O Santos não aposentará a camisa 10, a que mais vende. E nem batizará a Vila Belmiro como Pelé. Espera vender os naming rights
O melhor de todos tem um funeral mais do que digno, organizado pelo Santos. Mas não receberá duas homenagens que já dominavam o imaginário popular. Nada de camisa 10 aposentada. E nem a Vila Belmiro se chamará Pelé
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Assim que a direção do Santos soube que a situação de Pelé era irreversível, tratou de organizar seu funeral. Da melhor maneira possível.
Respeitosa, organizada, para que os torcedores tivessem a possibilidade de chegar a cerca de 5 metros onde o melhor jogador de todos os tempos descansa.
Seguindo o que a Inglaterra ensinou no velório da rainha Elizabeth. Com os admiradores de Pelé passando em frente a Pelé, sem parar.
Desde as 10 horas, há muitas lágrimas, tristeza, agradecimentos.
Reconhecimento mais do que justo ao homem que mudou a geografia do futebol do planeta. Colocando o Brasil no primeiro patamar, com três Copas para o Brasil. Dois Mundiais de Clubes para o Santos e mais duas Libertadores.
O clube colocou provisoriamente uma coroa em cima das duas estrelas que representam as conquistas dos Mundiais. E, também, não usará a camisa 10 nesta temporada.
Porém, como o blog havia antecipado, havia enorme resistência para a aposentadoria da camisa 10, que Pelé consagrou, de maneira definitiva.
Por um motivo muito simples.
Financeiro.
A camisa 10 é, disparada, a camisa que mais vende do Santos.
A direção da Umbro, que confecciona atualmente o uniforme do clube, sabe o que financeiramente representa a emblemática camiseta.
Diego, Ganso, Zé Roberto, Giovanni, Pita, Ricardo Goulart, Lucas Lima, Gabigol, Neto, Montillo, Madson, Molina, Petkovic, Rodrigo Tabata, Gerson Magrão, Renato Abreu, Geuvânio, Robert, Dodô, Paulinho Kobayashi, Kleber, Jorginho, Antonio Carlos Zago, Ailton Lira já ousaram vestir a camisa 10.
Mas, óbvio, os fabricantes de material esportivo do clube tomaram duas atitudes, diante da diferença técnica dos sucessores de Pelé. Vendiam a maioria das camisas 10 sem nome. Ou colocavam Pelé. E em menor número a do jogador que a vestia.
O presidente Andres Rueda, pressionado pela opinião pública, garantiu que levaria a sugestão da aposentadoria definitiva do número 10 ao conselho deliberativo.
Mas ele sabia que era uma postura emocional, e não profissional.
Até que chegou até ele uma antiga entrevista de Pelé, de seis anos atrás, do youtuber Bolivia Zica. Nela, o melhor de todos os tempos foi claro. Disse que não queria que ela fosse "aposentada".
"É melhor, talvez, deixar o número 10, porque aí o pessoal nunca vai esquecer", disse Pelé.
Bastou para o presidente Andrés Rueda suspender definitivamente a ideia da aposentadoria do número 10, como a esmagadora maioria da diretoria queria.
Por conta da simbologia da camisa, evidentemente.
Mas também como maior atrativo para as fabricantes de material esportivo.
Com muito menos impacto, houve a sugestão de alguns conselheiros da possibilidade de mudança do nome do estádio do Santos.
Vila Belmiro é mero apelido. A localização "virou nome". Na verdade, o estádio se chama Urbano Caldeira.
Ele foi assim batizado em homenagem a um ex-zagueiro, que atuou entre 1913 e 1918. Urbano fez carreira na parte administrativa do clube. Tornou-se vice-presidente. Tinha enorme apreço ao estádio santista. Plantava árvores em volta e aparava o gramado onde aconteciam os jogos.
Quando morreu, em 1933, os dirigentes decidiram batizar o estádio com seu nome.
Não há comparação entre a relevância de Urbano e Pelé.
Só que o movimento também não interessa à direção.
Porque o clube está tentando, desesperadamente, a busca de investidores, dispostos a transformá-lo em Sociedade Anônima de Futebol, SAF.
E, no pacote, quer incluir os naming rights do estádio.
Não adianta o presidente da Fifa, Giani Infantino, pedir um estádio com o nome de Pelé em todos os países.
Se depender da administração Rueda, no Brasil seguirá como Pelé, o estádio em Maceió, em Alagoas. E que é conhecido no Nordeste como Trapichão.
O Santos deve mais de R$ 400 milhões.
As homenagens continuam sendo representativas, como o funeral.
E os drones que iluminaram o estádio com a imagem de Pelé.
Mas aposentadoria da camisa 10 e nome do estádio santista, não.
Em compensação, o ginásio do Ibirapuera terá o nome do melhor de todos.
Decisão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes...
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