Neymar obrigou o coadjuvante de luxo, Coutinho, a virar protagonista
Ele deixa claro: não deseja ser a estrela maior da Seleção na Copa América. Mas, sem Neymar, o tímido Philippe é o atleta mais importante de Tite
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Há situações que parecem são reservadas para o Brasil.
Toda o staff da CBF se preparou para a visita do presidente da República, Jair Bolsonaro, após a vitória do Brasil por 3 a 0, diante da fraca Bolívia, no Morumbi.
Havia seguranças a postos, prontos.
Só quem desfrutou da intimidade do vestiário da Seleção foi o cantor Wesley Safadão, adorado pelos jogadores por suas músicas de cunho erótico.
Foi o "Safadão" quem entregou o troféu de melhor da partida para o jogador mais tímido e tenso do time brasileiro: Phillipe Coutinho.
A personalidade retraída sempre foi característica do meia-atacante.
Aos 27 anos, vive momentos decisivos na carreira.
A tensão vem de duas situações que ele não esperava.
Reservadas pelo destino.
A primeira: a saída do clube que sonhava desde a infância. O Barcelona. Ele foi muito infeliz por lá neste ano e meio. Messi não abre mão de jogar coordenando o ataque, com preferência pelo setor esquerdo. Exatamente como Coutinho se destacou no Vasco, Inter, Español e, ainda mais no Liverpool.
Seu agentes estão fechando sua ida ao PSG, onde Neymar, se ficar, aceita revezar a posição com seu amigo desde as seleções de base.
A segunda, e mais imprevisível, tem justamente a ver com Neymar.
Coutinho desde os 16 anos, quando começou a servir a Seleção Brasileira de base, se acostumou a ser coadjuvante do problemático atacante. Por onde passou, jamais quis ser protagonista.
Só que a situação atual, com o corte de Neymar, o faz o principal jogador de Tite, o único com total liberdade de movimentação do meio para a frente.
É o articulador e o homem da infiltração na área adversária. Tendo até a responsabilidade de cobrar os pênaltis, função que era de Neymar.
O blog acompanhou toda sua trajetória na zona mista, na saída do vestiário da Seleção. Gravou as perguntas e respostas repetidas, já que éramos em mais de 150 jornalistas da América do Sul, e alguns europeus, no corredor que os jogadores passavam. Coutinho falou exatamente 14 minutos e 13 segundos.
Nas suas respostas, o incômodo explícito em não querer ser o principal jogador da Seleção na Copa América, sua rejeição aos holofotes.
Os principais trechos da 'entrevista' recortada.
Como é ser o protagonista da Seleção, sem o Neymar?
Primeiro, vou deixar claro. Não sou protagonista. Protagonista deste time é o conjunto. Sou sim, uma peça importante. Mas como todos os jogadores, cada um tem a sua função. Eu tenho a minha.
E depois: não quero, não tenho a pretensão de ser protagonista da Seleção Brasileira. Me sinto bem cumprindo as minhas missões que o Tite pede. Repito não sou e nem pretendo ser protagonista, o centro das atenções.
Sem o Neymar você pôde jogar como gosta, do meio para a esquerda? Você pôde articular os ataques e ainda marcar dois gols.
Não ter o Neymar é muito ruim para a Seleção. E também para mim. Eu gostaria que ele tivesse condições de jogo, seria muito melhor para o Brasil nesta Copa América.
Quanto à minha função tática, realmente me agrada muito jogar do meio para a esquerda. E eu já faço isso quando o Neymar está em campo. Nos revezamos. Sem ele, fiquei mais fixo na posição. Mas qualquer time sentiria a falta do Neymar.
Você insiste muito em não querer ser visto como o principal jogador do Brasil. Por quê?
Porque me enxergo como um dos jogadores importantes. Entendo o futebol como conjunto, não como destaques individuais. São os grupos de jogadores atuando como times que conquistam títulos. Sou e me vejo como mais um atleta de um conjunto forte, onde quer que eu vá.
Mas você ganhou funções do Tite que eram do Neymar. Como bater o pênalti contra a Bolívia.
Alguém tinha de bater, não é? Não encaro como privilégio de ninguém. Cobra quem tem bom aproveitamento, mais nada.
Como é que você assimilou as vaias da torcida no primeiro tempo?
De maneira normal, eu entendo. O torcedor queria uma festa no Morumbi. E ninguém fica satisfeito com o 0 a 0 da Seleção. Não gostou do que está vendo é um direito vaiar.
No segundo tempo, quando vieram os gols, a torcida ficou do nosso lado. Para mim, encarei de forma normal. Compreendi o que aconteceu.
Você é muito baixinho (1m67), mas marcou um importante gol de cabeça. Foi o resultado da movimentação do time?
Foi apenas o meu segundo gol de cabeça na carreira. Ele não saiu graças à minha altura, mas da movimentação ensaiada, treinada pelo Tite. O cruzamento do Roberto Firmino foi perfeito. Só tive de cabecear para as redes. O gol foi coletivo.
Quando o Brasil estiver passando por dificuldades na Copa América, a responsabilidade será maior sua, sem o Neymar? Já que é o grande jogador deste time do Tite?
Não. Este papel não é meu e de ninguém da Seleção. Vamos disputar esta Copa América como time, como grupo, como conjunto.
Ninguém tem mais destaque do que ninguém.
Eu não tenho e não quero ter.
Isso aqui é uma Seleção Brasileira.
Todos perdem e todos ganham...
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