O medo de argentinos derrota o Palmeiras na Libertadores. De novo
Como na semifinal de 2018, contra o Boca, Felipão coloca o Palmeiras muito atrás jogando na Argentina. Postura ressuscitou o limitado San Lorenzo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Faltou definir, chutar a bola no gol. Ninguém arriscava. Não adianta nada, temos que ter vontade de fazer o gol.
Não tivemos hoje. Não fizemos um jogo normal, que é o jogo do Palmeiras, e pagamos caro.
Faltou profundidade, trabalhar a bola bem do meio para a frente. Tivemos uma ou outra chance, mas não foi o Palmeiras que eu gosto não."
"O Deyverson não cumpriu a função que eu queria. Ele não tinha que marcar para os volantes, quem tem que marcar é volante e meia. O Deyverson é atacante. Ele tem que vir até o meio e de lá se posicionar para receber.
"Não marcar para os outros, não é isso o que tem que fazer.
Se não coloco outro volante de centroavante.
Isso que eu não gostei.
Não criamos tantas chances de fazer gol. 1 a 0 foi um resultado normal."
"Tem coisas que eu não gostei, que eu acho que a gente não comete esses erros. Quando cometemos fomos punidos.
Deslocamentos que não aconteceram, em situações que nós sabemos e trabalhamos. Não tivemos isso e pagamos caro por isso.
Vamos continuar pagando caro se não tivermos uma obediência do começo ao fim do jogo."
O discurso de Felipão após a derrota contra o San Lorenzo seria compreensível se viesse da boca de um treinador inexperiente, que não tem o controle do grupo de jogadores que comanda.
Mas está longe de ser o caso.
Scolari tem os jogadores na sua mão.
Se houve excesso de preocupação defensiva, respeito demais por uma equipe que não merecia, mais fraca que a brasileira, é por culpa do próprio Luiz Felipe.
Foi ele quem montou um time marcando muito atrás, no campo do Palmeiras. As ausências de Ricardo Goulart e Gustavo Scarpa não servem de muleta para o comportamento da forte equipe que Felipão tem nas mãos.
Acabou sendo impossível não comparar a postura do time com a do ano passado, diante do Boca Juniors.
Parece que cruzar a fronteira da Argentina traz medo, preocupação excessiva, a irritante impressão que um empate em 0 a 0 seria sensacional.
O futebol argentino que existe na cabeça de Felipão é exagerado. Os clubes estão muito piores financeiramente do que os brasileiros. Os melhores e os médios jogadores foram para a Europa.
Restaram atletas competitivos sem espaço no Velho Mundo.
Além disso, o San Lorenzo atravessa enorme crise. É o 22º colocado do Campeonato Argentino. Nas últimas 16 rodadas, ganhou apenas uma vez.
Mesmo assim, o time foi escalado por Felipão com Thiago Santos, Bruno Henrique e Moisés, que mesmo com uma bicicleta espetacular no travessão, teve mais função defensiva do que ofensiva. Atuou como um terceiro volante para cobrar as laterais.
Se Deyverson corria atrás de volantes do San Lorenzo era porque o Palmeiras sem a bola recuava muito e mostrava lentidão imperdoável.
Os setores estava distantes. Não havia jogadas pelas laterais. Marcos Rocha e Diogo Barbosa mostravam insegurança, medo de tomar bolas nas costas. Felipe Pires e Dudu ficavam isolados.
O respeito do Palmeiras pelo San Lorenzo foi um veneno.
O gol que o time sofreu de Herrera inaceitável.
O voluntarioso lateral foi levando a bola como quis do meio de campo, da intermediária e da entrada da área bateu forte. Sem marcação.
Chute que se tornou indefensável para Weverton porque a bola passou embaixo dos pés de Antônio Carlos.
1 a 0, San Lorenzo.
O gol argentino, marcado aos cinco minutos do segundo tempo, desnorteou Felipão. O técnico passou a se agitar, gritar, cobrar seu time para atacar.
Mas a equipe não conseguiu reagir, entrou preparada para se defender, sonhar com um contragolpe ou bola parada.
Pouco demais para um elenco de tanto investimento.
O San Lorenzo de Jorge Almirón seguiu lutando dentro de sua limitação técnica, mas personalidade forte. De quem não admitiria perder em casa. E que fazia da Libertadores o refúgio certo para um humilhante Campeonato Argentino.
O Palmeiras perdeu o jogo e a liderança do grupo F.
Mais do que isso, mostrou o velho erro de Felipão, de ver qualidades excessivas nos atuais clubes argentinos.
Pior que o resultado só o golpe psicológico, às vésperas de decidir se vai ou não para a final do Campeonato Paulista que, a rixa com a Federação Paulista de Futebol, faz importante.
Cuca conhece bem demais o Palmeiras.
A decepção do péssimo futebol na Argentina obrigará o clube a querer, de qualquer maneira, fugir da depressão. Daí, derrotar o São Paulo, dentro da arena verde lotada, virou uma questão de orgulho, de autoestima.
O que pode facilitar o trabalho tricolor.
Não adianta Felipão repassar a culpa da derrota a seus jogadores.
O fracasso é todo dele.
O técnico segue com o respeito exagerado.
Defensivismo que tirou o Palmeiras da final de2018.
É preciso acabar com seu medo de argentinos...
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