O futebol brasileiro encaminha a aposentadoria de Felipão, a um mês de completar 73 anos
O último clube a chamar de 'sua casa' fechou definitivamente suas portas ao técnico, depois de quatro passagens: o Grêmio. O Palmeiras já tinha tomado a mesma decisão. A aposentadoria é o caminho mais indicado
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O final de carreira de Felipão está sendo constrangedor.
Fechando as portas para os clubes nos quais foi tratado como herói.
O último treinador a fazer o Brasil campeão do mundo, em 2002.
O único brasileiro capaz de levar Portugal a vice da Eurocopa. Colecionar títulos no país, na China, no Japão, no Kuwait, no Uzbequistão.
Bicampeão da Libertadores, bicampeão brasileiro, tetracampeão da Copa do Brasil.
Parece uma sina.
Fechou as portas da Seleção Brasileira com a maior vergonha da história do futebol deste país, a goleada na semifinal da Copa do Mundo para a Alemanha: 7 a 1. Demonstrando todo seu atraso tático em relação ao time germânico.
Acabou de forma lastimável sua terceira e última passagem pelo Palmeiras, em setembro de 2019. Sem conseguir reinventar uma maneira de a equipe jogar, a não ser se defendendo, brigando fisicamente no meio de campo e levantando a bola para a área.
No Cruzeiro não pisa mais, depois de três meses de desilusão. Fracassou o sonho de levar o time à Série A. Seguiu o triste caminho de Vanderlei Luxemburgo e disse ter sido contratado para evitar que o clube caísse para a C.
O novo fracasso, e que tem tudo para ser o derradeiro, foi no Grêmio.
Foram apenas 21 decepcionantes partidas de Felipão na sua quarta passagem pelo clube que é a sua "verdadeira casa".
Toda a esperança da direção no carisma, na personalidade, na vibração do treinador, que fará 73 anos no próximo mês, se tornou imensa desilusão.
Por um aspecto muito simples.
Felipão não conseguiu se atualizar taticamente. Ele parou no tempo. O futebol defensivista e com muita briga na marcação, mas nenhuma criatividade do meio para a frente, que o Grêmio utilizou entre 1993 e 1996 se mostrou completamente ultrapassado.
A ponto de, como a imprensa gaúcha publicou na semana passada, os jogadores se rebelarem e pedirem ao treinador para que o time tivesse liberdade de atacar.
Felipão ficou revoltado com a divulgação da reunião. Ele a desmentiu.
E mais: optou pela Lei da Mordaça. Ninguém do seu time falaria mais, depois do frustrante empate com o Cuiabá, em Porto Alegre, na quarta-feira passada. Como o blog antecipou: a Lei da Mordaça nunca deu certo para Felipão. Em 2011, ele a adotou no Palmeiras e foi sumariamente demitido, porque o problema nunca foram as declarações.
No Grêmio, a mesma situação. O time ficou calado e entrou ontem para enfrentar o Santos, também atormentado pela séria ameaça de rebaixamento. Tinha a obrigação de vencer na Vila Belmiro. Felipão vivido sabia: não só seu cargo, mas a sequência na carreira estava em jogo.
E o time mais uma vez jogou muito mal. Não teve intensidade, compactação, força ofensiva para derrotar a equipe fraca de Fabio Carille. O Santos venceu por 1 a 0, na prorrogação, com gol do zagueiro Wagner Leonardo.
O descontrole emocional do time se retratou em Rafinha, agredindo um gandula na Vila Belmiro. O veterano lateral de 36 anos deixou o supercampeão Flamengo, para fracassada aventura no futebol grego, e voltou ao futebol brasileiro. Aceitou convite de Renato Gaúcho. Mas ficou sob o comando de Felipão, que violentou seu futebol. Apesar de lateral-direito consagrado, teve de atuar improvisado como lateral-esquerdo, situação que o irritou profundamente.
O técnico tirou a confiança dos dois principais goleiros gremistas, Brenno e Chapecó.
