Os reais motivos que fizeram a Globo não renovar o contrato com Galvão Bueno
Depois de 41 anos, ele vai parar de narrar futebol após a Copa do Catar, como o blog informou em 2018. Os motivos: perda de potência da voz; preservação da imagem de Galvão, 71 anos; e extinção de salários altíssimos
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Era o dia 21 de julho de 2018.
Este blog anunciou, cravou, o que a Globo confirmou apenas há dois dias, 24 de março de 2022.
A Copa do Catar será sua última de Galvão na emissora.
O narrador carioca faz aniversário no dia 21 de julho.
Ou seja, estará no Mundial com 72 anos.
A decisão de não renovar mais uma vez seu contrato fixo partiu da Globo.
Por vários motivos.
O primeiro deles está na preservação da história de 41 anos do polêmico narrador, voz oficial do esporte na emissora desde 1981. Para o novo comando não há cabimento expor Galvão, que perdeu potência na voz. Algo humano para quem tem 71 anos.
Vivido, esperto, inteligente, Galvão sabe que não tem mais fôlego e que sua voz sofre enorme distorção nos momentos fundamentais de uma partida de futebol. Como na hora dos gols. O que ele está fazendo desde a Copa de 2014, quando os primeiros sinais de desgaste já apareciam?
Passou a comentar mais do que narrar. A conversa com comentaristas, repórteres e ex-árbitros traz mais informações sobre o jogo. Mas a partida não é narrada de forma integral. Galvão passou a se poupar para os principais lances.
Galvão Bueno foi brilhante. Ele já tinha 63 anos quando passou a se poupar. Esticou sua permanência como o principal narrador da emissora carioca por mais oito anos. Não há como negar que se manteve como o principal, o melhor narrador do país por esses 41 anos. Para os novos comandantes da Globo não há motivo para manchar essa história permitindo que ele perca de vez a voz no ar.
2019 foi um ano marcante, que encaminhou a despedida de Galvão. Em novembro daquele ano, ele teve sérias dificuldades em narrar Grêmio e Flamengo, na semifinal da Libertadores, precisando até pedir desculpa aos telespectadores. Posou para as redes sociais com o aparelho de laser que acabaria com o edema em suas cordas vocais.
Só que em dezembro, no mês seguinte, ele teve um infarto, no Peru, para onde havia viajado para narrar a final da Libertadores, entre Flamengo e River Plate. Precisou se submeter a um cateterismo, às pressas, para desobstrução das artérias do coração.
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A Globo descobriu que ele não era eterno.
E a chefia de esporte "acordou" para o fato que não havia escolhido um substituto para o seu principal narrador. Primeiro tentou investir em Gustavo Villani. Ele foi contratado da Fox Sports com a bênção de Galvão Bueno.
Além de Galvão narrar, a Globo tentou popularizar sua imagem dando a ele a apresentação do programa "Segue o Jogo", após as rodadas do Brasileiro, em 2019. Não deu certo. Tanto que ele acabou substituído pelo apresentador Lucas Gutierrez.
E a cúpula voltou para a "ordem natural das coisas". Investir em Luiz Roberto, que, apesar de paulista, como Cleber Machado, já se tornou uma voz aceita entre os cariocas e os demais estados brasileiros, de acordo com pesquisas da emissora.
Para completar o quadro, há a enorme crise financeira que a Globo enfrenta. E a obrigou à mais intensa reformulação de sua história.
Dispensou inúmeros jornalistas importantes e "mais velhos". Assim como acabou com contratos fixos de atores históricos, que passaram a receber por obra realizada.
O salário de Galvão Bueno sempre foi tratado como um segredo de Estado. Há quem garanta que ele chegava a receber R$ 5 milhões mensais. Mas a hipótese mais difundida é que ele recebeu R$ 1 milhão até o fim de 2018.
A partir de 2019, quando foi cortada parte substancial das verbas federais, a emissora partiu para os cortes. E Galvão teria passado a ganhar R$ 500 mil, a metade. Só que com a liberdade inédita de começar a fazer publicidade.
Em 2019, sua voz estava nos voos da Gol. Depois, foi criado o quadro "Na Estrada com Galvão", em que ele mostrava lugares com veículos da Volkswagen.
Depois, encampou uma campanha da Serasa, e não parou mais. Postos Petrobras, WhatsApp, Santander, EQI Investimentos, Havaianas e TikTok.
Daí, voltou-se para a fonte de renda imensa que pode ser a internet, para uma "celebridade" como ele se tornou.
Na Olimpíada de 2021, as suas narrações foram filmadas. Não por acaso. Mas para atingir o público da internet. Criar a possibilidade de memes, humanizar Galvão. E lógico que deu resultado. Ele chegou a ir para os estúdios da Globo de chinelos Havaianas, na abertura da Olimpíada.
Ou seja, Galvão Bueno vai parar de narrar na Globo, mas segue com inúmeras fontes de renda.
O fato de ele parar de transmitir os jogos não significa, necessariamente, que não terá mais relação alguma com a emissora carioca.
É o fim de contrato do narrador.
Há a possibilidade de que ele se torne um apresentador especial de eventos, comente jogos. E siga no comando, por exemplo, do "Bem, Amigos".
Aliás, é algo que ele deseja.
Mas não está certo.
A Copa do Mundo marcará sua despedida das transmissões.
Há intermediários tentando reaproximá-lo de Neymar.
Os dois estão rompidos desde a Olimpíada de 2016, quando Galvão criticou o comportamento do jogador.
A emissora carioca trabalha para uma despedida inesquecível.
Dar o adeus digno ao narrador mais importante de sua história.
O "vendedor de emoções", como adora se intitular.
Cujas narrações vão terminar até para que seja preservado...
Veja as seleções já classificadas para a Copa do Mundo de 2022
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