Para enfrentar 'A Fazenda', Globo mostra que manda no futebol do país. E faz com que o Palmeiras jogue, no Dia dos Mortos, à noite
Emissora carioca não se importa se vai tirar a competitividade do Brasileiro. Fazendo com que Inter e Palmeiras joguem em horários diferentes. Tratou de fazer o Palmeiras atuar à noite na quarta. E ponto final
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Entre 2000 e 2015, o apelido do Palmeiras, nos corredores da Globo, era cruel.
"Derrubador de Ibope".
Foi o período que marcou o final da passagem da Parmalat até que a Crefisa assumisse o patrocínio total do clube.
Sem dinheiro para montar uma grande equipe e envolvida na construção do Allianz, o Palmeiras não conseguia grandes resultados, conquistas.
Corinthians e São Paulo eram os prediletos da emissora carioca, que ainda mantinha o monopólio do futebol no país.
Vem daí a birra, que dura até hoje, da torcida palmeirense com a rede de televião. Foram anos de desprezo, de poucos jogos em relação ao grande rival, o Corinthians.
Como para a Globo o que sempre contou foi o dinheiro dos patrocinadores, a situação mudou com as injeções bilionárias que o Palmeiras tomou da Crefisa e com o estádio mais bem localizado do Brasil pronto.
O dinheiro transformou o clube da Água Branca em uma potência.
Colecionador de títulos.
Como, desde a década de 80, a Globo mantém contrato de irmãos xipófagos com a CBF, a entidade que comanda o futebol no país adequa suas tabelas e horários de acordo com as exigências da Globo.
O dia 2 de novembro é consagrado no Brasil em homenagem aos mortos.
É feriado nacional.
Já foi muito mais respeitado.
Além de todo o comércio ficar fechado, as rádios e tevês transmitiam programas religiosos. Não tocavam músicas. Não havia festas. Cinemas ou fechavam ou exibiam filmes sacros.
Nem pensar em jogos de futebol.
Era uma data de introspecção.
Só que o mundo capitalista se impôs.
O feriado persiste no Brasil, mas o comércio e a diversão se impuseram.
Por conta do dinheiro.
Lógico que os jogos de futebol não ficariam de fora. A CBF deixou de desperdiçar o feriado, situação mais do que propícia para que as pessoas fossem aos estádios.
E o dia 2 de novembro de 2022 coincidiu para ser a provável data em que o Palmeiras será campeão brasileiro pela 11ª vez. Enfrentará o Fortaleza, no Allianz Parque.
Basta uma vitória simples e virá a conquista do título.
O único clube que tem meras chances matemáticas de brigar pela conquista, o Internacional, enfrentará o América Mineiro, em Porto Alegre.
O Palmeiras tem 74 pontos, dez a mais que o Internacional. Faltando quatro rodadas para o Brasileiro acabar. Uma vitória do time paulista e está tudo acabado.
Só que, quando a CBF e a Globo, é essencial que se destaque, bolaram a tabela, não sonhavam que essas partidas seriam decisivas.
Estavam marcadas para as 16 horas no Dia dos Mortos.
Horário atraente à família. Ao pai levar seus filhos e esposa para assistir aos jogos.
Mas a cúpula do esporte da Globo percebeu o óbvio.
Iria perder audiência com o provável jogo decisivo do Palmeiras à tarde.
Assim como o do Internacional.
O melhor seria levar as duas partidas para a noite.
Para enfrentar o programa A Fazenda, da Record TV.
Afinal, o Palmeiras deixou de ser o "derrubador de Ibope".
E o pedido/exigência da Globo chegou à CBF.
Os confrontos passariam a ser às 21h30.
A cúpula palmeirense aceitou, porque tem a certeza de que o estádio estará lotado, da mesma maneira.
A direção do Internacional ficou revoltada, porque sabe que perderá dinheiro na arrecadação, e não aceitou.
Exigiu jogar às 16 horas, como estava programado.
E assim será.
Correndo o risco de uma bizarra situação.
A de que o Internacional perdendo ou até mesmo empatando, o Palmeiras pisará no Allianz já campeão brasileiro. Sem a menor emoção.
Mas a emissora carioca tem a certeza de que terá maior audiência do que se a partida fosse à tarde. Situação que é um carinho para os patrocinadores do futebol, nesta época de crise.
Sim, a Globo faz o que quer com os Brasileiros da Série A e da Série B, da Copa do Brasil, das partidas da Seleção. Todas as organizadas pela CBF e das quais ela tem o direito de transmissão.
Está no regulamento das competições.
Os clubes aceitam por dinheiro.
E submetem seus torcedores a estas alterações, em nome de sua audiência.
A revolta de palmeirensenses e colorados nas redes sociais chega a ser ingênua.
Todo ano a Globo faz a mesma coisa.
O futebol é tratado como um produto seu, que compõe a grade de programação.
E acompanha o calendário de negociação com os patrocinadores, de janeiro a dezembro.
Por isso, o Brasileiro não acompanha, por exemplo, os principais campeonatos da Europa, que começam e terminam no meio do ano.
Porque não é neste período que a emissora negocia com seus patrocinadores.
Ou seja, o futebol brasileiro tem a CBF como organizadora.
E a Globo ainda com o direito de fazer o que quiser com os jogos.
Com partidas nas manhãs de domingo para chegar ao mercado exterior.
A ingenuidade precisa acabar.
Se há o risco de acabar a emoção, o suspense de o Palmeiras ser ou não campeão, por conta da partida do Internacional, não é problema da emissora carioca.
Ela quer é audiência à noite, horário mais nobre.
O que vale é o capitalismo, o dinheiro.
A emoção, a competitividade da competição, ficam em segundo plano.
E o Palmeiras, o ex "derrubador de Ibope", estará à noite, na próxima quarta-feira.
No Dia dos Mortos.
Para disputar a partida que pode ser o jogo "da taça".
E brigar com A Fazenda, da Record TV.
Os torcedores que compraram ingressos antecipados, programando a vida para o jogo do Palmeiras à tarde, só têm duas opções.
Ou pedem o dinheiro de volta.
Ou se submetem à emissora carioca.
E vão à noite ao Allianz Parque...
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