Lugano é o grande responsável pela recuperação de Cueva
Uruguaio convence peruano a dar o máximo pelo clube. Até a Copa
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli
Ao final de São Paulo e Botafogo, Raí, Ricardo Rocha e, principalmente, Lugano comemoravam. Eles eles tinham a certeza de que haviamm contornado juntos o primeiro grande problema, desde que se tornaram dirigentes. Cueva.
O peruano não só jogou bem, marcou um gol de pênalti, na vitória por 2 a 0. Ele estava totalmente mudado. O semblante fechado, irritado, a maneira desleixada de treinar, a falta de vontade de se integrar, conversar com os garotos da base ou mesmo os brasileiros do elenco, sumiu.
E Lugano foi o ator principal neste drama. O uruguaio sabia do firme desejo do peruano em ir embora. Não estava satisfeito com o São Paulo. O presidente Leco o havia iludido. Prometido uma equipe forte, capaz de grandes conquistas. Só por isso aceitou vir atuar no Brasil, em junho de 2016. Ele sabia que clube era tricampeão mundial e que possuía um dos maiores estádios particulares da América do Sul.
Só que encontrou um clube mergulhado em crise. E incapaz de ganhar qualquer título, desde que chegou. Ao mesmo tempo, seu prestígio só crescia no Peru. O treinador argentino Gareca o conseguiu transformar em peça fundamental na conquista de uma vaga para a Copa da Rússia. Depois de 36 anos, o privilégio de disputar a competição mais importante do futebol no planeta.
Clubes mexicanos, chineses e árabes se interessaram por Cueva. Só que a direção do São Paulo se recusava a negociá-lo. O meia acabou seduzido por representantes do Al-Hilal, da Arábia Saudita. A proposta ao clube brasileiro era de 7 milhões de euros, R$ 28 milhões. Parcelados. O São Paulo havia pago R$ 2,5 milhões para o Toluca.
Dorival Júnior quando soube da possibilidade de saída tratou de agir. Procurou Raí e implorou para que não fosse fechada a venda. Raí foi até Leco e repetiu que o time não poderia perder o jogador. O time já se ressentia demais da ausência de Hernanes e Lucas Pratto. O inseguro presidente resolveu acatar o pedido do treinador e do executivo. Até porque se irritou ao saber que os árabes haviam convencido o peruano durante as férias.
Com a desculpa que os árabes são mau pagadores, Leco deixou claro. Ou os 7 milhões de euros seriam pagos à vista ou nada feito. O Al-Hilal recuou. E a transação foi cancelada.
Cueva resolveu mostrar sua ira. Se apresentou seis dias depois do combinado para o retorno das férias. E mais, usou as redes sociais para mostrar todo descontentamento no Morumbi. E ainda pediu para não entrar em campo contra o Mirassol. Protestou por haver ficado na reserva contra o Novorizontino.
"Ele não está comprometido", bradou Raí.
Leco, Raí e Ricardo Rocha resolveram anunciar uma multa ao jogador. E trataram de avisá-lo que ficaria fora do time. E que não seria vendido, de jeito algum.
Enquanto a briga estava chegando a um momento insuportável, o clube fechou com Lugano. Finalmente, o uruguaio decidiu encerrar a carreira como jogador. Mal desembarcou no Morumbi e percebeu que teria de interferir.
No ano passado, ele se tornou muito próximo de Cueva. Entendia a solidão que o jogador sentia no Brasil. Os exageros que o meia cometia com os amigos. E a revolta, quando seus quilos a mais vazaram para a imprensa.
Lugano tratou de ter várias conversas com o peruano. E de maneira direta, como foi quando estava em campo, mostrou o óbvio. A janela da Europa, com as melhores possibilidades, estava fechada. O melhor que o jogador teria a fazer era se jogar e se preparar para chegar na Copa da Rússia, no melhor momento técnico possível.
Para depois da competição, despertar o interesse de equipes importantes. E aí,o São Paulo o venderia. O fundamental é focar neste primeiro semestre na conquista do Campeonato Paulista. Vitória que traria tranquilidade ao clube que está tão pressionado. E que escapou do rebaixamento nos últimos três anos no Brasileiro.
O clube não conquista o Estadual há 13 anos. O torneio é o mais fácil do ano. Na Copa do Brasil e no Brasileiro, suas chances são remotas, diante da concorrência. Palmeiras, Santos e Corinthians têm a Libertadores para atrapalhá-los na fase decisiva da competição.
Lugano conseguiu convencer Cueva. O meia já havia ouvido argumentos parecidos de Gareca. O treinador peruano fez questão de conversar várias vezes com o meia. E insistiu que seguisse jogando no São Paulo, para chegar muito bem no Mundiial. Ser afastado e treinar à parte, como poderia acontecer, seria muito pior ao jogador. Perderia ritmo, competitividade.
Por isso, Cueva decidiu mudar. Assumir sua liderança técnica no limitado elenco são paulino. E por isso mostrou tanto empenho contra o Botafogo, para felicidade de Dorival, que fez questão de jantar com seu jogador, para selar de vez, a paz.
Enquanto isso, Raí, Ricardo Rocha comemoravam o acerto da postura de Lugano.
O uruguaio foi o personagem principal no resgate do meia.
Pelo menos até que vá se incorporar à Seleção Peruana para a disputa da Copa.
O empenho de Cueva está garantido.
Lugano cumpriu, com méritos, sua primeira missão no São Paulo...