Humilhante derrrota de Cormier. Miocic estragou o seu adeus
O campeão dos pesados do UFC havia preparado uma despedida teatral. Mas pagou caro por desprezar o rival. Perdeu o cinturão. E deverá adiar o fim da carreira
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Não lutarei após os 40 anos.
"Serei um campeão orgulhoso."
Essa foi a promessa de Daniel Cormier em 2017.
Foi feita não só ao público, mas a quem mais teme fora e dentro dos octógonos. A Salina Deleon, sua mulher.
Cormier sempre usa a esposa para anunciar suas decisões no UFC. Foi assim que decidiu não mais enfrentar Jon Jones, quando a sua segunda derrota diante dele, que o fez chorar, foi anulada por doping do rival.
"Salina não quer mais que eu lute com ele", disse em 2018,.
DC, como gosta de ser chamado, virou um campeão dos pesos pesados funcionário padrão do UFC. Comentarista, repórter, garoto-propaganda. Viaja o mundo representando evento.
Com a ajuda de Salina, Cormier havia planejado o que faria nesta madrugada de domingo. Venceria novamente Stipe Miocic na revanche pelo título mundial dos pesados.
Colocaria as luvas no octógono em Anaheim, na Califórnia, choraria.
E encerraria a carreira, de posse do cinturão, como havia prometido. Afinal, ele tem 40 anos. Entraria no Hall da Fama e seguiria representando o UFC.
Não cairia na tentação de lutar no Bellator, lugar aprazível dos veteranos, dos aposentados.
E também fugiria de um novo combate com Jon Jones.
Não precisava.
Está milionário.
Desde 2015, quando ganhou o cinturão dos meio-pesados de Anthony Johnson, suas bolsas por luta saltaram de 100 mil dólares, R$ 400 mil. Para 1 milhão de dólares, cerca de R$ 4 milhões.
Fora patrocínios e o trabalho no UFC.
Ele foi também campeão do Strikeforce e do XMMA.
O patrimônio passa dos 10 milhões de dólares, R$ 40 milhões.
Estava tudo certo.
Só faltou combinar com Miocic.
O americano de origem croata não quis cumprir seu papel de coadjuvante da última luta de Cormier.
Ainda mais valendo o cinturão que foi tomado de maneira impressionantemente fácil no combate entre os dois, em Nova York, em novembro de 2018. Não teve como evitar a luta olímpica de Daniel, que o desnorteou, o fez tomar diretos e cruzados, até padecer em um impactante mata-leão.
A derrota o ensinou.
Ele tinha de fazer o óbvio, usar sua maior estatura. 1m93 contra o atarracado Cormier e seus 1m78. Envergadura de 2m03 contra 1m80.
Não o rival encurtar para que sua maior estrutura muscular o massacrasse, depois de jogá-lo no chão do octógono, com um festival de socos, estratégia consagrada por Cormier.
DC não se preparou à altura para o último combate.
Não se ateve à espartana dieta para tentar travar sua firme tendência a engordar. As viagens com o UFC foram exageradas. Assim como os jantares com Salina e os dois filhos.
Suas entrevistas mostravam que estava descontraído demais, acreditando que seria apenas uma festa de despedida.
Era o favorito nas casas de apostas.
A venda de pay-per-view foi boa, não excelente, pela crença geral em uma vitória antecipada de Cormier.
E a vida parecia seguir o roteiro.
No primeiro round, o campeão dos pesados fez o que quis com Miocic. Até o levantou, como um saco de batatas, acima da cabeça.
Mas não havia o brilho destruidor nas pupilas.
Hesitou, foi até cordial ao jogá-lo no chão.
Foi como se quisesse arrastar sua última luta, não queria que terminasse logo. E pela maneira que muitos acreditam ser eficiente, mas emocionante, por finalização.
Desejou a trocação.
Um nocaute épico.
Tudo o que conseguiu foi favorecer o rival.
Se acertou bom jabs, cruzados e diretos, também tomou.
O ex-campeão tem socos potentes, ótimo poder de absorção e excelente preparo físico.
A movimentação foi intensa.
A ponto de no terceiro assalto, os dois ficarem parados, só trocando socos.
Um espetáculo selvagem.
E cansativo.
O quarto assalto mostrou o quanto Cormier iria se arrepender.
Miocic começou a fustigar, de maneira estudada, os golpes com toda a potência no lado direito do campeão.
O alvo era o fígado.
Cormier não tinha movimentação para se defender.
Virou um alvo fixo.
Seu rosto assustado mostrava que suas forças se esvaiam.
Até que tomou um fortíssimo direto que o fez desabar.
E o ex-campeão mostrou toda a raiva por ter tido seu cinturão tomado.
Massacrou o entregue Cormier com uma saraivada de socos.
Herb Dean foi obrigado a encerrar a luta.
Nocaute técnico aos quatro minutos e nove segundos.
Constrangido com a inesperada derrota, Cormier não teve outra saída.
Adiou a despedida teatral que havia preparado.
Iria consultar Salina.
Pedir permissão para romper sua palavra.
E lutar por uma última vez.
Completar a trilogia com Miocic.
Combate que valeria cerca de 2 milhões de dólares, cerca de R$ 8 milhões, para o seu bolso.
Não é o que ele queria.
Mas o que tem a fazer.
Se tivesse se preparado melhor, tinha tudo para vencer o combate.
Mas menosprezou seu bom adversário.
E pagou caro
Se quiser ficar na memória dos fãs, como tanto sonha, Cormier fará mais esse combate.
Já foi perdoado pelas derrotas diante de Jon Jones.
Mas sair envergonhado, como ontem, ficaria péssimo.
Não honraria sua vida nas lutas marciais.
Que Salina não se atreva a impedir o último combate...
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