
Por ironia foi a imprensa francesa que batizou Pelé de Rei, em 1961.
E assume sua antipatia por Neymar.
Durante a Copa de 1970, Pelé deu entrevista para quem chegasse perto.
No Mundial da Rússia, Neymar adorava virar as costas aos cerca de 300 jornalistas que imploraram por uma palavra sua após os jogos. Mesmo os da TV Globo, antigos parceiros. Ele encarava os repórteres, sorria com o desespero pela entrevista, e passava reto.
Ele não tem ideia a revolta, o clima de ódio que dominava os jornalistas europeus por sua postura. Os brasileiros eram incrivelmente mais mansos.
A assessoria da CBF era cobrada, mas dizia que Neymar daria entrevista se quisesse.
O jogador do PSG tem quase 30 pessoas para proteger sua imagem. Mas ninguém para cobrar uma postura profissional. Ele não admite. Vive na bolha das suas redes sociais.
Pelé tem como assessor pessoal José Fornos.
Há décadas é ele quem molda a imagem do melhor de todos os tempos.
E o aconselha a fugir de polêmicas que considera desnecessárias.
"Se o Pelé tivesse um pouco de noção ou sensibilidade, faria uma revolução neste caso [racismo]. Ele tem mais repercussão que líderes políticos e religiosos. Mas não, prefere ficar falando besteira. E, na boa, nem quero mais falar dele. Não vale.
"Temos que falar de Muhammad Ali, Martin Luther King, Nelson Mandela... Estes, sim, foram grandes líderes que aproveitaram o espaço que tinham para brigar pelos negros. Abdicaram de suas vidas e compraram brigas sérias, coisa que o Pelé deveria fazer e nunca fez", decretou Paulo César Caju, companheiro no tricampeonato mundial no México.
O que combina com o pensamento do septuagenário.
Mas recomenda que uma vez por ano atenda a imprensa brasileira.
Por isso, a entrevista de Pelé publicada hoje pela Folha.
Neymar segue no seu casulo bilionário.
É o melhor jogador da Seleção, no seu período, com maior rejeição.
Mesmo a mansa imprensa brasileira não o poupa.
A imagem que deixará para seus netos, bisnetos, para a eternidade, não é auspiciosa.
A de atleta talentosíssimo.
Se tornará bilionário.
Mas vaidoso, egocêntrico, mimado.
Com a sorte de ter nascido em uma geração limitada.
O que obriga aos treinadores da Seleção a ficarem dependentes.
E que fazem de tudo para não contrariá-lo.
Aceitam todos seus caprichos.
Seus chiliques.
Seu egoísmo com a bola.
Situações que nem o melhor do mundo ousaria pensar.
Mas Pelé e Pepito têm noção da realidade.
E sabem.
Não valeria a pena comprar briga com Neymar.
Deixam que ele siga fazendo o que quer.
Sua carreira está passando, rápido.
Só terá uma Copa no auge da forma pela frente.
No México, Pelé tinha 29 anos.
E já duas conquistas.
Em 2022, Neymar terá 30 anos.
Nunca chegou sequer à uma decisão.
Mas já ganhou mais dinheiro do que todos os maiores jogadores nascidos neste país.
Inclusive Pelé.
Tem uma legião de dezenas de milhões de fãs tão ardorosos quanto sem poder de discernimento. Querem apenas ter o prazer de dar likes nos posts do jogador.
Até porque seus contratados apagam e bloqueiam os que ousam criticá-lo.
Pelé aprendeu.
Com o atual Neymar o que vale é ser superficial.
Como foi com o racismo, a ditadura militar, a corrupção...
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