Machismo irreversível. Nem Neymar poderá usar cabelo cor de rosa na Seleção. A cor ‘feminina’ não é bem-vinda no futebol brasileiro
Yan Couto não foi o primeiro a ‘perder’ para o sistema machista que não aceita jogador com cabelo rosa. Gabriel Neves perdeu o apoio da torcida do São Paulo por enfrentar o preconceito. Mesmo Gabigol não suportou a pressão dos desgostosos flamenguistas

Fernando Diniz estava tão preocupado em sobreviver no cargo de técnico da Seleção que não percebeu.
Contra a Venezuela e Uruguai o lateral Yan Couto jogou com os cabelos tingidos de rosa.
Diniz foi despachado depois de fazer um péssimo trabalho.
Dorival Junior tem a personalidade muito menos afeita a exagero dos atletas.
E a cor rosa foi proibida nos cabelos dos jogadores na Copa América.
Pintar de dourado, de verde abacate, azul bebê pode.
Mas a cor que, tradicionalmente é reservada às meninas, não.
“Na Seleção vou de cabelo preto, vou tirar o rosa. Pediram.
“Basicamente isso, pediram, falaram que o rosa é meio vacilão.
“Não acho, mas vou respeitar, me pediram e vou tirar.
“Eu uso o rosa no Girona, virou moda, todo mundo usa na cidade.”
A confissão de ontem de Yan Couto foi ridicularizado em todo o Brasil.
Internautas e jornalistas do país viram o exagero machista.
Diante da enxurrada de críticas, a CBF acaba de divulgar uma nota oficial sobre sua proibição.
“Desde o início da atual gestão, a CBF tem como uma das prioridades a luta contra qualquer tipo de preconceito no futebol
A CBF reafirma seu compromisso com a liberdade, a pluralidade, o direito à autoexpressão e livre construção da personalidade de cada indivíduo que trabalhe na entidade ou defenda a Seleção Brasileira. Para a entidade, o desempenho do colaborador fala por si só.
O compromisso da CBF é com o bom futebol e as melhores práticas de gestão. Cada colaborador ou atleta deve ter autonomia sobre sua própria aparência, credo, orientação sexual e expressão de gênero.
Desde o início da atual gestão, a CBF tem como uma das prioridades a luta contra o racismo e qualquer tipo de preconceito no futebol. A entidade é parceira do Observatório da Discriminação Racial no Futebol e do coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, e está sempre aberta a novas iniciativas para que o futebol brasileiro se torne um espaço mais inclusivo e livre de preconceitos.”
Se justificou, mas o rosa de Yan Couto deve desaparecer.

Assim como Gabriel Neves, que insistiu com seu cabelo rosa, sumiu do São Paulo.
Em setembro do ano passado, o jogador uruguaio apareceu no Morumbi, de cabelo rosa.
A reação de torcedores, conselheiros e até membros da direção do clube paulista detestaram a cor escolhida pelo volante.
Ele insistiu.
Não iria mudar.
Por coincidência, ou não, quem era o treinador do São Paulo?
Dorival Junior.
Gabriel Neves, que até mostrava bom potencial, se tornou reserva.
Depois reserva dos reservas.
Em janeiro foi emprestado para o Independiente.
Em fevereiro de 2021, quando vivia seu auge no Flamengo, Gabigol surgiu na partida contra o Vasco, com cabelo rosa.
Marcou até um gol.
Mas a reação da torcida, dos conselheiros, de membros da direção do Flamengo foi de reprovação.
Nem mesmo ele conseguiu vencer o preconceito.
Nas redes sociais, pedidos, reclamações, ameaças, tudo de negativo em relação à tonalidade escolhida.
A cor não prevaleceu.
E Gabigol se deu por vencido.
Neymar usou cabelo rosa no PSG.
Mas não na Seleção Brasileira.
Sem querer, Yan Couto, jogador que ainda não tem relevância na Seleção, expôs o machismo irreversível em relação à ‘cor das meninas’.
Ganhou as manchetes com mais força do que o irregular futebol mostrado contra o fraco selecionado dos Estados Unidos, no empate em 1 a 1, na quarta-feira.
Ele era o item fantasma de uma cartilha arbitrária, autoritária imposta elaborada pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e Dorival Junior.
Os itens não respeitam a individualidade dos atletas.
E não foram bem recebidos.
Tomar o cuidado de passar uma imagem de seriedade.
Evitar utilizar brincos chamativos.
Não utilizar colares extravagantes.
Utilizar as redes sociais de forma sóbria e com discrição, sem brincadeirinhas.
Utilização do celular na mesa de jantar apenas após terminar a refeição.
Evitar chegar ao estádio com fones ou ouvindo música alta.
Evitar que os atletas apareçam em vídeos oficiais ouvindo música e brincando no vestiário.
Se atentar e respeitar os horários.
Não atrasar a saída do ônibus.
Não comer nada fora do plano nutricional no quarto.

O Brasil fará sua estreia na Copa América dia 24, daqui dez dias.
A princípio, ninguém usará cabelos rosa.
A princípio, porque a cúpula da CBF sentiu o golpe.
O baiano Ednaldo Rodrigues tem 70 anos.
Viveu muito mais da metade de sua vida com os costumes machistas.
Mas ele é um sobrevivente como dirigente.
Se sentir que terá de voltar atrás, vai voltar.
Sua opinião hoje é pelo não.
Yan Couto já sabe procura tinta de cabelo preta.
Dorival e Ednaldo precisam entender que o Brasil quer é futebol convincente, vencedor.
Algo que a Seleção deve há muito tempo.
E esquecerem cor de cabelo de jogador...