O triste caminho, do vexame, do midiático Cruzeiro. Gabigol, Dudu, Cássio. Três treinadores. Matheus Pereira fora da semi. Eliminação
Elenco estelar provoca enorme desilusão. É derrubado pelo humilde América, na semifinal do Mineiro. Com direito a Cássio defender pênalti aos 50 minutos do segundo tempo. Na decisão por penalidade, a justiça. Os erros foram muitos. Dinheiro só não basta
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Sábado à tarde, 22 de fevereiro de 2025.
Ao mesmo tempo que o Flamengo goleava o Maricá, por 5 a 0, com futebol empolgante, e conquistava a Taça Guanabara, algo bem diferente se passava em Belo Horizonte.
O bilionário elenco do Cruzeiro era eliminado da final do Campeonato Mineiro pelo modesto América.
Se a torcida flamenguista fazia enorme festa no Maracanã, os cruzeirenses vaiavam, xingavam seu time no Independência.
Se Filipe Luís celebrava ter o time ‘que joga com alegria’, Gabigol saía com a cabeça baixa, envergonhado. Calado, fugindo da imprensa.
Mas o que levou o Cruzeiro a se tornar a primeira desilusão no futebol brasileiro em 2025?
Afinal, tudo indicava o contrário no final de 2024.
A imprensa mineira divulgava com orgulho.
A rede de supermercados de Pedro Lourenço, dono da SAF do gigante mineiro, chegou a mais de R$ 20 bilhões em receitas.
Pedrinho autorizou o executivo Alexandre Mattos a investir ainda mais do que no ano passado.
A meta era montar um elenco capaz não só de ‘roubar’ a hegemonia de Minas Gerais, tirando o protagonismo do Atlético.
Mas se firmar como o melhor do Brasil.
Só que a ansiedade dominou, sabotou os planos.
A pressa por resultados imediatos implodiu Fernando Diniz, o técnico que mais demora para montar times competitivos no país.
Ele foi demitido sem dó, deixando claro o erro na escolha no final da temporada passada.
Wesley Carvalho assumiu como interino, enquanto Mattos corria atrás de treinador.
Insistiu com os portugueses Luís Castro e Carlos Carvalhal.
Ouviu ‘não’.
Assim como de Renato Gaúcho.
Ou seja, não havia filosofia definida.
A direção procurou técnicos que optam por atacar de forma reativa, de forma posicional e outro de extrema movimentação.
Mattos conseguiu Leonardo Jardim, que gosta de seus times atuando de forma intensa, com movimentos coordenados, com poucos espaços aos adversários, de muita força física.
E que, óbvio, demora para conseguir encaixar peças que ele não escolheu, só herdou.
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Por mais que tenham ‘nome’ como Gabigol, Matheus Pereira, Cássio, Fabrício Bruno, Dudu, Eduardo, Lucas Romero, Kaio Jorge.
Em 12 partidas, o Cruzeiro chegou a ter três treinadores em 2025.
Algo inadmissível, diante da enorme expectativa da torcida, da mídia de Belo Horizonte.
E, principalmente, do dono da SAF, Pedro Lourenço.
Ele não é conhecido por paciência com treinadores e escalação de atletas contratados a peso de ouro.
O áudio vazado no ano passado foi a maior demonstração de sua impaciência.
Pedrinho revelava a um amigo a cobrança que fez a Fernando Seabra, então treinador do clube.
“Eu cheguei para o técnico e falei assim: ‘Ou você escala os jogadores que contratou ou você pode arrumando a sua mala aí que não passa desse jogo não’. Falei com ele que se não precisasse desses jogadores eu não teria contratado e ficaria só com os que estão aqui. Aí eu dei uma dura nele do caramba (…).
