O líder que o Santos não tem. Gilberto Costa. ‘Jogador sente o desespero no outro time. Como nós, da Inter, sentimos no Palmeiras. E fomos campeões em 1986, no Morumbi′
Gilberto Costa é outro jogador muito importante que ‘nasceu’ no Santos. E não se conformou com o rebaixamento do clube, em 2023. Ele sempre foi um líder por onde passou. Tipo de líder que o Santos não tem há anos

‘Eu sempre soube o quanto é fundamental a liderança, a personalidade, o exemplo em um time vencedor. Foi o que eu fiz pelos times que passei.
“E o comando em campo, sem depender do treinador, faz a diferença em campo. Quando as coisas estavam ruins, eu chamava os jogadores no gramado, para não vazar a conversa. Longe de todos. Até dos técnicos.
“E cobrava de todos e ouvia a versão de cada um. Essa cumplicidade se refletia em campo. Fui campeão na Inter de Limeira contra o Palmeiras assim. E no Corinthians saímos de situações ruins graças à cumplicidade.”
Gilberto Costa começou sua carreira no Santos, dos Meninos da Vila.
“Eu jogava na várzea, em Santos. Quando fui descoberto, estava servindo Exército. Não tive a formação de base. Não treinei fundamentos quando era menino. Compensava com meu chute forte, com a minha visão de jogo, mas principalmente com a minha vontade ganhar. Eu não desistia e não deixava ninguém desistir, não.”
Foi assim que Gilberto Costa fez história na Internacional de Limeira.
“Eu quis sair do Santos porque não havia espaço, com o meio-campo formado por Clodoaldo, Ailton Lira e Pita. Fui para a Inter e ouvi que o nosso planejamento para o Paulista de 1986 era para não sermos rebaixados.
“Só que percebi a força do nosso time. E começamos a ganhar, ganhar. Até chegar à decisão do título com o Palmeiras, que estava dez anos sem ganhar um campeonato.”
Gilberto Costa revela que os segredos do título da Inter foram dois.
“Primeiro, o nosso potencial, que foi desprezado. Fizemos melhor campanha que o Palmeiras. E a mídia não queria valorizar. Em segundo lugar, a nossa personalidade. Sentíamos o desespero nos jogadores do Palmeiras. Eles tinham de lidar com a pressão da própria torcida e da imprensa, que já os consideravam campeões.”
A Federação Paulista de Futebol ajudou o Palmeiras levando as duas partidas decisivas para o Morumbi.
“Quando empatamos o primeiro jogo em 0 a 0, sentimos que o título era mais que possível. E veio segundo jogo. Vencemos com toda a justiça, por 2 a 1.”
O ex-volante faz questão de inocentar Denys, lateral que ficou marcado para sempre, na decisão.
“O lance que ninguém esquece foi ele atrasando de peito, fraco, para o Martorelli e o Tato tomando a bola e fazendo o gol. Só que quem estava de frente para o lance era o Martorelli e ele não avisou o Denys. O erro foi do goleiro e nunca do Denys.”
Depois da Inter, Gilberto Costa passou pelo Internacional e marcou época no Corinthians.
“Nós não ganhamos títulos no Corinthians porque não houve união. Havia divisão entre os jogadores. E a diretoria também não ajudava. Dei o meu máximo. Me desdobrava em campo. Lutava e cobrava meus companheiros. Tínhamos potencial e o apoio absurdo da torcida. Foi um desperdício.”
Aos 68 anos, trabalhando com o também ex-jogador Lê, ele mora em Santos. E não se conformou com o rebaixamento do clube. “Foi triste demais para mim. Eu vi que tinha muita coisa errada. A falta de liderança, de parceria entre os jogadores, pesou. Nunca pensei que o Santos seria rebaixado. Foi muito duro.”
Gilberto transpira liderança até hoje, aos 68 anos. E tem uma visão privilegiada do mundo do futebol.
A entrevista foi uma aula. De quanto é fundamental qualquer equipe ter um líder. Jogador de personalidade.

Não precisa ser líder técnico. Basta ter comando, dar exemplo para os companheiros.
Personagem que, hoje, o Santos não tem.
Esse não é o perfil de Neymar.
Por isso flerta com o rebaixamento de novo...
A entrevista completa com Gilberto Costa está no canal do Cosme Rímoli, no youtube.
Uma parceria com o R7.
A cada semana, uma entrevista exclusiva com um personagem significativo do esporte.
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