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O primeiro erro grave de Ancelotti, que lembrou Tite. Tentar recuperar Paquetá. E impedir que a Seleção terminasse 2025 confiante, vitorioso

Ancelotti não permitiu que Estêvão, o melhor jogador contra a Tunísia, cobrasse o pênalti que poderia dar a vitória ao Brasil. Mandou que Paquetá, inocentado pela investigação de envolvimento em apostas, cobrasse. Ele isolou a bola. Fim de jogo, 1 a 1. ‘Veio a ordem’, disse Estêvão, constrangido

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Injustificável a atitude de Ancelotti. Melhor em campo, Estêvão já havia cobrado e marcado o gol do Brasil, de pênalti. Melhor em campo, se preparava para cobrar o segundo. Ancelotti quis recuperar Paquetá. Jogou fora a vitória do Brasil Rafael Ribeiro/CBF

Carlo Ancelotti tomou uma atitude que lembrou Tite.

O ex-treinador da Seleção adorava agradar os jogadores.


Mesmo indo contra a filosofia que pregava.

O maior exemplo foi se prestar a imitar um pássaro, em plena oitava-de-final da Copa do Mundo do Catar, depois de um gol de Richarlison contra a Coréia do Sul.


Zlarko Dalic, técnico da Croácia, pegou a imagem de Tite bailando e mostrou aos seus jogadores, que viram a comemoração precoce. Dalic insistiu com seus atletas que era menosprezo do Brasil aos croatas, adversários das quartas-de-final.

A Croácia ganhou o incentivo a mais que precisava e eliminou o Brasil. Com a colaboração da ‘dança do Pombo’, de Tite.


Tite se submeteu aos jogadores. Bailou a 'dança do Pombo' contra a fraca Coréia do Sul. Deu arma à Croácia que eliminou o Brasil Lucas Figueiredo/CBF

Em Lille, hoje, Ancelotti teve atitude parecida.

Não dançou, mas não agiu como um treinador frio, calculista, vencedor que é. Mas teve atitude paternal.


O Brasil sofria contra os tunisianos, muito bem treinados, com sistema de marcação excelente, 5-4-1, travando as ações ofensivas. E empurrados pelos africanos que vivem na França, palco do último amistoso do Brasil em 2025.

O jogo estava empatado em 1 a 1.

Mastouri havia feito 1 a 0 para a Tunísia.

O gol do Brasil foi de Estêvão cobrando pênalti, depois que Bronn cortou escanteio com o braço. O garoto de 18 anos, melhor em campo, bateu forte, cruzado, deslocando Dahmen.

A partida seguia equilibrada, até que Vitor Roque tomou a bola de Sassi na grande área. O zagueiro o segurou. Pênalti.

Eram 32 minutos do segundo tempo.

Estêvão ia para a bola.

Ia.

Porque do banco de reservas veio a ordem de Ancelotti para o capitão Marquinhos.

“Paquetá, Paquetá”, disse o italiano.

Não havia a menor lógica esportiva para a escolha.

Só emocional.

O meio-campista havia sido inocentado da acusação de manipulação de apostas. Foram três anos de investigação. A sua imagem foi afetada. Deixou de ser contratado pelo Manchester City, de Guardiola, pela acusação.

Além disso, perdeu a posição de titular na Seleção para Bruno Guimarães.

A escolha de Ancelotti surpreendeu o próprio Paquetá.

E frustrou Estêvão.

Rodrygo atuou no lugar de Raphinha, que não foi convocado por estar lesionado. Teve fraca participação hoje contra a Tunísia. Complicou lances fáceis Lucas Figueiredo/CBF

O meio-campista decidiu enfeitar a cobrança.

Deu um pulinho antes de bater.

Queria deslocar Dahmen. Só que o goleiro tunisiano ficou parado no meio do gol. E Paquetá se enervou e bateu forte na bola, longe, por cima do travessão.

O lance foi um banho de água fria na Seleção.

E o Brasil jogou fora a maior chance de terminar 2025 com inédita série de duas vitórias em uma data Fifa, já que havia vencido o Senegal.

