Lucas Lima, custo R$ 60 milhões. Depois de longos cinco anos de frustração, termina um dos maiores erros da história do Palmeiras
Decepção absoluta. R$ 1,1 milhão por mês, em média. Meia não suportou a pressão da cobrança. Contrato de cinco anos 'amarrou' o clube a uma dívida de R$ 60 milhões. Palmeiras está 'livre' de Lucas Lima
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Ou o contrato é de cinco anos.
"Ou vamos procurar outro clube."
Foi dessa maneira direta, sem rodeios, que o então presidente Mauricio Galiotte teve de decidir. Seu executivo na época, Alexandre Mattos, havia conseguido a prioridade para o Palmeiras na contratação do jogador mais cobiçado no Brasil em 2017.
A decisão coube a Galiotte. E ele cedeu a Neymar pai, que fez o papel de empresário do meia. Houve festa na direção palmeirense quando o "pacote Lucas Lima" foi fechado.
Salário de R$ 600 mil, em 2018. R$ 650 mil, em 2019. R$ 700 mil, em 2020. R$ 750 mil, em 2021. R$ 800 mil, em 2022. Mais R$ 15 mil por partida em que entrasse em campo pelo Palmeiras, independentemente se como titular ou reserva.
Havia mais dinheiro: R$ 15 milhões em luvas, divididas em parcelas de R$ 250 mil.
Neymar pai e Alexandre Mattos tinham certeza de que Lucas Lima iria jogar na Europa e renderia muito dinheiro ao Palmeiras.
E estipularam sua multa rescisória em 20 milhões de euros, atuais R$ 111 milhões, até junho de 2019. A partir do final da janela europeia daquele ano, a multa cairia para 8 milhões de euros, atuais R$ 44,9 milhões.
Foi uma negociação que envolveu cerca de R$ 70 milhões para o jogador. Neymar pai ficou muito satisfeito. Na época, havia envolvimento familiar, já que o meia era namorado de sua filha. O empresário também buscaria um clube na Europa para o jogador. Bastaria mostrar o mesmo futebol que demonstrou no Santos, com a camisa do Palmeiras.
A cláusula de rescisão, caso o clube quisesse dispensar o meia, era simples e dura. Bastaria pagar os salários e o total das luvas que estivessem faltando.
O que parecia ser o grande negócio do fim de 2017 foi uma grande armadilha para o Palmeiras.
Porque Lucas Lima não foi nem sombra do que todos esperavam.
Ele se mostrou um jogador lento, facilmente anulado pelos times rivais, sem intensidade na criação e na recomposição, sem vibração. A pressão de ter o valor que recebia revelado tornou os torcedores exigentes, impacientes. A imprensa cobrava a cada partida o desempenho excelente dos seus últimos tempos de Santos.
Com a grande diferença de que, na Vila Belmiro, os esquemas o favoreciam. Ele jogava quase como um meia dos anos 70, mais parado nas intermediárias, esperando a bola chegar ao seu pé. Para fazer lançamentos ou tentar tabelas, dribles, arrancadas. Era privilegiado taticamente. O que nunca aconteceu no Palmeiras, que também tinha outras estrelas.
Foi o jogador errado para o clube errado.
A reação de Lucas Lima, diante de tantas críticas, foi se encolher. Ele tinha certeza de que seria idolatrado no Palmeiras. E depois iria para um gigante da Europa. Além de disputar a Copa de 2018, sonhando que bastaria o primeiro semestre para Tite se convencer de sua importância.
Nada deu certo.
Lucas Lima passou a ser encarado como um grande erro, despedício de dinheiro.
Treinadores das mais diferentes filosofias tentaram encaixá-lo no time.
Roger Machado, Felipão, Mano Menezes, Vanderlei Luxemburgo e mesmo Abel Ferreira fracassaram.
Na meia esquerda, na ponta esquerda, na ponta direita, como segundo volante. Na lateral esquerda. Nada. A resposta foi pífia, fraquíssima.
A torcida se cansou e passou a perseguir o jogador. Irritadiço, ele se isolou dos companheiros. Vivia tenso no Palmeiras.
Os técnicos viam o esforço de Lucas Lima, mas não negavam que o contrato longo, e extremamente lucrativo, o deixava mais seguro, mesmo na reserva.
Até que o clube, no ano passado, tentou uma rescisão amigável. Só que Lucas Lima não quis. Seu contrato era muito lucrativo. Não ganharia o mesmo dinheiro em lugar algum. O Palmeiras não conseguiu vendê-lo por falta de equipes interessadas.
E foi emprestado ao Fortaleza em agosto de 2021. Não se firmou como titular, mas teve sua utilidade, sem tanta pressão. Teve seu empréstimo renovado em janeiro deste ano até 31 de dezembro, quando acaba seu vínculo com o Palmeiras.
Daqui a três dias, o jogador de 32 anos estará livre para atuar onde o quiserem.
As propostas já começam a surgir.
A do Goiás é a primeira.
Indicado por Guto Ferreira.
O Santos não o quer de volta. Conselheiros o acusam de ter "traído" o clube ao ir para o Palmeiras, de graça, sem sequer dar a chance de o clube renovar com ele.
A contratação de Lucas Lima pesou nas costas de Alexandre Mattos. E se tornou um fator que foi repetido por membros do Conselho Deliberativo para sua demissão.
O ex-presidente Mauricio Galiotte também foi muito cobrado pelo "erro" que empenhou mais de R$ 60 milhões do Palmeiras.
Lucas Lima está milionário.
Tem dinheiro para o resto de sua vida, se souber administrá-lo.
Graças aos piores cinco anos da carreira.
Contradição na vida de um jogador da elite do futebol brasileiro.
Lição para os clubes na avaliação dos atletas que buscam no mercado.
Principalmente em relação ao tempo de contrato.
É preciso ter força para escapar das exigências de um empresário.
Como o Palmeiras não teve diante de Neymar pai.
No site especializado em transferências, Lucas Lima é avaliado em 1 milhão de euros, cerca de R$ 5,5 milhões.
Vinte vezes menos do que quando chegou ao Palmeiras...
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