São Paulo, Brasil
Rogério Ceni conseguiu.
No dia da mais importante partida sua, como técnico do São Paulo, ele encurralou o presidente Julio Casares.
Cercado de holofotes, pela decisão da Copa Sul-Americana, sábado, contra o Independiente del Valle, na Argentina, o treinador, e maior ídolo da história do clube, não confirma se vai seguir no Morumbi na próxima temporada.
Situação surreal?
Porque ele assinou contrato até o final de 2023 em julho...
Não é surreal, é calculista.
Porque o que Ceni quer é a garantia de que Casares conseguirá montar um elenco muito mais forte do que o atual.
Ainda mais agora que, na semana passada, o presidente conseguiu a vitória política que sonhava.
Vitória que os poucos conselheiros de oposição definem como 'golpe'. Conseguiu, na sua segunda tentativa, mudar o estatuto do clube.
A certeza que poderia lutar pela reeleição e ficar no poder até 2026.
'Lutar' é força de expressão.
Não há adversários à altura do atual presidente, que domina toda a estrutura eleitoral no Morumbi.
O trabalho de Ceni é avaliado como de 'muito sucesso' nesta temporada.
Nem mesmo Casares sonhava com duas finais.
O time decidiu o Paulista em abril, e agora, cinco meses depois, decide um torneio internacional.
Mas o técnico é frio, sabe o quanto contou também com a sorte. Seu time venceu duas decisões por pênaltis na Copa Sul-Americana. Contra Ceará e Atlético Goianiense.
As declarações de Ceni são dúbias de propósito.
Ele lembra muito bem.
No final do ano passado, Casares estava animado com a possibilidade da chegada de um investidor, disposto a apostar em contratações importantes e caras.
Douglas Costa deveria ser a principal peça.
Ceni logo aproveitou e pediu também Luiz Henrique do Olympique de Marselha e de David, do Fortaleza.
Além de insistir na avaliação de Luiz Araújo, que o treinador sabia que sairia do Lille.
Não chegou investidor algum.
Douglas Costa foi jogar no Los Angeles Galaxy. Luiz Henrique no Botafogo. E David, no Internacional.
O sonho Luiz Araújo foi para o Atlanta Unites, dos Estados Unidos.
O treinador pediu John, reserva do Santos. E Casares também não conseguiu contratá-lo.
O presidente tem em Ceni seu grande escudo. Já revelou ao técnico que o clube deve mais de R$ 700 milhões e só tem condições de manter uma equipe competitiva, não para disputar de igual para igual com o Flaemengo, Palmeiras ou Atlético Mineiro.
Ceni sonha em conquistar a Libertadores, Copa do Brasil, voltar a vencer o Brasileiro. Porque ele tem como objetivo a Seleção. Como goleiro jamais conseguiu se firmar no selecionado.
E se o São Paulo não conseguir ser campeão hoje, não garantirá a Libertadores.
No Brasileiro, a situação está complicada.
É apenas o 12º, a sete pontos da zona de classificação para a competição mais desejada.
Faltando dez rodadas para o Brasileiro acabar.
Não disputar a Libertadores, seria uma grande desilusão pessoal para Ceni.
Há clubes importantes que podem trocar seus comandos no próximo ano.
A multa rescisória de Ceni, que era de dois salários, passou a R$ 3 milhões, quantia que não assustaria um gigante brasileiro, como por exemplo, o Atlético Mineiro.
Ceni é inteligente o suficiente para entender que os reforços serão de qualidade diferente, se o time for campeão da Sul-Americana e estiver na Libertadores.
Se for derrotado, e tiver de disputar a Sul-Americana, de novo, em 2023, o nível cairá.
Aos 49 anos, Rogério Ceni sabe o quanto será decisiva a partida contra o Independiente del Valle, hoje, às 17 horas.
E vai muito além do fato de ser sua primeira decisão como treinador do São Paulo.
Mas de como será a sua próxima temporada.
Ele não quer mais sofrer com um elenco pequeno, sem grandes opções.
Há muito mais em jogo na final de hoje, do que parece.
Além de o São Paulo ter a chance de ganhar um título internacional de novo, depois de dez anos.
Sua temporada de 2023 já começará a ter contornos fundamentais.
Dos reforços que chegarão.
E que rumo terá a carreira de Ceni...