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Cosme Rímoli - Blogs

‘O Palmeiras era contra o próprio Palmeiras. Por isso, ficou 16 anos sem títulos. Defendi o Jorge Mendonça. Perdi a Copa de 1982.’ Rosemiro

Histórico lateral do Palmeiras em entrevista profunda, exclusiva. Fala sobre preconceito com nortista, Telê Santana, Claudio Coutinho, Brandão. Alcoolismo de Jorge Mendonça. Eurico Miranda, Castor de Andrade. Estava taticamente 30 anos à frente do seu tempo

Cosme Rímoli|Do R7

Rosemiro chegou no final da Segunda Academia. Mal sabia que começara o jejum de 16 anos do Palmeiras Palmeiras

“É esse aí, que quer jogar no Palmeiras?”

A pergunta foi de Leão, braços cruzados, olhando o jogador franzino, que chegara do Pará.

O goleiro da Seleção Brasileira encarava o lateral.

Olhava de cima a baixo.


“Eu sabia que ele queria me intimidar. Preconceito, lógico. Pensei: vou dar a resposta para ele em campo. Não vou brigar com o maior ídolo do clube, estou chegando agora. E, depois de me ver jogar, Leão teve de dar a mão à palmatória. Me disse que o Palmeiras havia acertado em me contratar.

“Hoje somos amigos, gosto muito dele.


“Mas não vou negar: foi um choque essa recepção.”

Seu nome se tornou inesquecível para a torcida do Palmeiras.


Rosemiro.

Um dos melhores da história do Parque Antártica. Taticamente pelo menos 30 anos à frente do seu tempo. Atuou entre 1975 e 1980 com a camisa verde. Foram cerca de 300 partidas.

“Eu não era um lateral comum, de só marcar, nem passar do meio-campo. Durante o jogo, exercia, duas, três funções táticas. Era lateral, volante, ponta. As pessoas se espantavam na época. Muitos jornalistas nem entendiam o que eu fazia.

“Mas há explicação. Quem me formou taticamente, na Seleção Olímpica, foi Cláudio Coutinho, um gênio. Depois peguei pela frente o Oswaldo Brandão, sensacional no comando de um grupo. E, finalmente, o Telê Santana, que antevia os jogos, a movimentação do adversário e adorava montar times ofensivos, poderosos.”

Aos 71 anos, Rosemiro segue com a memória viva e um corpo atlético. Dono de preparo físico incrível, quando jogava, viveu muitas histórias importantes. E generoso, repare algumas. “O Jorge Mendonça era meu grande amigo no Palmeiras. Veio de Pernambuco e acabou se perdendo na noite de São Paulo. Virou alcoólatra. Várias vezes chegava no treino virado, das noitadas. “O Telê Santana era muito rígido. E eu me coloquei várias vezes contra o Telê, que queria punir o Jorge. Ele precisava de ajuda, não de punições. Irritei tanto o Telê que, quando ele assumiu a Seleção Brasileira, foi muito homem.

“Me chamou para conversar e disse que não me levaria para a Copa do Mundo de 1982, apesar de eu merecer pelo que fazia em campo. Mas não poderia ter no grupo um jogador que o desrespeitava. Entendi e não me arrependo. Defenderia de novo, meu amigo Jorge Mendonça.” Rosemiro lembra também a espetacular semifinal do Brasileiro entre Palmeiras e Internacional.

“Tínhamos empatado em Porto Alegre, em 1 a 1. No Morumbi lotado de palmeirenses, tínhamos a chance de jogar com inteligência. Mas o Telê Santana só pensou no ataque. Nós jogamos abertos. Havia uma polêmica criada pela imprensa paulista, antes do jogo: quem era melhor? Mococa, nosso volante. Ou Falcão? “O resultado de Telê ter colocado o Palmeiras aberto. 3 a 2 Internacional. Com dois gols do Falcão, que teve uma atuação sensacional.

“O Telê sempre desprezou a chance de empatar jogos, mesmo sendo melhor para o time, para a Seleção. Por isso não estranhei a derrota contra a Itália na Copa de 1982. O Brasil atacando quando o empate bastava.”

Rosemiro, paraense, sentiu o choque da cidade grande, de São Paulo. O pior foi o apelido irônico que o grande narrador Osmar Santos decidiu colocar no lateral. ‘Namoradinho de Raquel Welch’, por seu rosto não ser bonito.

“Foi ruim. Gosto muito do Osmar, sei que ele não fez por mal. Mas ela doloroso. Principalmente para a minha família. Quem iria gostar dessa exposição? O Osmar me falou que estava só me promovendo. Mas já passou. Não sou pessoa que guarde mágoa.”

Rosemiro também não esquece a Olimpíada de 1984.

“Ficamos seis meses no preparando. Ganhamos o Panamericano. Tínhamos um timaço. Com Carlos, da Ponte, Júnior, do Flamengo, Batista, do Inter, Edinho, do Fluminense, Marinho, Botafogo.

“Ganhamos dos times da nossa idade, até 21 anos, éramos ‘amadores’. Todos com ‘contrato de gaveta’. Eu já era do Palmeiras, comprado do Remo. Só que enfrentamos os ‘amadores’ da Cortina de Ferro. Lá diziam que não existia o ‘futebol profissional’. Enfrentamos jogadores de 28, 30, 31 anos. Aí, não deu. Perdemos para a Polônia e para a União Soviética. Fomos quartos colocados.

“O Coutinho foi nosso técnico. O governo (ditadura) nos apoiou. Queria a medalha de ouro. Treinamos por seis meses, mas não conseguimos.” Rosemiro lembra que chegou ao Palmeiras no fim da segunda Academia. Foi uma pena. Venderam o Luís Pereira e o Leivinha para o Atlético de Madrid. O time sensacional estava sendo desfeito. Jogadores envelheceram. Ganhamos só o Paulista de 1976. “E a direção errou muito. O Palmeiras ficou contra o próprio Palmeiras.

“A oposição trabalhava contra a situação.

“Era muita vaidade.

“Daí o jejum de 16 anos sem títulos.

Hoje, o Palmeiras está espetacular. Mas na minha época, os dirigentes se sabotavam. A oposição sabotava a situação. O reflexo caía nos jogadores. Por isso formamos times fortes que não conquistaram títulos.

Foi um desperdício.”

Rosemiro fazia várias funções táticas: ala, lateral, volante, ponta. Em uma mesma partida. Jogador 30 anos à frente do seu tempo Reprodução/Instagram

A entrevista completa de Rosemiro está no Canal Cosme Rímoli, no YouTube.

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