E principalmente irritou todo o elenco ao forçar o time a se defender exageradamente. Não preparar a equipe para atacar.
Leia também
A eliminação histórica da Copa do Brasil para o Flamengo, com direito a derrota por 4 a 0, em pleno estádio gremista, foi determinante. O septuagenário treinador não ficaria em 2022.
Felipão usou seu poder de ser a única voz do futebol gremista. E falou, sem constrangimento, que seu trabalho era "bom". Com o clube mergulhado na penúltima colocação no Brasileiro. Mais do que ameaçado de rebaixamento para a Segunda Divisão.
"O trabalho que estamos fazendo é bom, mas não está refletindo em campo por uma ou outra razão, e estamos procurando alternativas para colocar isso mais rapidamente em ordem para ganhar os jogos", dizia, sem a menor convicção.
O presidente Romildo Bolzan, pressionado por sua diretoria, demitiu Felipão. O treinador já chegou demitido a Porto Alegre. O anúncio oficial foi feito no início da madrugada de hoje.
Por respeito a Felipão, a direção do Grêmio anunciou que a saída foi de "comum acordo".
O clube de Porto Alegre fecha definitivamente as portas ao treinador.
Nas 21 partidas, o treinador teve péssimo rendimento.
Nove derrotas, nove vitórias e três empates. Aproveitamento só de 47,6%. 22 gols a favor e 23 contra. Só o Sport fez menos gols.
A direção gremista tentou Roger Machado para substituir Felipão. A princípio, ele não quer aceitar, buscando coerência. Roger é marcado como um técnico que só assume clubes no início de temporada.
Mano Menezes está desempregado, desvalorizado. O paraguaio Arce, ex-lateral do Grêmio, interessa. E sempre quis comandar o futebol do clube. Mas está empregado no Cerro Porteño. Mauricio Barbieri, de ótimo trabalho no Red Bull Bragantino, é outro nome comentado. Até mesmo Lisca Louco tem defensores no clube.
O desespero é aproveitar os últimos 15 jogos do Brasileiro para fazer o time fugir da Segunda Divisão.
Só isso que a direção pede.
Romildo Bolzan errou feio nesta temporada. Contratou Tiago Nunes para substituir Renato Gaúcho, demitido pelo fracasso na Pré-Libertadores, que matou os planos de montagem de elenco de R$ 100 milhões. Tiago não conseguiu dar o mínimo padrão à equipe. Em julho chegou Felipão, para apostar na tradição, no carisma, na história. E o resultado foi desolador.
Por conta da fragilidade dos times, o Grêmio ainda pode se salvar. Basta que o treinador aproveite o elenco médio que o clube possui. E não monte um esquema tático acovardado, que tanto irrita os jogadores.
Quanto a Felipão, ele pense a sério em desfrutar o que merecidamente conseguiu.
Seus métodos estão ultrapassados, não há variação tática nos times que monta desde a Copa de 2014, venceu na China por conta do elenco, bancado pela bilionária Evergrande. No Palmeiras, mesmo campeão brasileiro em 2018, a direção já sabia que o mérito era dos jogadores. Não foi demitido em 2019 por acaso, apesar de o presidente Mauricio Galiotte ter encantamento pela personalidade, pela liderança de Felipão.
Mas ser um treinador vencedor no futebol atual exige mais do que carisma.
Felipão sempre foi um técnico caro.
Não recebia menos do que R$ 500 mil a cada 30 dias no Grêmio.
Scolari tem 39 anos de carreira.
Será muito difícil que siga trabalhando.
O Grêmio, a sua verdadeira casa, o mandou embora de vez.
Como havia feito o Palmeiras.
O tempo é inexorável, não cede a súplicas.
Passa para todos.
E ele passou para o gaúcho de Passo Fundo.
Que teve uma carreira brilhante.
Luiz Felipe Scolari...
Sal grosso ajuda Santos no VAR! Veja 7 destaques do fim de semana
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.