São Paulo, Brasil
Foram duas consultas rápidas.
A ordem do presidente Mauricio Galiotte.
Ele quis saber no fim de 2020 quanto Hulk queria para jogar no Palmeiras.
Simples, direto.
Recebeu como resposta R$ 2 milhões mensais. Tentou ponderar que a pandemia havia diminuído significativamente as receitas e que não poderia pagar esse salário. O desejo era chegar a R$ 900 mil. Hulk chegou a R$ 1,5 milhão.
De nada adiantou a profunda amizade com o coordenador de base, Bruno Pereira, e o jogador. Muito menos o jogador ser palmeirense desde a mais tenra idade, na Paraíba.
As negociações se encerraram.
Galiotte se recusou a fechar um contrato de três anos com um jogador de 34 anos, pagando R$ 1,5 milhão.
Em janeiro, Hulk acertou com o Atlético Mineiro.
Em fevereiro, uma situação parecida. Um jogador midiático mundialmente se insinua para o Palmeiras. Quando criança, em Sergipe, ele também era palmeirense. E, como Hulk, teve sua carreira firmada no exterior: Diego Costa, ex-atacante da seleção espanhola.
Houve também euforia nos bastidores do clube. Mas Mauricio Galiotte outra vez havia avisado seus colegas de diretoria, conselheiros mais próximos, e deixado claro a Abel Ferreira. Ele estava no último ano de mandato e não comprometeria o Palmeiras com contratos caríssimos e longos com jogadores veteranos.
A pedida do atacante foi direta: R$ 2 milhões por um contrato de três anos.
A resposta de Galiotte acabou sendo também firme. A negociação estava "morta" no início.
Diego Costa não se mobilizou para tentar reverter a situação.
Não precisou.
O Atlético Mineiro usou o dinheiro do bilionário mecenas Rubens Menin, e fez como com Hulk. Contrato fechado por R$ 1,5 milhão por mês. Compromisso de três anos.
Conselheiros contrários a Galiotte, como Luiz Gonzaga Belluzzo, criticaram abertamente a postura do dirigente, já que o Palmeiras seguiu a temporada inteira sem um grande artilheiro, como desejava Abel Ferreira. E teve dois nas mãos.
E conselheiros da situação desabafavam em off, em sigilo, pelo excesso de zelo do presidente.
Galiotte respirou aliviado com a conquista do bicampeonato da Libertadores da América, sem os dois.
Mas o fracasso das duas negociações está sendo lembrado agora, quando o Atlético Mineiro tem mais do que encaminhado o bicampeonato brasileiro.
Se o clube tem tudo para ganhar o título nacional, depois de 50 anos, é por contribuição direta de Hulk e de Diego Costa. Os dois tiveram desempenho decisivo na equipe de Cuca.
Hulk é o artilheiro do Brasileiro, com 17 gols e sete assistências. Participação em 24 gols. Diego Costa tem quatro gols e uma assistência. Parcipação em cinco gols. Ou seja, dos 57 gols, 29 nasceram da dupla. E mais, ambos modificaram a maneira de o Atlético Mineiro jogar.
"Com os dois em campo, houve muito mais espaço na grande área adversária para os nossos meias, volantes, zagueiro e laterais. Foram fundamentais na nossa campanha", já elogiou Cuca.
Ou seja, no título brasileiro que o Atlético Mineiro conquistará, talvez até hoje, se vencer o Bahia, há uma participação imensa do Palmeiras.
Involuntária, mas decisiva.
Ninguém na diretoria do clube paulista tem coragem de cobrar abertamente Galiotte. O dirigente tem a personalidade forte e não admite cobranças. Ainda mais públicas.
E não admite erros.
Mas há uma sensação de desperdício no Palestra Itália.
A de que o clube poderia ter ido mais longe.
No Brasileiro, na Copa do Brasil, no Palmeiras.
Virou as costas a dois grandes jogadores, por dinheiro que possuía.
E Galiotte deixa como herança para Leila Pereira a obrigação de buscar ao menos um artilheiro exatamente com o potencial da dupla que não quis.
Melhor para o Clube Atlético Mineiro.
Não há o menor arrependimento pelos altos salários pagos a Hulk e Diego Costa.
Quanto vale a conquista do Brasileiro, depois de 50 anos?
De Maradona a Ronaldinho: veja craques que foram à falência