Luiz Henrique, Almada e Artur Jorge... Desmanche do melhor Botafogo de todos os tempos tem culpado. O amadorismo de John Textor
O dono da SAF do Botafogo não teve habilidade E ‘jogo de cintura’ para segurar o melhor Botafogo de todos os tempos. Envolveria mais dinheiro e poder de convencimento. Textor não teve
Cosme Rímoli|Do R7
John Textor está agindo com a naturalidade de um dono de conglomerados.
Ou seja, uma das suas empresas deu um resultado espetacular.
E funcionários fundamentais neste sucesso querem ser valorizados.
Ou simplesmente irem para outra das empresas que pertencem a esse dono.
O norte-americano está tratando o futebol, o Botafogo, como uma das suas empresas.
Está mais do que errado.
Mostrando absoluto desconhecimento da profundidade do significado futebol.
E a história do clube que comprou.
O Botafogo de Futebol e Regatas, fundado em julho de 1894.
Da luta renhida, centenária, contra rivais poderosos: Flamengo, Vasco, Fluminense.
Jogadores fabulosos como Garrincha, Nilton Santos, Gerson, Didi atuaram com a camisa preta e branca.
Mas foi uma pequena parcela dos R$ 7,6 bilhões de Textor que conseguiu formar o melhor time da história do Botafogo.
Cerca de R$ 350 milhões em dois anos de investimentos e a equipe foi forjada nas mãos de Artur Jorge.
Capaz de vencer não só a Libertadores da América como o Brasileiro, imitando o Santos, de Pelé, e o Flamengo, de Jorge Jesus.
O time dava orgulho não só aos botafoguenses, mas aos brasileiros.
Tinha tudo para se impor pelos próximos dois ou três anos, desde que nenhuma peça fosse perdida.
Mas faltou firmeza, visão e, principalmente, comando para evitar o constrangedor desmanche.
O primeiro a ir embora foi Almada. O onipresente argentino havia combinado que iria atuar apenas por seis meses no Brasil. E depois iria para o Lyon.
Quando o acordo foi firmado, Textor não tinha ideia da química perfeita do jogador com o restante do elenco e que foi traduzido em um ritmo alucinante do meio-campo para a frente.
Jogador fundamental taticamente, técnico e com visão de jogo diferenciada.
Quanto o time ganhou a Libertadores e o Brasileiro, simplesmente ele arrumou suas coisas e disse que iria para o Lyon, como estava combinado, e ‘adeus’.
Textor não teve reação alguma, encarou como normal, seu funcionário querer trabalhar em outra matriz. Buscaria outro jogador e pronto.
Só que chegou a hora de Artur Jorge. O treinador português era o comandante de futebol dos sonhos do norte-americano. Conseguiu montar uma equipe vibrante, impositiva, com sede de vitórias e pisando no trauma de 2023, quando jogou pelo ralo a chance de ser campeã brasileira.
Além disso, Artur Jorge conseguiu um laço de amizade, de ‘família’ entre estrelas egocêntricas. Seu trabalho formando o grupo foi espetacular.
A personalidade do Botafogo na decisão da Libertadores e nos jogos finais do Brasileiro foi responsável pelos títulos. Pelo fim do complexo derrotista que cercava o histórico clube nas últimas décadas, com administrações lastimáveis, responsáveis por times fraquíssimos.
Artur Jorge, como qualquer outro empregado, recebeu uma proposta muito melhor de trabalho, do Catar. Do Al Rayyan. Iria receber o mesmo que Abel Ferreira ganha no Palmeiras, 500 mil euros por mês, cerca de R$ 3,3 milhões.
No Botafogo, ele ganhava a metade, 250 mil euros, cerca de 1,8 milhão.
O treinador conversou com John Textor, pedindo a valorização de seu trabalho. O Botafogo ainda não havia vencido qualquer título. O norte-americano respondeu que ele tinha contrato até o final de 2025. E que receberia os bônus da conquista, como estava combinado. E pronto.
Arthur Jorge não se importou.
Seguiu trabalhando até com mais vontade. Avisou à direção do Al-Rayyan, que aceitava a proposta. E que eles iriam apenas de pagar a multa rescisória de 2 milhões de euros, cerca de R$ 12,8 milhões.
John Textor foi se empolgando com os resultados do time e quando decidiu falar sobre reajuste de salário, valorização, já era tarde. O português avisou que não haveria volta. Tinha assinado e dado sua palavra ao clube do Catar, que ‘soube valorizá-lo’.
Diante desse quadro, Luiz Henrique não pensou duas vezes.
Ele já tinha a promessa de John Textor de que voltaria para a Europa, se quisesse, no início deste 2025. O norte-americano acreditou que a chance de disputar o Super Mundial faria com que o atacante recuasse.
Errou feio.
Luiz Henrique conseguiu dar a volta por cima no seu fracasso no Bétis. Se tornou jogador da Seleção Brasileira. Ganhou a Libertadores e o Brasileiro. Ainda foi escolhido como o “Rei da América”, pelo jornal uruguaio El País. É a votação com maior prestígio na América do Sul.
Tatuou o troféu da Libertadores conquistada na panturillha.
E o jogador foi direto com Textor.
Chega de Brasil, chega de Botafogo.
Está embarcando também para a matriz europeia, o Lyon, que pertence ao grupo Eagle, do bilionário.
Gatito Fernández, Rafael, Adryelson, Pablo, Marçal. Hugo, Tchê Tchê, Eduardo e Óscar Romero também já foram embora.
São 12 jogadores.
John Textor busca novo técnico. André Jardine, tricampeão no México, tem grande chance de assumir o lugar de Artur Jorge.
Já contratou Jeffinho.
Tenta convencer o Santos a liberar o zagueiro Jair.
Está quase certa a troca de Danilo Barbosa por Luan Cândido, do Bragantino.
É desta maneira fria, como se um clube de futebol pulsante como o Botafogo fosse mera empresa.
Basta trocar peças por peças que tudo estará resolvido na temporada.
Textor tem se mostrado amador.
Aceitou passivamente o desmanche de um grupo vencedor.
O mais importante da história do Botafogo.
E será muito cobrado em 2025 por isso.
Vai entender, da pior maneira, que títulos valem muito mais que lucro.
Dar adeus a Artur Jorge, Almada e Luiz Henrique terá consequências...
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