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Obrigação de Jefferson. Dizer quem não queria negros no gol do Brasil

O ex-goleiro revelou que ficou de fora da primeira lista do Mundial de 2003 por ser negro. A pessoa estava na CBF. Acabou a ingenuidade

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Jefferson precisa revelar quem da CBF não queria negros no gol da Seleção
Jefferson precisa revelar quem da CBF não queria negros no gol da Seleção Jefferson precisa revelar quem da CBF não queria negros no gol da Seleção

São Paulo, Brasil

Jefferson foi um excelente goleiro.

Exemplo de líder no Botafogo.

Jamais disputou uma Copa do Mundo.

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Nem no seu auge foi lembrado.

Nas 22 partidas que disputou pela Seleção, foram 13 amistosos, quatro partidas de Copa América, quatro Superclássico (amistoso contra a Argentina) e apenas um jogo pelas Eliminatórias do Mundial.

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Aos 35 anos, encerrou a carreira e será para sempre considerado um dos grandes jogadores da história do Botafogo.

Mas ele tem a oportunidade de ouro de fazer história.

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Veja mais:Jefferson revela ter ficado de fora da Seleção sub-20 por ser negro

Já deu um passo gigantesco mostrando o que, desde Barbosa, sempre se acreditou há preconceito e desconfiança em relação a negros atuando como goleiro da Seleção Brasileira. A intolerância parte de dentro da CBF.

"Eu tinha a oportunidade de disputar o Sul-Americano e o Pan-Americano pela sub-20, na época peguei o Valinhos como treinador, me ajudou muito.

"No Mundial peguei o [Marcos] Paquetá, que também é um cara que sempre gostou do meu futebol. Na convocação para a sub-20, estava praticamente decretada quem seriam os goleiros: na época estávamos eu, Fernando Henrique e Fabiano. Quando saiu a convocação para a sub-20, que na época ia ser em janeiro,, eu estava certo que meu nome estava lá, e para minha surpresa, quando vi no jornal a convocação, meu nome não estava lá.

Fiquei muito chateado, falei: ‘poxa, o que aconteceu? Um mês me falou que atrás estava tudo certo. Mas continuei meu trabalho", começou a falar Jefferson, no programa Resenha, da ESPN/Brasil.

Descontraído, ao lado de ex-jogadores, Jefferson se encorajou e revelou um segredo de décadas.

"Eu estava no banco do Max no Botafogo, na Série B, e faltando um mês para a convocação nem estava esperando, recebi uma ligação: ‘E aí, está preparado para voltar à seleção?' Disse: claro. 'A gente ia te convocar lá atrás, só que a gente foi barrado, porque não poderia convocar goleiro negro. Tinha uma pessoa lá dentro [da CBF] que falou que não poderia convocar. Essa pessoa saiu e agora podemos fazer o que quisermos fazer."

Sim, vale a pena repetir a frase que ouviu.

"A gente ia te convocar lá atrás. Só que a gente foi barrado."

Com todas as sílabas.

No programa, Jefferson não quis dizer quem revelou que a cor de sua pele quase o tirou do Mundial. Nem quem proibiu sua convocação.

Se ele quer realmente fazer um bem para o país, precisa falar.

Jefferson só foi campeão mundial sub-20 por que o racista não estava mais na CBF
Jefferson só foi campeão mundial sub-20 por que o racista não estava mais na CBF Jefferson só foi campeão mundial sub-20 por que o racista não estava mais na CBF

É sempre bom recordar que, em 2013, Luiz Felipe Scolari revelou que o próprio Jefferson sofreu preconceito racial, quando começou sua carreira, no Cruzeiro.

"Uma pessoa lá do departamento amador (do Cruzeiro) tinha contratado um outro goleiro de Londrina, um alto e loiro. E o Jefferson é preto, grandão. Eles tinham mais predileção para colocar o outro goleiro, porque achavam mais interessante. Eu achava que o Jefferson tinha muitas qualidades, e ele continua mostrando até hoje.

Tinha para mim que era o goleiro que eu deveria apostar. E hoje se encontra comigo na Seleção. É sinal que não errei naquela escolha", disse o técnico para o site esportivo da Globo.

O Brasil teve pouquíssimos goleiros negros ou pardos.

Foram 12, dos 102 convocados até hoje.

Nelson da Conceição, Dida, Helton, Gomes, Manga, Lula entre outros.

A origem é facilmente explicável.

O futebol tem a origem aristocrática.

A alta elite proibia os negros de jogar futebol.

Os primeiros pardos a se aventurarem, pintavam os rostos de pó de arroz.

O Vasco foi oficialmente o primeiro clube deste país a aceitar negros, mulatos e pobres. 

Em 1923.

Em relação a goleiros negros, o caso mais marcante foi de Barbosa, que atuava no Vasco.

Melhor goleiro disparado de 1950, foi o culpado pelo Brasil haver perdido a primeira Copa do Mundo que disputou em casa.

"Fui o único brasileiro que teve pena perpétua", declarou o falecido jogador.

Ele sofreu inúmeras humilhações.

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A pior foi a de 1993, quando Carlos Alberto Parreira barrou sua entrada na Granja Comary. A Seleção Brasileira se preparava para o Mundial de 1994. O técnico não quis o goleiro responsável pela derrota de 1950 junto a seus jogadores na concentração.

Barbosa morreu amargurado, depressivo.

O preconceito contra o negro no gol do Brasil se consolidou com Barbosa
O preconceito contra o negro no gol do Brasil se consolidou com Barbosa O preconceito contra o negro no gol do Brasil se consolidou com Barbosa

Depois de Barbosa, apenas Dida, como goleiro negro, teve reconhecido sucesso.

Foi titular da Copa de 2006.

Os três goleiros convocados por Tite para a Copa de 2018 foram todos brancos.

Allison, Enderson e Cássio.

Depois do fracasso do Mundial, Alisson e Enderson seguem sendo convocados.

Jefferson precisa terminar o que começou.

Para a opinião pública ter certeza.

O preconceituoso ficou longe da CBF de vez.

Não está travando a carreira de mais ninguém.

O IBGE mostra, no levantamento feito em 2017, que o Brasil tinha 205 milhões de pessoas. 116 milhões, a maioria, formada por negros e pardos. A esmagadoria maioria restante era de brancos. E menos de 5% de amarelos, descendentes de orientais.

Se há o preconceito ao goleiro negro, a hora é essa.

O Brasil só foi ter um goleiro negro na Copa, depois de Barbosa, em 2006. Dida
O Brasil só foi ter um goleiro negro na Copa, depois de Barbosa, em 2006. Dida O Brasil só foi ter um goleiro negro na Copa, depois de Barbosa, em 2006. Dida

Jefferson tem a obrigação de fazer sua parte.

Se omitir agora seria colaborar com o preconceito.

Esquecer tantas carreiras que foram prejudicadas.

Travada até.

Apenas porque a cor de pele era negra...

Veja imagens de jogos nas principais ligas da Europa neste sábado:

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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