Palmeiras: líder impressionante. Deu uma lição ao Botafogo. 4 a 0 foi muito pouco
No encontro entre treinadores portugueses, a vantagem total de Abel Ferreira diante de Luis Castro. O Palmeiras não teve piedade. Se impôs como quis. No primeiro tempo marcou três gols. E Wesley fez o quarto, sensacional
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
No primeiro tempo, o Palmeiras não jogou.
Se exibiu.
Com o espaço oferecido pelo Botafogo, o time de Abel Ferreira mostrou todo seu repertório.
Várias jogadas ensaiadas de bolas paradas, ataques em bloco, triangulações pelas laterais, movimentação coordenada, intensidade, preparo físico exemplar e muita confiança.
Tudo isso facilitado com a liberdade que a equipe carioca dava, principalmente na intermediária.
Foi fatal.
Ainda mais no gramado sintético a que os atletas estão tão acostumados.
Foram três gols nos primeiros 45 minutos. Rony marcou dois e Gustavo Scarpa, o melhor em campo, fez um.
E, no segundo tempo, com o time se poupando, Wesley rompeu o roteiro.
Deu oito pedaladas diante de Daniel, depois ainda deu um "corte" no lateral e chutou no ângulo de Gatito. Golaço.
E liderança absoluta do time de Abel Ferreira no Brasileiro.
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Com o melhor ataque da competição, com 17 gols em dez jogos.
E com a melhor defesa, vazada apenas cinco vezes.
Não há questionamento do primeiro colocado.
O Botafogo sofreu muito porque é uma equipe ainda sendo montada.
Por mais que John Textor seja bilionário e tenha contratado jogadores importantes, um time não se monta de uma hora para a outra. É preciso tempo, paciência. Não é nada fácil o trabalho de Luis Castro.
O plano tático de Abel Ferreira foi cruel. No duelo com seu compatriota português, o treinador palmeirense usou todo o entrosamento, o conhecimento de quem chegou ao Brasil em outubro de 2020. Enquanto Luis Castro desembarcou no Rio de Janeiro apenas em março deste ano.
O Palmeiras atuou de forma intensa, compacta, com suas linhas ofensivas não dando chance para o Botafogo impor seu toque de bola mais lento, ideal ao enfrentar um adversário superior.
De maneira muito estranha, o time paulista tinha todo o espaço no seu setor ofensivo mais forte. Com Dudu e Marcos Rocha na direita. Muito bem acompanhados pelo cerebral Gustavo Scarpa, com toda a liberdade para correr por toda a intermediária, com Raphael Veiga contundido.
E o meia mostrou, principalmente no primeiro tempo, futebol impressionante.
Diante da frouxa marcação da equipe carioca, ele fez o que quis. Tabelou, infiltrou, deu arrancadas, chutou dentro e fora da área. E, principalmente, serviu os companheiros.
Desde os primeiros minutos de jogo ficou evidente a superioridade palmeirense. E o cheiro de goleada.
O Botafogo tinha problemas sérios com a bola no chão. E também pelo alto. Por uma questão de centímetros, não sai perdendo aos quatro minutos, quando Murilo cabeceou após escanteio. A bola bateu em Luan, que estava adiantado e foi para as redes de Gatito. O VAR corretamente anulou, mas foi o prenúncio do que viria pela frente.
Seis minutos depois, na jogada mais decorada do Palmeiras, o primeiro gol. Dudu, com muita consciência, serviu Gustavo Scarpa, que ocupou o lugar onde estaria Raphael Veiga, entre o lateral e zagueiro pela esquerda. A assistência sensacional foi para Rony bater de primeira, com gosto. 1 a 0.
A sede de gols do Palmeiras era estimulada pela inexplicável letargia, apatia, do meio-campo do Botafogo, que contaminava o time todo.
E, aos 17, o segundo golpe. Piquerez cruzou buscando Rony, a bola foi muito forte. Mas chegou no pés de Gustavo Scarpa, livre do lado direito. O chute rasante surpreendeu Gatito, que esperava o cruzamento. 2 a 0.
Os jogadores do Botafogo, que entraram sonhando com contragolpes, se mostravam completamente sem rumo, diante do toque de bola consciente do rival.
Mais oito minutos e Dudu acertou a trave de Gatito Fernandez, ao escorar cruzamento de Rony. Era só o Palmeiras que jogava.
E o goleiro do Botafogo fazia excelentes defesas, evitando o pior.
Até que, aos 32 minutos, Scarpa foi para a cobrança de escanteio. Perfeita, treinada. Na cabeça de Rony, que se antecipou à zaga. 3 a 0. Jogo mais do que decidido.
No segundo tempo, Luis Castro deixou de lado o plano fracassado de apenas contragolpear. E tratou de fazer seu time atacar. Correndo risco diante dos velocistas palmeirenses. O Botafogo tem potencial, Lucas Fernandes, Victor Sá, Saravia, Lucas Piazon, Patrick de Paula. Erison não pôde jogar, por conta de dores no tornozelo direito.
Mas é nitidamente um grupo de jogadores que tenta virar um time, em pleno Campeonato Brasileiro. O que é muito difícil.
Abel Ferreira, o treinador que mais reclama do frenético calendário deste país, sabia que a partida estava vencida. E tratou de poupar seus atletas. Já não havia mais a intensa marcação palmeirense na saída de bola. O técnico foi também substituindo seus principais jogadores.
E como conta com um banco de reservas de grande potencial, tratou de explorar os espaços deixados pelo Botafogo, ansioso pelo menos para descontar o placar.
Foi em um contragolpe que Wesley fez o mais belo gol do jogo.
O atacante havia entrado no lugar de Rony, aos 30 minutos da etapa final. Com muita vontade de mostrar que pode ser muito mais útil. E depois de 11 minutos em campo, tratou de impressionar quem assistia ao jogo.
Ele recebeu a bola pela esquerda, em velocidade, deu nada menos do que oito pedadalas diante de Daniel. Lembrou demais o inesquecível lance de Robinho, do Santos, na final do Brasileiro de 2002, diante de Rogério, do Corinthians. Foi o mesmo número de vezes que Wesley passou os pés sobre a bola.
Só que em vez do pênalti que Rogério cometeu, Daniel se manteve afastado. O que foi ótimo para o palmeirense, que ainda deu um corte no lateral, deixando a bola a caráter para o chute mortal, no ângulo de Gatito.
4 a 0, Palmeiras.
A partida estava acabada.
O placar mostrava a diferença entre as duas equipes.
Mas foi humilde.
O líder do Brasileiro poderia ter vencido por muito mais.
Mereceria.
Mas os três preciosos pontos foram conquistados.
E a liderança do Brasileiro.
Como desejava o ambicioso Abel Ferreira.
Ele está obcecado em ganhar o inédito título na sua carreira.
Enquanto isso, Luis Castro só quer montar um time...
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