Loucura, ganância, ousadia? O Flamengo fez o Brasil se dobrar
Landim enfrentou a lógica. E, no auge do coronavírus no país, o presidente do Flamengo faz o país voltar a jogar futebol. Com Bolsonaro como testemunha
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Rodolfo Landim não foi à toa para Brasília.
Não era por acaso que ele era o único presidente de clube, ontem, convidado para a posse do novo ministro das Comunicações, Fábio Faria.
O presidente Jair Bolsonaro fez questão de cumprimentar, comemorar pessoalmente, a vitória de Landim.
Ele cumprira o prometido.
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O mandatário do Flamengo conseguiu a volta do futebol.
Na marra.
Se seu time estará hoje no Maracanã, às 21 horas, enfrentando o Bangu, em pleno auge da pandemia do coronavírus, é porque ele usou toda a força do clube mais popular do Brasil.
Pouco importa se, no complexo do estádio, há um hospital de campanha lotado de pacientes infectados.
Enfrentou a opinião pública, a imprensa esportiva, os outros grandes clubes do Rio de Janeiro e até a desconfiança dos próprios jogadores.
Não se intimidou com a morte de Jorginho, massagista do clube há 40 anos, por conta do coronavírus, em um hospital público na Ilha do Governador.
Nem com os 38 casos positivos detectados no clube.
Sendo nove de jogadores.
"Desde que o futebol parou, o Flamengo se planeja para voltar.
"Conversamos com vários clubes europeus e montamos um protocolo para o retorno dos nossos jogadores.
“Sobre ser correto voltar... o protocolo está sendo feito, com testes.
"Nosso protocolo foi abraçado pela CBF e Conmebol.
"Somos referência, podemos nos orgulhar", disse Landim, enfrentando questionamentos duros de Casagrande e de Mauricio Noriega, no programa Bem, Amigos.
O Flamengo fez 296 testes. Seguiu o protocolo médico usado pelos clubes alemães.
E, sozinho, voltou aos treinamentos no dia 20 de maio.
Mesmo quando era proibido.
Clubes importantes, como os paulistas, só estão liberados a voltarem a treinar no dia 1º de julho.
Landim tratou de cooptar o presidente da Ferj, Rubens Lopes. Foi mais firme que o radical dirigente da Federação Carioca.
Estrategista, usou a necessidade dos pequenos e também do Vasco da Gama. E isolou Fluminense e Botafogo, contrários à volta. Em uma democracia, os dois grandes são minorias.
E para não tumultuar o Carioca de 2020, com briga na justiça, o presidente do Flamengo apoiou a ideia dos rivais voltarem a jogar apenas em julho. E é o que deverá acontecer, em um ajuste na tabela.
Em plena pandemia, Landim renovou o contrato de Jorge Jesus até junho de 2021. E seguiram ainda mais fortes no planejamento de o clube assumir a hegemonia no futebol do Brasil. E da América Latina.
Mesmo com o coronavírus, nenhum elenco desta parte do continente treinou tanto como o Flamengo.
E sempre contou com o apoio de Bolsonaro neste retorno.
O presidente da República deixou muito claro que o Flamengo faria o que seu governo precisava. De otimismo, alívio, diversão durante a crise na saúde e na economia, com a pandemia.
Landim logo conseguiu o prefeito Marcelo Crivella também como aliado. Ele costurou essa parceria, para a liberação do futebol, com o presidente da Ferj.
Até o inimigo político de Bolsonaro, o governador Wilson Witzel, também cedeu. Ele precisava do futebol para aliviar as tensões no Rio de Janeiro. E como se apresenta como 'flamenguista fanático', tratou de dar seu aval para a volta do Carioca.
Obstinado, Landim tem outras intenções com esse retorno forçado que conseguiu. Ele busca patrocinador master para a camisa, com a saída do banco virtual BS2, dia 30 de junho. Ficou também sem o Azeite Royal.
Negociou com a Amazon e com as Casas Americanas. Não conseguiu fechar ainda, com nenhuma empresa.
O Flamengo tem a maior folha salarial do país.
Está perto dos R$ 18 milhões.
Jorge Jesus recebe R$ 1,5 milhão. Dezesseis jogadores ganham mais de R$ 500 mil. Quatro mais de R$ 1 milhão.
Landim imaginava que o Flamengo faturaria este ano mais de R$ 1 bilhão.
Mas o coronavírus já tirou pelo menos R$ 200 milhões desta projeção.
O clube reduziu, durante a pandemia, os salários em 25%.
Mas mesmo assim gasta muito dinheiro com os atletas.
A diretoria quer conquistar o pouco representativo Carioca, pela premiação, R$ 7,9 milhões. O título também vale bônus da Adidas e, como último ato, do B2S.
Ele ainda acredita em um acerto com a Globo para os últimos jogos.
Campeão da Taça Guanabara, esperta denominação para o primeiro turno estadual, e com o melhor time disparado, a chance de disputar a final, ou ser bicampeão direto, é enorme.
Seria desmoralizante para a Globo, dona do direito de transmissão do evento, não mostrar seu desfecho. Não houve ainda acordo com o Flamengo, que se recusou a receber os mesmos R$ 18 milhões que Botafogo, Fluminense e Botafogo.
Seria uma conquista histórica, pela pandemia.
Landim também quer expor seus jogadores para o futebol europeu, cujas transações já começaram para a janela de verão. O Flamengo não tem jogador inegociável. Gerson é o mais cobiçado do elenco.
Mas quando os times entrarem para o Maracanã vazio, sem público, por conta da pandemia, mas com a promessa de Bolsonaro nas tribunas, o presidente do Flamengo terá motivo de sobra para sorrir.
Ele sabe que conseguiu a batalha mais difícil de sua trajetória. Tirar o grupo de Bandeira de Mello do poder na Gávea não chega perto. Até mesmo o terrível incêndio no Ninho do Urubu, no início de sua gestão, com os dez meninos morrendo em um dormitório criminosamente improvisado.
Landim fez com que o futebol no Brasil voltasse na marra.
A partir do jogo de hoje, os outros Estaduais serão acelerados.
A CBF já se movimenta para a melhor maneira da disputa da Copa do Brasil e do Brasileiro.
Loucura, irresponsabilidade, ousadia.
Os termos para qualificar o jogo não interessa.
Mas foi da maior demonstração de poder de um clube brasileiro.
Na terrível pandemia da gripe espanhola, entre 1918 e 1919, o futebol parou. No final de 18.
Mas voltou como um todo no país.
Desta vez, o futebol também teve de ser paralisado, se dobrar ao isolamento social, por conta de outra pandemia.
Mas, por necessidade, por planejamento, hegemonia, o motivo que for, o Flamengo se impôs
Na marra.
Com a força da sua camisa rubro-negra.
Graças à torcida maior do país.
Pelo bem, ou pelo mal, não há dúvida.
Rodolfo Landim entrará para a história.
No auge da pandemia, o futebol está de volta...
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