“Vai jogar hoje no ataque com o Lautaro, que é o argentino que veio, e o Kaio Jorge. O Matheus Henrique no meio, e o Walace vai ficar no banco porque ainda não está 100%. Mas vão jogar três dos contratados, vão sair de titular. Vamos ver o que vai dar. Tem que melhorar, pois os caras tão saindo caro. Você acha que eu dou mole? Parti para cima dele (risos).”
As palavras foram verdadeiras, foram de Pedro Lourenço.
O que aconteceu? Fernando Seabra foi demitido, apesar de ter levado a equipe à semifinal da Copa Sul-Americana.
Chegou Fernando Diniz. Ele perdeu o título.
Não foi capaz de levar o clube à Libertadores deste ano.
Ficou sem emprego no início do ano.
Wesley Carvalho esquentou o banco para Leonardo Jardim.
O fraquíssimo Campeonato Mineiro facilitou a classificação à semifinal.
Mesmo com uma campanha irregular.
Três vitórias, dois empates e três derrotas.
E veio a semifinal diante do América, do técnico Willian Batista que, em 2017, sem emprego, trabalhava como motorista de Uber.
Com seu competitivo, mas modesto time, conseguiu equilibrar os dois jogos contra o Cruzeiro.
Empates em 1 a 1.
No jogo de ontem, algo surreal.
O melhor jogador do Cruzeiro, Matheus Pereira, esteve envolvido em uma negociação com o Zenit. O clube russo chegou aos 20 milhões de euros, cerca de R$ 119 milhões.
Em maio, o atleta completará 29 anos.
E sua esposa terá o primeiro filho.
A direção aceitou a venda, o jogador, primeiro quis ir, depois recuou.
Só que nesta semana ele ficou longe dos treinos decisivos para o confronto com o América.
Jardim decidiu não o colocar no time e nem no banco.
Por ‘respeito’ aos que treinaram.
E por ‘problemas particulares’ de Matheus Pereira, ou seja, sua indecisão em ir ou não para a Rússia.
O técnico virou as costas ao meia decisivo.
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Melhor para o América.
A equipe treinada por Willian Batista teve a vitória nos pés de Jonatas.
Aos 50 minutos do segundo tempo, ele cobrou pênalti.
Cássio encaixou a batida.
Mas veio a decisão exatamente por penalidades.
4 a 2 América, com direito a infantil provocação de Gabigol ao goleiro Matheus Mendes.
Ficou constrangedor para o ex-artilheiro do Flamengo.
Durante a partida de ontem, ele perdeu dois gols feitos, cara-a-cara, que poderiam ter definido o jogo.
Aliás, no Mineiro, mesmo contra adversário limitadíssimos, ele só marcou cinco vezes.
E quatro de pênaltis.
Seu salário é de R$ 2,5 milhões, repete a mídia de Belo Horizonte.
Com a eliminação, o Cruzeiro desperdiçou, pelo menos, R$ 5 milhões, de arrecadação.
Completou seis anos sem a conquista do Mineiro, jejum igual a 41 anos atrás.
Ficará cinco semanas sem entrar em campo.
Leonardo Jardim deixou claro que aproveitará o tempo para montar o ‘seu’ time.
Independente de nomes.
‘Investimento não é sinônimo de bons jogadores.”
Ou seja, ficou claro que o técnico deseja reforços.
Com a diferença é que eles serão escolhidos por ele e não pela diretoria, como aconteceu com Fernando Seabra, Fernando Diniz e Wesley Carvalho.
Pedro Lourenço já gastou R$ 227 milhões em atletas.
Ronaldo Fenômeno, ex-dono, havia investido R$ 108 milhões.
Ou seja, as escolhas na formação do time serão mais criteriosas.
Menos midiáticas.
Para evitar vexames como o de ontem.
A folha de pagamento na Toca da Raposa é de R$ 21 milhões.
A do América? R$ 3,5 milhões...
A última volta olímpica do Cruzeiro foi constrangedora.
A ‘conquista’ da Segunda Divisão, em 2022.
O gigante está sendo muito mal tratado...