Os cinco erros capitais que explicam o vexame do Flamengo no Mundial. O principal: Vítor Pereira
A preparação do Flamengo foi fraquíssima. A venda de João Gomes, absurda. Férias prolongadas. Aceitar o escândalo Vídal. E os erros de Vítor Pereira foram fatais. Vexame de não chegar nem à final do Mundial tem explicação
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Real Madrid, pode esperar...
"A sua hora vai chegar..."
Esse era o refrão da torcida do Flamengo desde que o time venceu a Libertadores da América, em 2022.
Só que esse encontro no Mundial de Clubes de 2023 não vai acontecer.
O Flamengo deu um vexame histórico, hoje, em Tânger.
Jogando muito mal, o time de Vítor Pereira foi derrotado, com facilidade, pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, por 3 a 2. O placar acabou injusto; a equipe carioca merecia ter sido goleada.
Depois de enorme expectativa, investimento em um time bilionário, a frustração.
A disputa do terceiro lugar no sábado.
O sonho de o time se tornar bicampeão mundial virou pesadelo.
Mas nada aconteceu por acaso.
O Flamengo cometeu pecados que explicam o vexame no Marrocos.
O grande responsável pelo fracasso foi o treinador Vítor Pereira.
Não será supresa se ele voltar demitido deste Mundial.
Aqui, os cinco pecados capitais.
1º) A péssima preparação.
O Flamengo fez seu último jogo de 2022 no dia 13 de novembro, contra o Avaí, pelo Brasileiro. E entrou em férias no dia seguinte.
A diretoria já não queria mais Dorival Júnior como treinador. Desejava Vítor Pereira, que se desligava do Corinthians, jurando que iria tratar da sogra, na Europa.
Mas, independentemente disso, a direção confirmou o retorno das férias no dia 26 de dezembro. Ou seja, os atletas ficaram 42 dias longe do futebol. Mesmo sabendo que o Mundial seria disputado em fevereiro ou março.
Fosse Vítor Pereira, fosse Guardiola ou a cozinheira Palmirinha o novo técnico rubro-negro, era óbvio que o tempo de descanso era grande demais. Os jogadores perderam forma física, ritmo. E tiveram pouquíssimo tempo para recuperá-los.
Ainda mais trabalhando sob o comando de novo técnico, com nova maneira de enxergar futebol, de treinar.
Foi enorme perda de tempo. Já contra o Palmeiras, na final perdida da Supercopa do Brasil, havia ficado evidenciada a falta de vigor físico do campeão da Libertadores.
Em Tânger, hoje, em vários momentos o time do Flamengo se mostrou cansado, mais lento nas disputas de bola com os jogadores do Al-Hilal. Não havia força física.
David Luís, Arrascaeta, Gerson e Everton Ribeiro foram os que mais sentiram. E jogaram muito abaixo do que poderiam hoje, no fundamental jogo contra o time árabe.
A derrota carioca, com o time muitas vezes parecendo estar andando, não foi por acaso.
2º) A venda, e entrega, de João Gomes.
O Flamengo tinha um dos melhores marcadores do futebol da América do Sul. Jogador que se desdobrava, protegendo David Luiz, Matheuzinho, Léo Pereira: João Gomes.
A direção teve a ganância de obter os 17 milhões de euros, cerca de R$ 94 milhões, pelo atleta, pagos pelo Wolverhampton, da Inglaterra.
E usar parte desse dinheiro, 15 milhões de euros, R$ 83 milhões, na compra de Gerson.
Só que a diretoria rubro-negra deveria ter sido mais rígida com o Wolverhampton. E só entregar João Gomes em junho, na próxima janela europeia.
Por conta da disputa do Mundial de Clubes.
Não fez.
E o que se viu hoje no estádio Ibn Batouta foi Thiago Maia e Gerson, jogadores de mesmas características, marcando mal, dando espaço para o Al-Ahli trocar bola à vontade na intermediária.
A derrota rubro-negra teve origem na falta de proteção à falha defesa flamenguista.
3º) Escândalo Vidal.
O estrelismo do midiático volante chileno, ao perceber que começaria 2023 como terminou 2022, na reserva, implodiu o clima do Flamengo para o Mundial.
O jogador deixou bem claro, mandando um recado ao Colo Colo, clube mais popular do Chile, que, se quisesse vencer a Libertadores, teria de contratá-lo. Em seguida, atirou seu par de chuteiras ao chão, do banco de reservas, ao não entrar para enfrentar o Boavista, cinco dias atrás.
Tremendo desrespeito a Vítor Pereira e aos seus companheiros.
A direção do Flamengo decidiu não tomar uma atitude firme, que seria deixá-lo no Brasil. Ou, se ele quisesse, rescindir seu contrato.
Não fez nem uma coisa nem outra.
Levou-o para o Marrocos.
Anunciou uma multa no seu salário e avisou que não perdoaria qualquer outro ato de rebeldia. Vidal acabou entrando nos últimos minutos de jogo contra o Al-Hilal, mas nada de útil produziu. Ele tem a mesma característica de Gerson e Thiago Maia. Só mais lentidão, por conta da idade. Em maio, completará 36 anos.
