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Morreu David Coimbra. Um dos mais marcantes jornalistas deste país

David Coimbra revolucionou o jornalismo esportivo do Rio Grande do Sul. Depois de uma incansável batalha contra o câncer, ele morreu ontem. Mas seu amor pela vida ficou. Nos livros e nas crônicas

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli


David Coimbra foi um dos mais importantes jornalistas brasileiros
David Coimbra foi um dos mais importantes jornalistas brasileiros

São Paulo, Brasil

David Coimbra.

Um dos mais importantes jornalistas do país morreu ontem em Porto Alegre.

Depois de luta incessante contra o câncer.

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Foram nove anos.

Não gostava de compartilhar detalhes de seu tormento com os amigos.

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Reformulou a maneira de o Rio Grande do Sul compreender o futebol. Levou o foco para as histórias, para o lado humano dos jogadores, treinadores, dirigentes. 

Seu legado, a paixão pela vida, ficou em dezenas de livros, milhares de crônicas. 

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Produziu com a volúpia de quem sabia que viveria pouco.

Amigo generoso, parceiro, companheiro.

Deixou, como Renato Gaúcho, detalha, todo o país em luto.

Aqui, apenas uma de suas crônicas.

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Onde revela, mesmo enfrentando o caminho do fim, com direito a dores lancinantes, seu amor eterno pela vida.

Sorte de quem conheceu e conviveu com David Coimbra...

O título, provocativo, irônico.

"Quando quis morrer."

"Eu quis morrer."

"Não se trata de figura de linguagem, estou falando sério: queria não existir mais. Refiro-me a esse tempo em que passei sofrendo. Alguém me acusará de estar sendo dramático a fim de justificar para o leitor a minha ausência. Em parte é verdade, porque sei que devo explicações. Muita gente, mas muita gente mesmo, mandou e-mail e mensagens perguntando por mim, e não respondi, porque me sentia fraco demais."

"Foi exatamente essa reunião da fraqueza com as dores e com o mal-estar, todos agindo de forma permanente, que me tirou a vontade de viver."

"Agora chegamos a uma parte importante: não deixei de amar a vida. Amo viver, amo a vida e sempre amarei. Mas não estava sendo recíproco. Então, de que adianta estar vivo se não posso fazer nada do que gosto? Uma vida repleta de dor, incômodos e humilhações? Era isso que havia para mim? Não, não, preferia uma morte rápida e suave."

"Só que eu não iria resolver esse problema com minhas próprias mãos. Não podia. Seria péssimo para a vida de pessoas que amo. Mesmo que esteja ausente, você tem responsabilidades, afinal. Assim, o que resta a fazer numa situação dessas?"

"Resistir."

"Gemer, chorar, desesperar-se às vezes, mas resistir."

"Não vou aborrecer o leitor detalhando todos os males por que passei. Conto apenas que houve um momento em que fechei a porta do quarto, me encolhi na cama e de lá não saí por dois dias e duas noites. Não comia, não tomava banho, não olhava o celular, não fazia nada além de dormir em posição fetal. No final da tarde do terceiro dia é que me levantei e tentei comer algo."

"Mas agora estou melhor."

"Cheio de traumas de guerra, todo lanhado e escalavrado, com algumas dores ainda, mas melhor."

"Um dos traumas que carrego é o medo de que tudo se repita. Nós somos prisioneiros do nosso corpo, eis a verdade. Os grandes sofrimentos, bem como os grandes prazeres, constituem uma camada extra da nossa personalidade. Estão localizados no corpo, mas afetam a mente. Ao mesmo tempo, aquele feixe de dores não me pertence, é algo separado do meu ser. Eu, neste instante, sou quem pede a Deus, a Jesus, a Nossa Senhora, a todos os santos e médicos que me tirem a dor."

"E é então que surge a solidão. A nossa imensa, incontornável solidão. Porque ninguém pode ajudá-lo. O médico já receitou o remédio e é preciso esperar algumas semanas para que funcione. Sua mulher, sua irmã e seu filho o enchem de carinhos, os amigos querem estar junto, até pessoas desconhecidas rezam por você. E você? Você se lamenta porque não há como se livrar do Mal. Não há consolo. Você está sozinho, preso em um corpo que o tortura sem cessar."

"Só que, no fim das contas, aquele movimento gigantesco das pessoas que o amam faz efeito. Meu amigo Glauco cozinha seus pratos deliciosos e eu começo a voltar a gostar de comida, e ganho força. O médico, André Fay, luta até nos finais de semana para achar o tratamento ideal. Minha mulher, a Marcinha, e minha irmã, a Silvia, cuidam tanto de mim que me sinto seguro. A Marta Gleich, diretora da RBS, e o Nelson Sirotsky contêm minha ansiedade em voltar a trabalhar e me garantem respaldo. O Rafael, do Espeto de Ouro, manda um churrasco para alegrar meu domingo, enquanto a Grace e o Edward enviam uma cesta repleta de guloseimas. O Potter leva meu filho ao show do Maroon 5, e leva com gosto, não por dever."

"A Kelly deixa aqui acepipes para o café da manhã e o Admar traz um vinho delicado como ele. E mais outros tantos, tantos, que seria impossível citá-los em uma página só. Então, talvez eu não estivesse tão sozinho… Fora da prisão do meu corpo, havia um exército a ajudar."

"Isso fez bem. Estou de pé, enfim. Meio esfarrapado, mas de pé. Vamos em frente de cabeça erguida. Com um leve tremor ao pensar no futuro."

"Mas o futuro não é coisa para se pensar. O que existe é o presente e, se o presente pode ser sorvido integralmente, a vida passa a ser boa."

"E ela é."

"A vida é boa..."

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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