Os palavrões públicos do técnico, e psicólogo, Fernando Diniz a Tchê Tchê. Jogador que enfrentou a depressão no São Paulo
O meio-campista revelou que teve de conviver com depressão no Morumbi. O técnico Fernando Diniz não percebeu. E xingá-lo só afetou ainda mais o jogador. Nunca mais o rendimento de Tchê Tchê foi o mesmo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Além de treinador, Fernando Diniz é psicológo.
Formado pela Universidade São Marcos, na capital paulista.
Ele declarou que decidiu fazer psicologia porque percebia que os atletas de futebol eram tratados como 'objetos'.
E como treinador desejava tratá-los de maneira mais humana.
Só que não conseguiu enxergar que tinha um atleta, que era próximo a ele, no São Paulo, que estava afundando em depressão.
E que conseguiu piorar de vez o estado mental de Tchê Tchê. Ao desmoralizá-lo publicamente.
Na partida contra o Bragantino, no dia 6 de janeiro de 2020, o treinador ficou histérico quando o jogador ousou questionar uma determinação tática, gritada por Diniz.
A partida estava sendo transmitida e o diálogo foi gravado. E, depois, repassado por inúmeros veículos de comunicação.
"Não posso falar com você?", perguntou Tchê Tchê, assustado com a postura do técnico.
"Não pode mesmo", avisou Diniz, antes de xingar seu comandado.
"Tem que jogar, c... Seu ingrato do c.... Seu perninha do c....
"Seu mascaradinho do c...,
"Vai se f..."
Fernando Diniz não perdeu só o jogo por 4 a 2, mas também a admiração dos seus jogadores e da direção do São Paulo.
Pior ele fez com Tchê Tchê, que assumiu ontem ter vivido uma crise de depressão no Morumbi.
E Fernando Diniz não percebeu.
"No começo da minha passagem pelo São Paulo, eu levantava de manhã pra ir treinar, mas não tinha vontade. Nem de treinar, nem de jogar, tá ligado? Fui ficando sem ânimo pra fazer as coisas, não queria sair de casa. O sofá e o colchão da cama me sugavam como se fossem areia movediça. Eu só afundava e chorava. Chorava o tempo todo.
"(...) Depois de cinco meses só saindo de casa pra treinar e jogar, um dia fui ao cinema com a minha esposa. Foi difícil e estranho estar no meio das pessoas. Eu achava que me olhavam, sabiam que eu sofria de depressão e pensavam “mas que frescura”.
"Tem muita gente que acha que depressão é frescura. Não é.
"A galera olha pra gente, jogador profissional, e só enxerga o carro, a casa, o salário, as taças", escreveu ao Players Tribune, plataforma onde os jogadores escrevem o que viveram, nas suas palavras.
Tchê Tchê foi claro o quanto a bronca pública de Fernando Diniz fez mal a ele.
"Não foi um negócio saudável pra mim. Fiquei com muita raiva, uma raiva incontrolável. No final das contas eu agi da maneira certa e as coisas continuaram dando certo pra mim. Eu não precisava virar para o cara e xingar.
"Eu não fui criado assim. Do mesmo jeito que eu não sou um ‘mala’, eu não sou um cara desrespeitoso. O cara (Diniz) me conhecia, tinha uma ligação forte, então acho que foi uma coisa desnecessária."
Coincidência, ou não, o futebol de Tchê Tchê nunca mais brilhou. Ele foi emprestado para o Atlético Mineiro, onde também acabou perdendo a posição. E acabou vendido ao Botafogo, com grande prejuízo para o São Paulo.
O clube paulista gastou R$ 25 milhões para comprá-lo do Dínamo de Kiev. E o vendeu ao time carioca por R$ 15 milhões.
Fernando Diniz tentou explicar o ataque público de fúria.
E tentou 'se desculpar'.
"Tchê Tchê é um problema que começamos a resolver internamente, conversei separadamente com grupo e precisamos andar.
"Foi um erro que cometi, pedi desculpas para o Tchê Tchê pela exposição e o time. Mas também a culpa tem uma curva que é benéfica e depois te traz prejuízo. É olhar para frente, o momento de crescer mais como time. Aquele episódio serve e servirá para termos relações melhores."
Não foi o que aconteceu.
Pelo contrário, o time passou a jogar cada vez pior. Até que Diniz foi demitido em fevereiro de 2021. A goleada que o São Paulo sofreu do Internacional, por 5 a 1, acabou fundamental para sua saída. O treinador não conseguiu um título sequer no Morumbi.
Aliás, seu título principal como técnico, segue sendo o Campeonato Paulista da Terceira Divisão, com o Audax. Em 2009, há 13 anos.
Tchê Tchê garante que a depressão ficou para trás.
E que está alegre no Botafogo.
Ele aprendeu no São Paulo que a família é que lhe dá sustentação.
Principalmente psicológica.
Não treinadores.
"Hoje eu estou bem. Muito bem, graças a Deus. Agora no Botafogo, sou de novo a melhor versão de mim. Sei disso porque cheguei com sede de aprender, de me tornar um jogador mais completo, de continuar sendo o cara que carrega o piano pros companheiros tocarem. O guerreirinho de sempre, que, se precisar, vai correr pelos outros.
"É assim que eu sou feliz no futebol.
"De vez em quando sai um gol de fora da área, mas o que eu faço de melhor é carregar o piano. Então eu vou, chego todo dia no clube, trabalho duro, dou o melhor de mim nos treinos e nos jogos e volto de cabeça erguida pra casa, pra minha família, que é o meu porto seguro.
"O corre é louco, parça. Posso até não agradar todo mundo. Mas amanhã é outro dia. Eu vou simplesmente dormir e tentar de novo quando acordar."
A situação é exemplar.
A exposição de Tchê Tchê oportuna.
Jogadores de futebol não são máquinas.
E técnicos, mesmo psicólogos, precisam respeitá-los...
Você lembra como era o mundo da última vez que CR7 não jogou a Champions?
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