Bolsonaro recebeu ontem Robson. E tentou convencê-lo a não processar Fernando
FERNANDO FRAZÃO/ AGÊNCIA BRASIL - 05/5/2021São Paulo, Brasil
O que seria um momento de alegria, de vitória diante da rígida legislação russa, com interferência do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, se transformará em uma guerra jurídica.
O ex-motorista do volante Fernando, Robson Oliveira, passou 776 dias preso na Rússia.
Foi para a cadeia como traficante.
Por um motivo surreal, injusto revoltante.
No dia 10 de março de 2019, ele saiu do Rio de Janeiro para trabalhar com William Pereira de Faria e Sibele Vieira Rivoredo, pais da esposa de Fernando. O ex-volante do Grêmio jogava no Spartak Moscou.
Na sua bagagem, a pedido de Fernando, duas caixas de Mytedom, cloridrato de metadona, que é vendido no Brasil sob prescrição médica. Tem a 'tarja preta' na embalagem. O que indica que o medicamento pode causar riscos à saúde, tolerância, dependência física e psíquica.
Aqui é indicado para pacientes com dores crônicas ou para o tratamento de desintoxicação de narcóticos.
Na Rússia, ele é absolutamente proibido. Pelas autoridades entenderem que disfarça o consumo de drogas, como cocaína ou heroína.
Robson ficou mais de dois anos preso na Rússia. Por levar remédio a sogro de jogador
Reprodução/SportvRobson não tinha ideia do que continha no pacote que Fernando mandou que levasse à Rússia. O medicamento era para o sogro do seu patrão, que tem dores crônicas nas costas.
O motorista deu sua explicação.
Mas foi preso assim mesmo, oito dias depois de prestar depoimento.
Ficou atrás das grades.
Sem falar uma palavra de russo.
Fernando implorou nas redes sociais pela sua libertação.
Contratou um advogado russo para tentar resolver a questão.
E foi jogar na China, no Beijing Guoan.
A situação era absurda.
Só mudou quando a notícia foi divulgada no Brasil.
E chegou até o gabinete do presidente Bolsonaro.
Por meio do volante palmeirense Felipe Melo, que foi até Brasília explicar o caso, em outubro de 2020.
Bolsonaro enviou uma carta ao presidente Vladimir Putin, garantindo que Robson não era criminoso e que estava preso de maneira injusta.
Mesmo assim, o processo continuou. E em dezembro de 2020, foi condenado a três anos de prisão. Por contrabando e tráfico.
A interferência do Itamaraty pesou.
Ele poderia pegar até 25 anos de prisão.
Mas Bolsonaro insistiu.
E há dois dias, Robson finalmente, foi libertado.
Chegou ao Brasil ontem.
O próprio presidente da República o aguardava.
E não só o abraçou como ofereceu um emprego. Se tornar motorista do deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ).
Robson deve aceitar.
Mas tem outra situação em mente.
O advogado Olimpio Soares revelou que o motorista irá processar Robson. Quer receber pelos 776 dias que ficou preso.
"Fernando sempre soube que o medicamento era proibido na Rússia. Temos o depoimento de uma babá que trabalhou antes do Robson e que confirma que ele já tentava levar o produto para lá. Ele já tentou autorização com os médicos do clube e nunca conseguiu. E decidiu correr o risco mesmo assim expondo o Robson", disse o advogado, ontem no aeroporto.
Fernando foi atuar na China. Deixou Robson preso na Rússia
Beijing Sinobo GuoanO volante e ex-jogador da Seleção Brasileira, já sabia que Robson poderia processá-lo.
"Achamos importante reforçar que não sabíamos em hipótese alguma que o remédio era proibido na Rússia e que desde o começo pagamos toda ajuda jurídica ao Robson (vide documentos nos posts anteriores).
"É mentira que o abandonamos e deixamos ele sem defesa, como muitos de vocês foram induzidos a acreditar através de matérias e comentários feitos por jornalistas que não estavam em busca de verdade, mas sim em produzir matérias apelativas por audiência", colocou o jogador nas suas redes sociais.
Bolsonaro está tentando evitar o confronto, já que Fernando havia pedido sua interferência pela libertação de Robson.
"Momento não é de mágoas. Ele foi pra trabalhar como motorista de um jogador de futebol, que é o Fernando. Eu fiz contato com ele. Alguns achavam que ele podia ir além. O Fernando foi no limite.
"Podia ir mais? Talvez pudesse. Mas não justifica algumas críticas de que ele abandonou o Robson. Estava em outro país. Não é fácil. Ele está acostumado com a legislação do Brasil, que é bastante complacente. Lá é diferente. Tem países que a mesma substância uma vez encarada como droga a pena é de morte", disse ontem o presidente.
Só que Robson está decidido.
Se não houver um acordo financeiro, ele processará o jogador do Beijing Guoan.
Quer receber pelos 776 dias que passou preso...
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