‘Meu pai era alcóolatra. Dormia na rua. Eu o enterrei na funerária que trabalhava. Tive muito dinheiro. Fali. Sobrevivi.’ A vida secreta de Amaral
Por trás do sorriso fácil, do personagem que criou e é aceito por todos, há muita luta e tristeza na vida de Amaral. Em entrevista exclusiva, ele confessa o quanto sofreu. Junto com as histórias hilárias há o instinto de sobrevivência e o destino que o tirou da extrema pobreza

A vida de Alexandre da Silva Mariano estava traçada, na pequena cidade paulista de Capivari.
“Meu pai era motorista. Mas virou alcóolatra. E abandonou a minha mãe, que sempre foi guerreira, trabalhava arrumando as casas dos outros, buscando dinheiro para a gente sobreviver. Meu pai passou a dormir nas ruas.”
Amaral morava de favor embaixo do porão de um conhecido de sua mãe.
“Era embaixo mesmo do porão. Abaixo do nível da rua. Muita gente, principalmente no Carnaval, fazia xixi e caía direto na minha cama. Não esqueço o cheiro da urina.
“Eu chorava de fome. Sei que, muitas vezes, eu comia e minha mãe, não. No segundo ano primário, eu larguei a escola e fui correr atrás de dinheiro. Acabei em uma funerária, cuidando do jardim e maquiando mortos.
“Um dia meu pai apareceu morto. Foi muito duro. O maquiei. Coloquei os crisântemos, o ajeitei. Fechei a tampa do caixão. E o enterrei. Chorei sozinho.
“Não sabia o que fazer da vida, nunca pensei no futebol. Mas um teste no Palmeiras mudou toda a minha vida. O ex-presidente Facchina (Carlos Bernardo Facchina Nunes) tinha caminhões de carga. Um deles foi roubado e um primo meu, que era soldado, recuperou o caminhão. E o presidente falou que, se precisasse de alguma coisa, falasse. Ele pediu um teste para mim no Palmeiras. Facchina escreveu uma carta e a minha vida mudou. Sabia que era a chance de sair da pobreza.”
Amaral foi comparado a Gentile, famoso volante italiano marcador, que anulava o jogador mais habilidoso adversário.
Seu físico privilegiado, de maratonista, e a explosão muscular, o tornaram especialista na marcação homem a homem. Foi um dos melhores nesta função no futebol brasileiro. Passou com sucesso por Palmeiras, Corinthians, Vasco, Seleção Brasileira, Grêmio, Atlético Mineiro. No exterior, jogou no Parma, Benfica, Fiorentina, Besiktas. Foi para a Austrália e até Tailândia. Financeiramente estava muito bem até ir para a Fiorentina e o clube faliu. Ele perdeu mais de R$ 17 milhões.
Depois se separou e teve o que tinha acumulado na carreira dividido com a ex-mulher.
“Financeiramente fiquei abalado. Fali. Mas nunca reclamei da vida. Foi um presente ter uma esposa e meus dois filhos. Está tudo bem. Eu quero seguir agradecendo por desfrutar cada dia.”
Amaral é mesmo iluminado. Por trás do personagem que criou, de ex-jogador desinformado, há um homem inteligente, muito alegre, mas sofrido. As histórias engraçadas se sucedem e são obrigatórias, como quando ‘adotou um canguru’ na Austrália. Comeu rato quando foi jogar na Tailândia. Entrega que foi Viola imitando porco, depois de marcar pelo Corinthians, na primeira partida da final do Paulista de 1993, que quebrou o jejum do Palmeiras.
“Nosso time entrou em campo querendo atropelar o Corinthians, por causa do Viola. 4 a 0 foi pouco. Ele mexeu com os jogadores errados.”
O dia que Amaral mais chorou com o futebol foi quando perdeu o título mundial pelo Vasco, contra o Corinthians. A decisão foi no Maracanã.
“Chorei demais. Eu e o Edmundo, que errou o último pênalti. Quando fomos para o hotel, um bando de flamenguista quis tirar sarro da gente. Eu e o Edmundo partimos para a porrada. Ficamos loucos, brigando. Ninguém soube disso.” O grande vexame foi a derrota com a Seleção Brasileira para a Nigéria, na Olimpíada de 1996.
“Tínhamos um timaço. Abrimos 2 a 0. E achamos que estava ganho. Relaxamos. Tomamos de 3 a 2. Poderíamos ter ficado com o ouro, já que vencemos a mesma Argentina, que foi campeã. Ficamos com o bronze.” Medalha que Amaral vendeu por R$ 30 mil. “Vendi tudo, medalha, troféu. Para mim, não importa. Não vou levar nada no caixão. Vale o que vivi. Minha vida é simples e prática. As minhas vitórias dedico a Deus. Rio de felicidade por tudo que Ele me deu.
“E minha missão agora, aos 52 anos, é fazer com que meus filhos, minha mãe, minha família, todos vivam muito bem. Tenham tudo o que eu não tive. E, principalmente, nunca ninguém chore de fome, como eu chorei...”
A entrevista inteira está publicada no Canal do Cosme Rímoli, parceria com o R7.
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