Messi se livrou da sombra de Maradona. É campeão do mundo. O melhor jogador da história da Argentina
Em uma partida fantástica, espetacular, na melhor final de todas as Copas, a Argentina venceu a França, nos pênaltis. 4 a 2. É tricampeã mundial. Mbappé marcou quatro vezes. Não adiantou
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Doha, Catar
Sumiu a sombra de Maradona das costas de Messi.
Calou a boca dos muitos que o chamavam de jogador "de clube".
O seis vezes melhor do planeta conquistou o único título que faltava na sua estupenda carreira.
É campeão do mundo, com toda a justiça.
Com a camisa da Argentina.
Não com a do Barcelona.
E ainda foi escolhido o melhor jogador da Copa.
Marcou seis gols.
Mesmo aos 35 anos.
Foi uma partida frenética.
A melhor decisão de todas as Copas do Mundo.
De todos os tempos.
Um duelo espetacular entre Mbappé e Messi.
Com direito a dois gols do argentino seis vezes melhor do mundo.
E com quatro do francês (só três contam para a artilharia, que foi dele nesta Copa, com oito gols). Mbappé marcou dois nos 90 minutos, um na prorrogação e outro na decisão por pênaltis.
Mas a vitória foi da Argentina, por 4 a 2, nos pênaltis.
Tricampeã do mundo.
Com gols perdidos dos dois lados, em ritmo alucinante.
Nos 120 minutos de futebol, o francês marcou três gols e se igualou ao inglês Hurst, da Copa de 1966.
Mbappé fez questão de abrir a cobrança de pênaltis. 1 a 0, França. Messi foi para a Argentina. Cobrou com tranquilidade. 1 a 1
Coman foi para a cobrança, Martínez acertou o canto, o direito. Defendeu.
Dybala bateu no meio do gol, mas deslocou Lloris. 2 a 1, Argentina.
Tchouaméni bateu para fora.
Paredes cobrou forte. 3 a 1.
Muani foi convicto, forte, no meio do gol.
3 a 2.
A decisão ficou para o lateral Montiel.
A cobrança foi perfeita.
4 a 2.
Argentina tricampeã do mundo.
Messi, livre da maldição.
Assim que acabou o jogo, ele correu em direção à torcida, sinalizando com os braços que terminou o trauma que vivia.
O de não ser campeão com a Argentina.
Depois, pegou o microfone da Fifa e fez questão de gritar para todo o estádio.
"Vamos, Argentina. C... de tu madre (o equivalente a p.q.p.). Somos campeões do mundo!"
No primeiro tempo, a Argentina desfilou em campo, com atuação incrível de Messi, com direito a um gol e participação decisiva no segundo. No de Di María.
Mas, no segundo tempo, tudo mudou.
Graças a Mbappé e à mudança tática de Deschamps, que trocou seu meio-campo.
Quando a partida parecia decidida, com festa argentina no estádio Lusail, Mouani partiu com velocidade para cima do lento Otamendi. Sem recursos, o zagueiro o derrubou. Pênalti.
Com sangue frio, Mbappé cobrou e marcou 2 a 1, aos 34 minutos. Aos 36, Coman desarmou Messi, tocou para Rabiot. Ele acionou Mbappé. Dele, a tabela com Thuram. E o chute fortíssimo, convicto. 2 a 2.
Em dois minutos o jogo estava completamente mudado.
E o cenário também. Mbappé se tornava o artilheiro e o melhor jogador da Copa.
Viria a prorrogação.
O primeiro tempo equilibrado, tenso, com a Argentina recomposta.
Mas, aos 3 minutos do segundo tempo, veio a justiça do futebol.
Messi descobriu Enzo Fernández. O passe foi para Lautaro Martínez, livre. O chute foi fortíssimo, Lloris espalmou. Messi completou de pé direito. 3 a 2, Argentina.
A decisão parecia acabada.
Mas o jogo fantástico ainda tinha muito mais emoção.
Aos 10 minutos, Mbappé pegou a sobra e bateu forte para o gol, Montiel se esticou e tocou com o braço na bola. Pênalti. O francês assumiu a cobrança. E não deu chance a Martínez.
Incríveis 3 a 3.
Ainda daria tempo para a Argentina e a França perderem gols diante de Lloris e Martínez.
A decisão da mais espetacular final de Copa do Mundo ficou para os pênaltis.
Vitória argentina por 4 a 2, com Messi calando os críticos.
Calou também Mbappé, que ousou colocar os europeus como inatingíveis.
