‘Não posso querer mais nada.’ O sangue uruguaio decidiu. Arrascaeta salvou o Flamengo do cansaço. Vitória na raça, e no talento, contra o lutador Cruz Azul. Que venha o Pyramids...
Arrascaeta decidiu a difícil estreia na Copa Intercontinental. Sua técnica e oportunismo foram fundamentais para derrotar os mexicanos no Catar. O cansaço atrapalhou. Sábado, o confronto contra o Pyramids, do Egito. Se ganhar: final contra o PSG
Cosme Rímoli|Do R7

“Feliz demais por tudo que tem acontecido durante todo esse ano. Conquistas, nascimento do meu filho, saúde.
“Não posso querer mais nada.
“Sempre falo que é curtir o momento com os companheiros, mais uma oportunidade de chegar a uma final. Vínhamos de um desgaste grande, uma viagem longa.
“Agora é focar no próximo rival, que com certeza será muito difícil, é mais um esforço que vamos fazer.”
As palavras foram sábias do homem que decidiu o jogo.
O Cruz Azul pagou caro pela principal temporada de Arrascaeta.
Confiante, artilheiro, calculista, talentoso.
Letal.
Ele não perdoou o presente que recebeu de Piovi, aos 14 minutos do primeiro tempo.
Dominou com a coxa direita o passe errado dentro da área.
Driblou o desesperado Gudiño e tocou para o fundo do gol.
Colocou o Flamengo na frente.
Os mexicanos empataram, com um belo sem pulo de Sánchez.
Mas o uruguaio estava em campo.
Aos 25 minutos, recebeu excelente passe de Cebolinha.
Ele buscou Bruno Henrique.
Piovi, de novo ele, cortou, mas a bola voltou para o uruguaio.
Aí veio o toque genial, que encobriu Gudiño.
2 a 1.
Arrascaeta marcou seu 25º gol em 2025.
Lembrando que ele já deu 18 assistências.
Participação direta em 43 gols do tetracampeão das Américas nesta temporada.
Esteve em campo 62 vezes.
Não foi escolhido como o melhor da Libertadores e do Brasileiro por acaso.
É a melhor temporada de sua vida.
O uruguaio de 31 anos decidiu o jogo, em Doha.
Mas foi sofrido.

Filipe Luís percebeu o óbvio.
O desgaste de seus jogadores, depois de 75 partidas em 2025.
A pressão e o empenho para vencer a Libertadores e o Brasileiro.
As 16 horas e meia de voo entre o Rio de Janeiro e Doha.
As seis horas de fuso horário.
Diante do competitivo time mexicano do Cruz Azul, o treinador optou por uma aposta arriscada.
Entregou a posse de bola para os mexicano durante boa parte do jogo. Queria poupar energia de seu ótimo, mas desgastado elenco.
Só marcava pressão quando o Cruz Azul iria sair com a bola.
Ele sabia que o técnico argentino Nicolás Larcamón, é mais um adepto da saída de bola ensinada por Pep Guardiola.
E que o time mexicano usava e abusava desse recurso, para quebrar a linha de marcação adversária.
Foi assim que surgiu o primeiro gol.
Tanto os mexicanos quanto os brasileiros estranharam o gramado muito aparado do estádio Ahmad bin Ali. E ainda mais molhado no seu limite, para deixar o jogo rápido.
E foi errando o tempo da bola, a força, que o argentino Piovi acabou dando um presente inacreditável para Arrascaeta, que estava, com o restante do ataque marcando sob pressão, a saíd de bola mexicana.
O Flamengo saí na frente no placar, aos 14 minutos.
O gol deu confiança, mas Filipe Luís mandou que seus jogadores ficassem ainda mais retraídos, atraindo os mexicanos.
Só que o time carioca exagerou e o espaço dado foi muito grande para a organização dos ataques do Cruz Azul.
Como os jogadores da equipe carioca estavam recuados demais, não havia contragolpes. Só pressão mexicana.
Havia excesso de chutes de fora da área e cruzamentos, no entanto. O Cruz Azul pressionava, mas errava no último passe, na finalização. E o Flamengo não reagia.
E o que tinha de acontecer, aconteceu.
Aos 43 minutos, Carrascal, que fazia péssima partida, atuando como se fosse um volante ruim, com seu time recuado, errou ao afastar uma bola da área. Acabou ajeitando para Sánches, que acertou fortíssimo voleio. Rossi nada pôde fazer.
Mas Filipe Luís poderia e fez, no intervalo.
Ele esqueceu sua maneira mais conservadora e tratou de trocar dois jogadores.
Tirou Samuel Lino e colocou Plata.
Adiantou as linhas, o Flamengo voltaria a ser Flamengo.
Que os jogadores gastassem o que sobrou de energia.
O time iria retomar o controle do jogo.
E tudo ainda ficou melhor quando Carrascal saiu e entrou Everton Cebolinha.
Os mexicanos sentiram a mudança tática do jogo.
E o talento do elenco bilionário flamenguista.
Aos 25 minutos, Arrascaeta com um toque sutil marcou 2 a 1.

Os mexicanos tentaram arrancar o empate à força.
Mas o Flamengo se manteve muito bem postado.
E conseguiu a vitória importante.
O difícil primeiro passo na Copa Intercontinental foi dado.
Filipe Luís fez uma sincera leitura do jogo.
“O Cruz Azul é uma equipe com muita qualidade e que tenta jogar. Dois times com uma proposta muito parecida. Eles arriscaram mais, até ao ponto de “nos dar” um gol, pelo risco excessivo que correram na saída de bola. Mas isso também fez com que eles rompessem a nossa pressão algumas vezes. Isso nos empurrou para trás", admitiu.
E detalhou o sufoco.
“A partir do gol nosso time deu um passo para trás no quesito pressão, mas principalmente foi na fase ofensiva. No momento de ter a bola, perdemos muitas bolas, escaparam domínios e bolas simples.
“Isso fazia com que cada perda da posse fossem dois, três minutos correndo atrás. Isso matou nossos jogadores de ataque e nosso time sofreu muito. Os dois times estão acostumados a jogar e propor com a bola no pé.
Mas veio o segundo tempo.
“No segundo tempo, alguns ajustes internos táticos, a equipe se sentiu melhor, jogou melhor e a partir daí nos encontramos no terreno onde nos sentimos confortáveis. Dominamos o jogo, chegamos mais fácil na área do adversário, fizemos eles correrem atrás da bola.
“Isso facilitou todo o processo no segundo tempo. Conseguimos o gol de maneira merecida, tivemos outras chances. Me lembrou bastante até 2019, aquele jogo contra o Al-Hilal. Primeiro tempo muito difícil e acabamos perdendo ali, mas o segundo tempo foi muito bom.
“Não é fácil vencer, não é fácil vencer sempre. O Cruz Azul também vem de uma sequência de momentos importantes na temporada. Os dois times mentalmente estavam se adaptando ainda ao que é a competição. É uma vitória que dou muito valor.”
O Pyramids, adversário da semifinal, é uma equipe menos técnica que o Cruz Azul. Mas muito mais veloz. Esse é o principal trunfo dos egípcios.
Mesmo cansado, o Flamengo é favorito.
E sempre conta com o talento e o sangue uruguaio do desequilibrante Arrascaeta, na sua melhor versão...