Com a queda na semifinal do Mundial, há risco de que rescinda seu contrato na volta do Flamengo para o Brasil.
Mas aí será tarde...
4º) Matheuzinho e Varela.
Rodinei nunca foi craque. Mas é melhor jogador que Matheuzinho e Varela. A direção do Flamengo reservou dois jogadores limitadíssimos para uma posição fundamental no Flamengo: a lateral direita.
O titular é o defensor mais próximo do lento David Luiz. Tem de auxiliar um ataque com tendência a atacar pela esquerda. E ainda ajudar a proteger o veterano zagueiro central da seleção brasileira de 2014.
Tanto Matheuzinho quanto Varela são falhos demais na marcação. Afobados, deixam espaço demais aos atacantes adversários.
E foi o que o Al-Hilal aproveitou como pôde hoje.
Matheuzinho teve atuação desastrosa. O pênalti que cometeu por pura afobação começou a fazer o frágil Flamengo desabar.
Vítor Pereira, nessa situação, não tem culpa.
Faltou visão à direção rubro-negra de antecipar a extrema necessidade de um grande lateral-direito.
5º) Vítor Pereira.
O treinador português se mostrou enorme decepção na Gávea.
Dorival Júnior cansou de demonstrar que o elenco flamenguista é formado por jogadores vividos, experientes, vencedores, mas muito egocêntricos.
Vítor é um técnico ríspido, rígido, hierárquico. Ao contrário de Dorival, ele não faz alianças com o elenco. Não está preocupado em deixar o clima amigável, não se preocupa com o bem-estar psicológico do grupo. Acredita que cada um sabe a sua responsabilidade.
Chegou como o técnico europeu que faria o Flamengo desbancar o Real Madrid e conseguir o bicampeonato mundial. Seus conceitos táticos modernos, que fizeram "milagre" com o elenco curto e envelhecido do Corinthians, deveriam fazer maravilhas com o Flamengo.
Só que ele já não teria a dedicação a mais dos jogadores, por sua postura fria. Não percebeu o apoio até afetivo a que os atletas estavam acostumados.
Depois, enfrentou muito mal a situação que envolvia Vidal. Por seu distanciamento, simplesmente acreditou que o midiático jogador chileno aceitaria a reserva em 2023, depois de 2022. Vidal não quis nem saber se Gerson havia voltado ou não. Ele queria ser titular e implodiu o clima na Gávea, usando as chuteiras para protestar pela reserva.
Mas foi dentro do campo que Vítor Pereira comprometeu seriamente o sonho do bicampeonato mundial.
Ele não agiu ao ver que Gerson ainda não conseguira recuperar o ritmo de jogo, já que estava na reserva dos reservas no Olympique. E que tem as mesmas características de Thiago Maia. Ótima saída de bola. Ajuda os meias na construção dos ataques, mas marca mal.
Abel Pereira e Ramón Díaz se aproveitaram dessa fragilidade dos volantes flamenguistas. E o Palmeiras e o Al-Hilal se aproveitaram da intermediária carioca para vencer seus jogos importantíssimos.
Além disso, Vítor Pereira não conseguiu dar compactação, intensidade ao Flamengo. O time se mostrou espaçado, fácil de ser atacado. Qualquer roubada de bola adversária se transformava em um sufoco para a defesa rubro-negra.
Incrível como o técnico sacrificou Arrascaeta e Everton Ribeiro, fazendo com que os dois grandes articuladores jogassem distantes, sacrificados, tentando ajudar a frágil marcação de Gerson e Thiago Maia.
As substituições de Vítor Pereira, principalmente hoje, foram danosas, venenosas para o Flamengo.
Trocou Arrascaeta por Pulgar, ainda no intervalo. E Everton Ribeiro por Everton Cebolinha, aos 23 minutos do segundo tempo.
Como Gerson havia sido expulso aos 53 minutos do primeiro tempo, por um pisão, que resultou em pênalti em Vietto, Vítor Pereira deu uma demonstração pura de desespero ao escancarar seu meio-campo.
O Al-Hilal marcou três gols, acertou uma bola no travessão e perdeu pelo menos dois gols feitos, enquanto o Flamengo conseguiu um gol em jogada trabalhada e outro ao acaso.
Enquanto Santos trabalhou muito, Almuaiouf não foi exigido.
A pressão em Vítor Pereira já é enorme.
O trabalho do treinador português está péssimo neste início.
O importante, que fica para a história.
Nada do que aconteceu hoje em Tânger foi por acaso.
O Flamengo caiu diante dos seus próprios erros.
Como foi com o Internacional diante do Mazembe.
O Atlético Mineiro contra o Raja Casablanca.
Como o fracasso do Palmeiras frente ao Tigres.
O rubro-negro não chega nem à final do Mundial.
O Real Madrid terá de esperar mesmo.
Como previu a torcida apaixonada do Flamengo...
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