"Na América do Sul, o futebol não é tão avançado. Quando você olha as últimas Copas, os europeus sempre ganham."
A certeza de Mbappé vinha de 2006 a 2018.
Isso acabou hoje, aqui no estádio Lusail.
A final das finais.
Desde 1970, dois gigantes, no auge, não faziam uma decisão de Copa do Mundo com tanto significado.
A briga não era pelo tricampeonato, mas para manter a hegemonia da França no futebol mundial. E pelo surpreendente ressurgimento da Argentina, justo no ocaso de Messi.
Os sul-americanos invadiram o Lusail sonhando com o primeiro título depois de Maradona. Os franceses eram minoria, 20% das arquibancadas. Oitenta por cento era torcida argentina, e eles conseguiram transformar o estádio catari na Bombonera.
O técnico Lionel Scaloni tomou uma decisão surpreendente. Não colocou três zagueiros, como a imprensa argentina estava prevendo, por conta de Mbappé. Nada disso: ele apostou em Di María.
Na predestinação do argentino. Ele marcou gols em decisões importantíssimas. Na final da Olimpíada de Pequim (2008), contra a Nigéria; na Copa América de 2021, contra o Brasil; e na Finalíssima de 2022, contra a Itália.
E também havia a função tática; aberto na esquerda, ele travava Koundé. Impedia as triangulações com Dembéle. A preocupação de Scaloni era travar Griezmann e, principalmente, Mbappé. Fixou De Paul como escudeiro de Molina.
Deschamps, por seu lado, apostou na compactação, nas mesma linhas definidas, explorando a velocidade de Mbappé e Dembéle. E o oportunismo de Giroud.
Nos dois esquemas, as estrelas maiores dos times não tinham funções defensivas e só se preocupavam com o ataque. Messi, dessa vez, ocupava as intermediárias, e não a ponta direita, como havia feito em outras partidas.
E Mbappé seguia aberto demais na esquerda, como um ponta dos anos 70.
A Argentina estava muito mais bem postada em campo. Enzo Fernández, De Paul e Mac Allister domavam qualquer ímpeto francês. Dominavam as intermediárias.
O reflexo foi o encolhimento da França. Suas linhas terminaram muito atrás.
O que acabou passando confiança, facilitando o que os argentinos de Messi têm de melhor. O toque de bola, a troca de passes. E o time é muito bem treinado por Scaloni. Nada acontece por acaso. Não há a espera alucinada de que um jogador saia driblando. A espera apenas pelo improviso. Isso não combina com o futebol moderno. Como, por exemplo, fez a seleção de Tite neste Mundial.
A Argentina passou a pressionar, encurralar os franceses. Apesar de recuados em duas linhas de cinco, havia espaço para os dribles. A cobertura não funcionava. As jogadas pelas pontas da Argentina eram cada vez mais perigosas.
Até que, aos 22 minutos, Di María driblou Dembéle, que o empurrou. De forma sutil. Mas foi pênalti para os argentinos. Infantil. Mas decisivo.
Messi tinha a oportunidade de ouro, a com que sempre sonhou na sua carreira. Cobrar um pênalti em uma Copa do Mundo.
E cobrou com todo o talento especial de um dos melhores jogadores, se não o melhor, de todos os tempos. Deslocou Lloris. Argentina, com toda a justiça, 1 a 0, aos 23 minutos.
O prazer de marcar se mostrou na comemoração, ao deitar no chão e esperar ser coberto por todo o time, que não só é feliz por tê-o como comandante, mas que torcia para que ele fosse campeão do mundo com a Argentina. E igualasse Maradona.
Foi um golpe terrível para os franceses.
Eles se mostravam muito mal psicologicamente, abatidos, tensos. Não tinham convicção para articular seus ataques velozes. A Argentina simplesmente não permitiu um mísero chute a gol do então campeão mundial.
E o pior viria.
Em um contragolpe muito, mas muito bem coordenado, treinado, veio o segundo gol.
Mac Allister procurou Messi, que dominou com a perna esquerda e tocou em seguida para Álvarez, que serviu Mac Allister. Dele, o toque para o predestinado Di María. O toque foi seco, preciso diante do desesperado Lloris.
2 a 0 Argentina.
Vieram as lágrimas de Di María.
Ele e o estádio acreditavam que o jogo estivesse decidido.
Não estava.
Em dois minutos, Mbappé empatou o jogo.
Viria a prorrogação.
Mais gols de Messi e do francês.
E os pênaltis.
O melhor time, o mais vibrante, com o mais talentoso do mundo levou o título.
Sorte do futebol.
Sorte de quem viu Messi.
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