‘Não ajudei o time.’ Abel se empolgou. Escancarou o Palmeiras e quase paga caro. Reservas evitaram o vexame, e o PSG. Mas, se atuar contra o Botafogo como contra o Inter Miami, será eliminado

‘Messi não vai ter paz. Richard Ríos e Martínez se preparam. Vão marcá-lo forte. Ordem de Abel é anular o gênio argentino.’

Essa foi o título do post de ontem de madrugada sobre a preparação do Palmeiras para enfrentar o Inter Miami. As informações eram unânimes dos setoristas e das pessoas ligadas ao departamento de futebol do Palmeiras.

Só que Abel Ferreira se deixou levar pela empolgação pessoal. E decidiu que o ‘seu’ Palmeiras, que nunca primou pela técnica, iria comprar a briga com o time norte-americano. Iria atuar sem um volante forte de marcação, Martínez. Ele colocou Lucas Evangelista com Richard Ríos, os dois com obrigação de armar o time.

Também quis dar uma chance ao veterano Marcos Rocha no lugar de Giay, que estava muito bem na lateral. O técnico decidiu montar seu time no 3-4-3, esquema que os europeus adoram.

E foi sensacional para o time de Javier Mascherano, que ganhou as intermediárias de presente.

Assim como Messi, que pôde desfilar seu futebol brilhante, mesmo completando hoje 38 anos. Assim como Luiz Suárez, que pôde jogar livre, como se fosse um jogador comum, não um grande talento. Assim como Suárez, também 38 anos, que deu autógrafo e posou para fotos. Atendendo jogadores do Palmeiras, após a partida.

O resultado foi um primeiro tempo constrangedor do Palmeiras, superados pelo toque de bola do ‘time de Messi’. O time perdia por 1 a 0 por pura sorte, gol de Allende. Um toque de peito de Suárez só deixaria o companheiro livre se tivesse pela frente um espaçado, escancarado adversário. Foi o que aconteceu.

No segundo tempo, Abel foi teimoso e não mudou sua transloucada estratégia. E, com um show de Messi, o Inter Miami criava e perdia chances. Até que Suárez driblou, na velocidade, dois jogadores do Palmeiras, e fuzilou Weverton, 2 a 0.

Abel deixou seu time com quatro atacantes e só dois homens de meio-campo. Seus reservas empataram a partida em lances de oportunismo. Paulinho e Maurício.

Os gols e o 2 a 2 garantiram o direito de o Palmeiras terminar em primeiro no grupo A e enfrentar o Botafogo. Se fosse segundo, o confronto seria com o PSG. Menos mal.

“Verdade é que nós não entramos bem no jogo. Melhor dizendo, entramos bem, tínhamos estratégia clara do jogo que tinha que ser por fora. Não conseguimos encaixar, uma equipe que abaixa muito para marcar. Não encontramos o timing de pressão. Não tivemos a bola para atacar. Sofremos gol de transição que deveríamos estar melhores posicionados, tinham que cobrir essa marcação", confessou, sem graça, Abel.

Ele sabia que jamais deveria ter tirado do time um volante marcador. Aníbal Moreno estava contundido.

Martínez, não.

O treinador quer aproveitar o Mundial para promover seu trabalho para a Europa, onde verdadeiramente quer estar em 2026.

Tudo o que conseguiu foi expor o Palmeiras a um vexame. Permitindo que Messi fizesse o que bem entendesse em campo, com todo o espaço para receber, dominar, pensar. Aos 38 anos, completados hoje, poderia ter sacramentado uma derrota histórica para o time paulista, que o jogaria nos braços do PSG.

“Na primeira parte do jogo não fui capaz de ajudar os jogadores. Na segunda, corrigimos. Os que entraram ajudaram muito. Há que valorizar o que eram nossos objetivos: passar em primeiro.

“Na primeira parte, o treinador não ajudou.

“Agora é recuperar porque hoje levamos um violento susto.”

Abel Ferreira não quis admitir que foi ele mesmo quem levou o caos defensivo ao Palmeiras. E também tratou de tentar recuperar o futebol de que não está rendendo, vive péssima fase e se chama Raphael Veiga. O meia também foi um desperdício nos primeiros 45 minutos. Nada fez de produtivo. Em 2025 está assim.

Mas o empate com o Porto, pior europeu, e a vitória diante do Al Ahly, somado com o chorado ponto de hoje, no 2 a 2, tornou o Palmeiras líder do grupo A. E confronto garantido com o Botafogo, no mata-mata, de sábado.

“Há uma rivalidade, o Botafogo tem se reforçado muito. Tem excelentes jogadores, treinador está super moralizado, ganhou do PSG, teve bom desempenho contra o Atlético. Bom o que as equipes brasileiras têm passado.

“Não é América do Sul contra ninguém, e para as pessoas entenderam que…

“Aqui é como andar em uma corrida de Fórmula 1, quando choves vai ser um jogo disputado entre duas equipes que são rivais e que lutam pelos mesmos objetivos.

“Desde que Textor pegou o Botafogo e investiu pra que chegasse onde chegou.”

Graças ao ataque de falta de senso de Abel, abrindo as intermediárias, Murilo poderá não jogar as oitavas. Teve uma forte lesão muscular na coxa esquerda, tentando evitar o primeiro gol do Inter Miami, buscando cobrir a defesa aberta.

Ao final da partida, fila dos jogadores do Palmeiras para cumprimentar Messi. Abel também abraçou o argentino.

O aniversariante deveria ter sido mais efusivo, mais grato.

Além do seu talento, a ótima partida que fez ontem, teve no treinador do Palmeiras o perfeito cúmplice.

Os dez títulos que Abel Ferreira conquistou no Palestra Itália têm algo em comum.

A competitividade, a intensidade, a resiliência.

Jamais foi a técnica.

Que tenha sido um breve momento de empolgação diante do espelho.

Se o seu time entrar dessa mesma maneira, aberta, acreditando ser uma equipe que dá espetáculo, irá cair diante do Botafogo.

Precisa voltar para o que fez o sucesso de Abel Ferreira no Brasil.

A objetividade e a falta de vergonha de marcar, travar o adversário.

O Mundial não é um torneio de exibição.

Não para o Palmeiras de Abel Ferreira...