Invicto, expulso, tem o Cruzeiro, com dívida de R$ 1 bilhão, nas mãos. Aos 69 anos, Luxa renasce na Segunda Divisão
São cinco empates e quatro vitórias na Segunda Divisão, com o Cruzeiro. Está a 11 pontos dos quatro que se classificarão à Série A. Empatou ontem com o Operário e foi expulso. Encontrou seu lugar no futebol atual
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Era a nona partida sem derrota.
Mas poderia ser a quinta vitória e não o quinto empate.
Só que Marco Antônio tocou o braço direito na bola, antes de a ajeitar para Moreno marcar o gol, que seria anulado aos 52 minutos do segundo tempo.
E o Cruzeiro apenas empatou com o Operário, na Arena do Jacaré, em 1 a 1, em Belo Horizonte.
Ele ficou histérico, revoltado, andando de um lado para o outro. Reclamando, cobrando o árbitro Rodrigo Dalonso Ferreira. Até receber o cartão vermelho, expulso.
Aos 69 anos, Vanderlei Luxemburgo renasceu no Cruzeiro.
A idade não o modificou. Segue um grande motivador de time, sem novidades táticas, busca na compactação, na vibração, na luta do seu elenco limitado, uma arrancada para a volta do time bicampeão da Libertadores à Série A, de onde foi expurgado, rebaixado em 2019.
Seu time é o 12º colocado, com 30 pontos, a 11 distante do quarto colocado. Lembrando que apenas os quatro primeiros sobem para a Série A.
Luxemburgo ao menos recuperou a esperança do então abatido clube.
A dívida de mais de R$ 1 bilhão faz o Cruzeiro viver sua maior crise da história. Com dezenas de processos e ex-dirigentes investigados por corrupção.
Vanderlei sabe de tudo isso quanto assumiu. Assinou contrato até dezembro de 2022.
Na seu planejamento, o Cruzeiro sobe para Série A este ano e ele comandará a equipe na Primeira Divisão no próximo ano.
Será a oportunidade para voltar à elite do futebol brasileiro. Porque desde que rebaixou o Vasco da Gama no Brasileiro de 2020, ele foi largado no limbo. Sem convites para trabalhar na Série A. O próprio Vasco, rebaixado, não quis continuar com ele como treinador, apesar de haver treinado o time 'de graça'. Esperava firmar contrato mas foi sumariamente dispensado.
Ele ficou desempregado até os Brasileiros da Série A e Série B começarem. Ele assumiu o clube mineiro na 18ª colocação, no lugar de Mozart.
Luxemburgo só assumiu porque teve a garantia que irá receber seu salário em dia.
Levou para a Toca da Raposa o tetracampeão Ricardo Rocha, como diretor técnico. Na verdade, elo entre a Comissão Técnica e os jogadores.
O Cruzeiro perdeu a apatia com Luxemburgo.
Tem lutado muito para tentar tirar a diferença dos quatro primeiros colocados. O clube já disputou 24 das 38 rodadas. Ou seja, restam 14 rodadas para definir o futuro do Cruzeiro.
Com o veterano treinador no comando, de 27 pontos disputados, conquistou 17.
A situção não é nada fácil. Pelo contrário, as chances de volta à Série A são pequenas.
Ainda mais o time desperdiçando dois pontos como o de ontem.
Suas explicações são mais desabafo.
Por haver sido expulso,seu time ter jogado mal. E, repassando a culpa pelo empate, ao árbitro.
"Foi um jogo totalmente complicado. Começou com o quarto árbitro, onde eu só falei para ele que o jogador do Operário estava há menos de sete metros no escanteio, a bola até bate nele, no primeiro escanteio que tivemos e ele já veio falar comigo com o dedo em riste. 'Você já vai começar a perturbar?'.
"E eu falei 'não, eu estou falando para você que o jogador do Operário está avançado'. Ele me disse 'você vai começar a tumultuar o jogo?'. 'Não, eu só estou te avisando que o jogador está atrapalhando e me prejudicando'. Então ele veio e colocou o dedo na minha cara. Nem ele e nem ninguém pode fazer um negócio desses. Tem que ter respeito. Então ele coloca o dedo na minha cara, tanto é que eu fui falar com o árbitro sobre isso daí, o árbitro falou que ia falar com ele (o quarto juiz)."
Luxemburgo segue o mesmo roteiro de sua carreira.
Nos resultados negativos, como o de ontem, sempre há um culpado.
E nunca é ele.
Agora, Luxemburgo tem trabalhado muito, administrado os treinos.
O carioca de 69 anos sabe.
Ou emplaca um bom serviço na Toca da Raposa ou seguirá distante dos clubes grandes. Ele tem a plena consciência que pode estar no seu último trabalho.
Daí a revolta com a arbitragem e a expulsão após o gol anulado.
Ele tem o grupo nas mãos.
Utilizou a velha tática de exigir salários em dia dos atletas.
E divulgar pela imprensa, lógico.
Os contagiou com o discurso motivador que aprendeu no livro Inteligência Emocional.
Luxemburgo se reencontrou importante, respeitado, e com um trabalho significativo.
E tem se mostrado um bom técnico da Segunda Divisão.
Situação constrangedora para quem já comandou a Seleção Brasileira e o Real Madrid, por exemplo.
Mas as coisas são como são.
Se ele não conseguir fazer o Cruzeiro subir este ano, pelo menos tem a certeza de mais um ano na Série B em 2022.
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