'Não esperava essa avalanche.' Pressão pela condenação por estupro de menina obriga Cuca a pedir demissão do Corinthians
Depois de apenas duas partidas, Cuca não suportou mais continuar. Os detalhes de sua condenação pelo estupro de uma garota de 13 anos atingiram sua família. E ele percebeu: virou um peso para o Corinthians
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Acabou a era Cuca no Corinthians.
Foram apenas dois jogos.
Era 1 hora e 20 da manhã desta quinta-feira (27) quando o treinador anunciou sua renúncia ao cargo.
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Ele não suportou a cobrança pela condenação pelo estupro de uma menina de 13 anos ocorrido em 1987, em Berna, na Suíça, quando era jogador de futebol e atuava pelo Grêmio.
De nada adiantou a vitória empolgante contra o Remo, por 2 a 0, com gol de Róger Guedes, aos 48 minutos do segundo tempo. Nem Cássio se tornar o goleiro com o maior número de defesas da história do Corinthians, garantindo a chegada do clube às oitavas da Copa do Brasil, por 5 a 4.
Tampouco o abraço coletivo que todos os jogadores deram no treinador, puxado pelo capitão Cássio.
Cuca havia se tornado um peso grande demais para o Corinthians.
E a exposição no segundo clube mais popular do Brasil, pioneiro na defesa da mulheres, ficou incompatível para quem era condenado por estupro.
"Não esperava essa avalanche que ocorreu aqui. Eu não esperava. São coisas já passadas há muito tempo. E surgidas como se aconteceu ontem e eu fui julgado e punido pela internet.
"E isso tem uma consequência muito grande, em todos os sentidos, eu não quero entrar em detalhes.
"Então eu saio neste momento.
"Não é o que eu queria, lógico que não é o que eu queria.
"Espero uma vida inteira para estar aqui. E saio dessa forma... Mas é um pedido da minha família. "Pai, vem, estamos precisando, vem. Amanhã eu estou em casa para cuidar de vocês.
"Contratei o doutor Daniel Bialski e a doutora Ana Beatriz Saguas, que vão fazer todo o trabalho que eu nunca pude fazer. Não contratei ninguém [na condenação por estupro], agora vai ser feito.
"Quem fala coisas indevidas, quem julga pode ser julgado. Mas o mais importante é eu agradecer ao presidente (Duilio Monteiro Alves), que é uma pessoa maravilhosa, com quem eu já tinha conversado. Tomei essa decisão ontem [terça-feira]. E eu estava prejudicando ele. A pressão que ele está sofrendo em cima disso aí é enorme. A gente vê, a gente lê. Ele não fala que sim, mas a gente sente que é. Ele e o Alessandro, o que passam. E o próprio time. Então não é justo deixarem eles sofrendo por um problema que é meu.
"Então é nisso que está baseada a minha saída.
"Quero agradecer aos jogadores nos sete dias que eu estou aí. Os caras me abraçaram. Compraram meu barulho, minhas ideias. Foi muito bacana. E, se Deus quiser, eu volto um dia... Para poder fazer um trabalho do início ao fim.
"Ok, muito obrigado. Um abraço."
Cuca falou pela última vez como treinador do Corinthians com a camisa do "herói" da classificação, o goleiro Cássio, que garantiu a vitória nos pênaltis contra o Remo, por 5 a 4. Depois de vitória por 2 a 0, gols de Adson e Róger Guedes, aos 48 minutos do segundo tempo.
O técnico comandou o clube por apenas dois jogos.
Na derrota para o Goiás, pelo Brasileiro, no domingo, e na partida de ontem.
Os jogadores sabiam que a pressão popular, a cobrança pela condenação por estupro, estava beirando o insuportável.
E Cássio, o capitão da equipe, foi quem articulou o abraço coletivo a Cuca, depois da sofrida vitória diante do Remo, clube que disputa a Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro.
Duilio tentou demover Cuca da ideia.
Mas o treinador insistiu que sua família, mulher e duas filhas, não estava suportando as cobranças, os detalhes do estupro de uma menina de 13 anos vindo à tona.
Cuca fez questão de avisar ontem a Duilio que saísse atrás de um novo treinador.
Tite, que não quis assumir a equipe, depois do fracasso na segunda Copa do Mundo comandando a seleção, continua sendo o grande sonho dourado de Duilio.
O técnico, no entanto, segue esperando convite de um clube europeu.
O argentino Juan Pablo Vojvoda, que faz excelente trabalho no Fortaleza, tem grandes defensores. Assim como o português Jorge Jesus.
Roger Machado e Diego Aguirre, desempregados, são muito mais fáceis.
Thiago Carpini, vice-paulista, com o Água Santa, também.
Até mesmo o veterano Vanderlei Luxemburgo foi comentado nesta madrugada.
Daqui a três dias, o Corinthians enfrentará o Palmeiras, no Allianz Parque, pelo Brasileiro.
Duilio sonha em já ter um técnico.
Cuca sabe que não tinha saída.
A sua alegação de que trabalhou em diversos clubes, inclusive Palmeiras, São Paulo e Santos, rivais do Corinthians, depois da condenação por estupro, não se sustenta.
Os tempos mudaram.
A intolerância ao abuso contra a mulher prevalece.
Ele sentiu isso na carne.
E pagou 36 anos depois...
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