O mundo acompanha a selvagem e vergonhosa Libertadores
O apedrejamento do ônibus do Boca foi transmitido ao vivo para todo o planeta. O time ia decidir a Libertadores contra o River. Vexame inesquecível
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O que começou como motivo de orgulho acabou em um episódio vergonhoso.
A Argentina mostrou ao mundo a realidade da Libertadores da América.
E da Conmebol, entidade com o carimbo da desorganização e corrupção.
Boca Juniors e River Plate estão decidindo o título da mais importante competição do continente sul-americano.
Pela primeira vez na história.
Dois dos maiores rivais do planeta.
A tensão no ar se dissipou depois do 2 a 2, na Bombonera.
A emoção havia vencido a violência, comemoravam jornalistas argentinos.
Mas eles não poderiam imaginar o que viria pela frente.
Nem os incompetentes dirigentes da Conmebol, preocupados em cercar de mimos o presidente da Fifa, Gianni Infantino. Nesta sexta-feira, o comandante da entidade sul-americana, Alejandro Domíngues, fez questão anunciar o que todos já sabiam. Todo o continente apoiará a reeleição do suíço/italiano.
Para que fique entre 2019 e 2023 e organize a Copa com 32 países no Catar. E garanta que, a partir de 2026, nos Estados Unidos, México e Canadá, o Mundial tenha 42 seleções.
Infantino aceitou o apoio e decidiu estar na decisão da Libertadores, no estádio Monumental de Núñez.
A Conmebol tratou de organizar um plano exemplar de proteção ao supremo dirigente do futebol mundial.
Mas se esqueceu de fazer o mesmo com o time do Boca Junior.
E veio o espetacular vexame.
O ônibus do time fez um trajeto absurdo para o estádio do grande rival.
A violência desmedida na Argentina e a falência dos órgãos de segurança, fizeram como, por exemplo nos clássicos em São Paulo, com que os dois jogos da decisão da Libertadores tivessem torcidas únicas. Havia sido assim na Bombonera.
Só que os vândalos das organizadas do River Plate resolveram se vingar de 2015, quando sua equipe sofreu um atentado a gás pimenta pelos 'barra bravas' do Boca Juniors. E trataram de bolar o plano mais elementar possível.
Aguardaram, perto do estádio, o ônibus.
Munidos de pedras enormes e garrafas cheias de cerveja.
Dentro, os atletas do Boca Juniors cantavam, se animavam para a histórica decisão da Libertadores.
E demoraram para perceber quando as janelas do ônibus começaram a explodir, atingidas pelo bombardeio dos vândalos.
Absurdamente, o ônibus não era blindado.
Foi uma sorte imensa os estilhaços dos vidros não terem ferido seriamente os atletas do Boca Juniors.
Pablo Pérez e Lamardo se machucaram e tiveram de ir para o hospita. Pérez, o caso mais grave, teve um mínimo corte em um dos olhos.
Pura sorte não ter ficado cego, disseram os dirigentes do Boca.
A polícia argentina assim que viu o ataque, tratou de liberar o caminho do ônibus explodindo bombas de gás pimenta em direção aos torcedores.
Mais sufoco dentro do ônibus.
A fumaça invadiu o veículo e vários jogadores passaram mal, chegando a vomitar.
Assim que a delegação chegou ao estádio, o treinador do Boca Juniors, Guillermo Barros Schelotto, tratou de avisar os dirigentes que seu time não tinha condições psicológicas de enfrentar uma decisão. A cúpula do time concordo e avisou aos representantes da Conmebol.
Chegou o caos.
A vergonha.
Mais de 200 países transmitiriam ao vivo a decisão.
Cerca de 900 jornalistas estrageiros credenciados estavam no Monumental.
Infantino percebeu a vergonha que passaria com o cancelamento do jogo.
E passou a pressionar Alejandro Domíngues.
A partida teria de acontecer de qualquer maneira.
O presidente do Boca, Daniel Angelici, se manteve irredutível.
Neste sábado não teria jogo.
O mais importante atleta do atual time do Boca, Carlito Tévez, fez seu papel. E falando aos jornalistas expôs a pressão da Conmebol para que o time entrasse em campo.
Mais vergonha.
Tudo ficaria pior.
Ao redor do estádio, a polícia resolveu cuidar, com atraso, dos vândalos do River Plate. E começou a perseguir e espancar quem estava perto do Monumental. Foi uma correria inacreditável, com bombas de efeito moral contra pedras atiradas pelos barras bravas.
Cenas deprimentes.
A Conmebol avisou aos jornalistas que a partida estaria adiada por uma hora. Mas não adiantou. O Boca Juniors não queria jogar. Tanto que seus atletas já estavam jantando, enquanto 66 mil torcedores esperavam o confronto. Era de dar pena.
Depois, novo adiamento. Mais uma hora e quinze para tudo ser acertado.
Em vão.
Os torcedores do River Plate perderam mais tempo no estádio.
Até que a Conmebol não teve saída.
A não ser anunciar que a partida aconteceria neste domingo.
Só que a direção do Boca Juniors ameaçava tomar outra decisão.
Entrar com um pedido na entidade para ser declarado campeão, sem jogar.
Quer que a Conmebol use o mesmo critério de 2015, quando vândalos do Boca Juniors atacaram a equipe do River Plate. E não aconteceu a partida decisiva das oitavas de final da Libertadores.
O River Plate foi declarado vencedor.
A maioria da diretoria do Boca Juniors quer que aconteça a mesma coisa.
E não haveria jogo final da Libertadores.
O que seria o maior vexame da competição, que começou a ser disputada em 1960.
Mas os dirigentes da Conmebol seguem negociando.
Uma possibilidade é que a partida aconteça, mas sem público.
Ou seja, sem torcedores do River Plate.
Os 66 mil que pagaram para ver a grande decisão seriam punidos por conta de um bando de vândalos.
Para complicar as coisas, por conta da superlotação e obstrução de saídas, depois da confusão como ônibus do Boca, o Monumental foi interditado pela prefeitura de Buenos Aires.
Mas, em outra atitude lastimável, a interdição valeria após a decisão da Libertadores.
A briga burocráticanão está ainda definida.
Vergonha de todos os lados.
Justo no último ano de decisão da competição com duas partidas, uma em cada estádio dos times envolvidos.
A partir de 2019, a Conmebol copiará a Uefa.
E adotará o mesmo critério da Champions League.
Um jogo só em um país anunciado antecipadamente.
No próximo ano será em Santiago, capital do Chile.
Em vez de copiar só fórmulas de disputa, a Conmebol deveria copiar a forma séria com que o torneio europeu é organizado.
E não passaria pelo inesquecível vexame deste sábado.
A selvageria do futebol sul-americano foi mostrado para o mundo.
Vitória dos vândalos...
(O jogo não aconteceu no domingo, a Conmebol não sabe que rumo tomar. Um vexame histórico...)
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