Ancelotti se sentiu pela primeira vez pressionado na coletiva. O clima de insatisfação dos jornalistas era evidente.

Sua desculpa para escolher Paquetá beirou o constrangimento.

“Paquetá é o cobrador de pênaltis. Quando chegou o segundo pênalti, eu mudei porque pensei que ia tirar um pouco de pressão do Estêvão e o Paquetá geralmente cobra muito bem.”

No dia 29 de junho de 2024, contra o Paraguai, pela Copa América, Paquetá já havia cobrado para fora um pênalti.

A pureza dos 18 anos de Estêvão aflorou quando ele foi perguntado porque não cobrou o segundo pênalti.

“Estava com muita vontade de bater. Mas veio a ordem e dei (a bola) para o meu companheiro (Paquetá.).”

Paquetá acabou exposto, questionado, depois da péssima cobrança de pênalti. Ancelotti agiu de forma amadora Reprodução/Instagram Paquetá

Paquetá, que não esperava a ordem de Ancelotti, teve de explicar o motivo pelo qual perdeu o pênalti.

“Fico triste em não ter conseguido marcar e não ter ajudado a Seleção, a gente provavelmente venceria depois daquele pênalti. Estou muito habituado a fazer no meu clube, tenho grandes acertos, mas não esperei da maneira que espero.

“Ansiedade de fazer o gol acabou prejudicando um pouco. Vou tentar me colocar nessas circunstancias para evoluir nesse sentido para converter na próxima oportunidade e ajudar a equipe.”

Ancelotti, sentindo o clima de decepção, pelo empate, deu sua visão da partida.

“Tivemos um jogo muito mais difícil contra a Tunísia. Tínhamos falado que a Tunísia tem características diferentes, defende com um bloco muito baixo e pela nossa característica, dos jogadores que temos na frente, é mais complicado abrir essas defesas.

“Começamos o jogo mal, aos poucos reagimos, poderíamos ganhar e no segundo tempo, diante das dificuldades de poucos espaços, fizemos a partida que deveríamos fazer.”

O Brasil teve três mudanças em relação à ótima partida contra Senegal. Bento entrou no gol, no lugar de Ederson. E se mostrou muito inseguro, nervoso. Trouxe tensão à zaga.

Wesley entrou na lateral direita.

E foi mal demais.

Falhou no primeiro gol e deveria ter sido expulso, por duas faltas duras. Tomou o amarelo. Comprometeu a defesa.

Militão jogou como zagueiro, já que Gabriel Magalhães foi cortado. Estava bem na partida, até pedir substituição, contundido. E Caio Henrique entrou na vaga de Alex Sandro. E também mostrou fraco futebol, burocrático, sem ofensividade.

As laterais são problemas graves para o Brasil.

Ancelotti já tem a base de atletas que convocará para a Copa. Deixou claro isso, hoje, outra vez.

“Muitos jogadores estão certos na lista. Faltam alguns, mas a lista está bastante completa. Faltam dois amistosos, mas seis meses de jogos onde tudo pode acontecer. O calendário é muito exigente e o risco de lesão é muito alto.

“Então, acho que a equipe, o ambiente, estão no caminho correto para chegar no mais alto nível na Copa do Mundo. Tenho muita confiança nesta equipe e nesses jogadores, acima de tudo neste ambiente que é bom.

“Os jogadores são sérios, são profissionais, são patriotas, têm muito carinho pela camiseta e isso é muito importante.”

A cobrança firme, séria, convicta de Estêvão, no primeiro gol do Brasil. Não há justificativa racional para ele não ter batido o segundo pênalti Lucas Figueiredo/CBF

Ancelotti completou seu oitavo jogo na Seleção.

Foram quatro vitórias, dois empates e duas derrotas.

Se o Brasil não termina 2025 com um triunfo, a culpa é sua.

Que no próximo ano, ele aja mais como treinador.

E menos como pai dos jogadores.

Não se submeta a nova ‘dança do Pombo’, como hoje...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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